O BOM LADRÃO - capítulo VI
Depois de saborearem o prato principal, os empregados trouxeram a atração da noite, o gigantesco bolo de sete andares da sra. Charllote e o puseram próxmo a ela, em sequência, cantaram os parabéns e Charllote assoprou as velas, ao passo que o fotógrafo registrava cada momento e o ladrão ia recolhendo os talheres.
- Bem, hoje é um dia muito especial para mim e estou muito feliz com a presença de todos vocês! Mas, somente alguém tão belo e cavalheiro será hoje dígno desse primeiro pedaço de bolo... Querido Amadeu.
Falou Charllote, entregando amorosamente o prato com o primeiro pedaço de bolo para o ladrão, que foi pego de surpresa e agradeceu. Aproveitaram para tirar uma foto juntos e, atrevidamente, Charllote deslizou a mão nas costas do ladrão e sussurrou em seu ouvido:
- Quero falar com você no final da festa.
- Tudo bem.
A foto foi tirada e Charllote pediu para o empregado servir o bolo aos outros convidados, e comeram e beberam e se fartaram. No fim de tudo, quando os convidados iam embora, o policial passou pela porta, mas o ladrão foi abordado pela sra. Charllote, que disse:
- Você me parece ser um homem maravilhoso... Mas, acredito que há muitas outras coisas que posso descobrir em você. Que me diz de um jantar aqui em minha casa, só eu... E você?
- Bom... Está bem, hehe.
Ele se despediu de Charllote com um beijo no rosto e foi para o carro, onde o policial já o aguardava.
- O que ela queria?
- Me convidar para um jantar, à sós.
- Hummm... Com quem será, com quem será, com quem será que Tadeu vai se casar?
- Vai depender, vai depender, vai depender se antes disso não me prender.
Chegaram na casa do policial e o ladrão estava exausto e pensou em se jogar no sofá, e quando fez isso, vários objetos caíram de seus bolsos e se espalharam pelo chão, foi aí que Wilson o fitou com indignação e perguntou:
- O que significa tudo isso?
- Bom... Ah, não! Acho que vesti o terno errado.
- Escute aqui, seu malandréu, não tô afim de perder meu tempo com um infeliz que não tá nem aí pra uma vida honesta! Ou você leva isso a sério, ou vou inaugurar agora minha metralhadora.
- Calma aí, chefinho, não precisa se alterar.
- Olhe tudo isso, você continua roubando! Até quando, Tadeu? Até quando?
- Não vai mais se repetir, chefinho, prometo que amanhã eu devolverei tudo à Charllote.
- É bom mesmo. Ah, revendo a lista da psicóloga, o próximo passo será aprender a economizar, e o armário já está quase vazio, amanhã a gente vai fazer compras.
- Compras, chefinho?
- Positivo. Sei que isso parece estranho pra você, "então as pessoas compram as coisas de que precisam?", pois é, e vamos ver como você se sai nisso.
No dia seguinte, no supermercado, o policial entregou o carrinho de compras para o ladrão e disse:
- Você tem trezentos reais para comprar tudo o que precisamos, alimentos, produtos de limpeza e higiene, enfim. Nada de ultrapassar o limite e comprar coisas desnecessárias e muito caras.
- Pode deixar comigo, chefinho.
O policial ficou no caixa e deixou que o ladrão fizesse as compras. Ele começou pelas prateleiras dos enlatados, foi pegando os mais baratos, porém, não se contentava.
- É melhor pegar mais umas duas... Mas isso vai sair caro.
Pensou em pegar a lata de ervilha e enfiar no bolso do interior do casaco, foi quando se deu conta de que haviam câmeras nos quatro cantos do supermercado e desistiu da ideia. Passou para a parte dos utencílios pessoais, passeou os olhos nos frascos de desodorantes, mas foi outra coisa que atraiu seu olhar, um shampoo anti-calvice e fios brancos de mais de trinta contos, mas lembrou-se do que disse Wilson "nada de pegar coisas desnecessárias", ele não era calvo, tampouco Wilson, e amava seus cabelos grisalhos, então aquilo não era necessário. Então acabou escolhendo um shampoo para caspas, esse sim era necessário e ainda economizou vinte reais!
- Vamos ver o que falta roubar, digo, comprar... Quatro pacotes de papel higiênico, confere; café solúvel, confere; sabonete da turma da mônica? Ah, sim, confere...
Enquanto isso, no caixa, Wilson observava o movimento no supermercado e aguardava Tadeu com as compras, quando se aproximou um homem e disse:
- Isso é um assalto!
Imediatamente Wilson retirou a arma da cintura e apontando-a para o homem, falou:
- O quê? Vai, coloca a arma no chão! Vai, vai!
- Hã?
- Você disse que é um assalto!?
- Sim, veja, só essa lâmina de barbear custa R$ 2,80. É um roubo!
Wilson abaixou a arma e viu Tadeu voltar com o carrinho apenas com cinco itens da lista de compras e perguntou:
- O que aconteceu, Tadeu, o carrinho está vazio!?
- Acho que economizei demais. Ah, chefinho, essa coisa de "compras" não é pra mim. Como vou saber quantos quilos de arroz vamos comer num mês e quantos palitos de fósforos riscaremos num dia? É impossível!
- Humm... Você não precisa saber exatamente quanto vamos gastar, é só ter uma média. Me diz: quantos banhos você toma por dia?
- Três.
- E quantos sabonetes você gasta em três banhos?
- Nenhum.
- Não, isso dá certo... Já sei, me diga: quantas colheres de açucar você coloca no café?
- Eu não bebo café.
- Humm... Está bem, quantas colheres de açucar você põe no refresco?
- Não gosto do açucar, prefiro adoçante.
- Então, quantas gotas de adoçante você põe no refresco?
- No refresco não, no café.
- Mas, você disse que não bebe café.
- Não com açucar.
- Quer saber? Deixa isso pra lá e me diz: o que foi que você pegou aí?
- Dois quilos de café e três de açucar.
- ...
Continua...