O BOM LADRÃO - capítulo V
Magnetizado pela beleza da primeora dama, Wilson ajeitou o fardamento e disse para seu companheiro Tadeu:
- Vamos lá falar com ela.
Eles se direcionaram até a primeira dama e ela levantou-se da poltrona para ouvi-los e mostrar-se sedutora, em proveito da distração do prefeito com os demais amigos.
- Policial Wilson...
- Admirada primeira dama, cada dia mais esbelta.
- Apresente-me seu amigo.
- Ah, este é Amadeu Barcellos.
O ladrão tomou a vez e corrigiu:
- Marques.
- Amadeu Barcellos Marques.
Disse o policial para a dama e o ladrão a cumprimentou com um beijo na mão, aproveitando para analisar mais de perto a jóia em seu dedo e roubando-a, guardou dentro do bolso, mas a primeira dama nem sequer percebeu. Após isso, ele disse em rebuçamento:
- Se me dão licença, vou ali tomar um pouco de vinho.
- Toda.
Wilson falou, e tendo o ladrão se afastado, a primeira dama puxou o policial para perto de si e mordeu os lábios, ao passo que ele se intimidava e dizia:
- Bela dama, seu marido está bem ali, é perigoso...
- Pensei que você fosse um homem valente.
- E eu sou. Mas não quero meter a primeira dama em confusão por minha causa.
- É mesmo um molenga, como todos os outros!
- Todos os outros? Que outros?
- Isso não vem ao caso.
Ela deu de ombros, jogando de lado um olhar provocante e foi para junto de seu marido. Wilson então foi à procura de Tadeu na cozinha e pegou-o no flagra, a roubar doces.
- Eu não acredito nisso. Até doces você rouba!?
- Chefinho! É que esse jantar está demorando demais pra sair.
- Também acho, mas, vamos voltar pra sala, antes que deem por nossa falta.
Eles saíram da cozinha e foram arrastados para a sala de janta, porquanto a sra. Charllote convidara todos a se sentarem à mesa. Wilson logo escolheu a quarta cadeira do lado de lá da mesa e se sentou, o ladrão optou pela terceira, mas esta já fora ocupada, escolheu a terceira cadeira do outro lado, mas esta também foi ocupada, e só restavam duas cadeiras vagas da mesa de trinta cadeiras, uma lá no finalzinho e outra ao lado da cabeceira onde estava a sra. Charllote, enquanto na outra cabeceira ficava o amado gato de Charllote. O ladrão percebeu que havia um convidado de pé e que também procurava um acento, ambos se encararam e correram em competição até o fundão, mas quem conseguiu a cadeira foi o convidado e para o ladrão restou somente a cadeira lá da frente. Lembrando-se de tudo o que Borges lhe ensinara, Tadeu se mostrou muito educado e punha o guardanapo no colo. Enquanto esperava todos serem servidos, ele passeava os olhos em toda a sala de jantar e depois nos acessórios de cada convidado, começando do final da mesa até a frente e quando chegou na sra. Charllote, notou que ela o fitava constantemente e melhorava o decote do vestido para chamar sua atenção, e Tadeu somente sorria e afastava a mão da taça de cristal. Quando todos foram servidos, a sra. Charllote os convidou a começarem a comer, o ladrão atrevidamente pegou o talher do vizinho e guardou dentro do palitó, disfarçando e começando a comer. Ao notar que lhe faltava um talher, o convidado disse:
- Perdão, mas, me falta um talher aqui.
- Oh, me desculpe, dr. Estevan, deve ter sido uma distração de um empregado, mas pedirei que lhe tragam um talher.
Disse a sra. Charllote, e chamou o empregado e lhe cochichou no ouvido, este foi para a cozinha e voltou com um novo talher e colocou sobre a mesa, ao lado do convidado. Num instante, a sra. Charllote olhou com interesse para Tadeu e murmurou:
- Está gostando do jantar?
- Sim, muito.
De repente, Tadeu sentiu alguém deslizar o pé sobre sua perna e levantar um pouco a barra de sua calça, ele ficou um pouco assustado e quando ergueu o rosto viu que a sra. Charllote sorria com cinismo para ele. Sentada na quarta cadeira ao lado do prefeito e de frente ao policial Wilson, a primeira dama conversava com uma das convidadas:
- E ontem eu vivi um dia de rainha, e ainda ganhei esse maravilhoso anel do meu...
Ela viu que o anel não estava mais em seu dedo e desesperou-se...
- Meu anel! Roubaram meu anel de cinco mil dólares!
Nesse momento, o policial se punha de pé e com a arma em mãos falou:
- Ok, ninguém sai da sala sem antes ser revistado.
Ele começou a revistar um por um dos convidados, no que um senhor ralhou para o policial:
- Você não vai tocar na minha mulher!
- Sinto muito, meu senhor, mas qualquer um aqui pode ter roubado o anel.
À medida que o policial fazia a revista, o ladrão derrubou propositamente o talher no chão e abaixou-se para apanhar, retirou o anel roubado da primeira dama do bolso e escondeu no sapato, pegou no outro bolso um anel falso, também de pedra azul, e jogou debaixo da mesa, apanhou o talher e fingiu estar tudo bem. Depois de revistar quase todos os convidados, chegou a vez do policial revistar Tadeu.
- Espero que você não tenha nada a ver com isso.
Murmurou Wilson, e disse Tadeu:
- O quê? Longe de mim, chefinho!
Wilson verificou os bolsos do ladrão e encontrou a pulseira da sra. Charllote, no quando o ladrão expremeu os olhos e explicou:
- Eu vou devolver, juro.
- Tadeu, não me faça te prender aqui na frente de todo mundo. Você roubou o anel da primeira dama?
- Não, claro que não.
- Hhmm...
A próxima a ser investigada era a sra. Charllote, porém, Wilson disse:
- Não, isso não posso fazer.
- Vá, Wilson, me reviste! Eu também estou na casa e não sou diferente de nenhum de vocês.
- Está bem.
Ele a revistou e nada encontrou, e não faltando mais ninguém, o policial tratou de procurar pela sala e, olhando debaixo da mesa encontrou o anel, que na verdade era o falso, e gritou:
- Achei!
Tentou se erguer e bateu a cabeça na mesa, então a primeira dama tomou o anel dele e colocou em seu dedo, ouvindo de seu marido, o prefeito:
- Não sei porque você se preocupa tanto em perder esse anel, se tem uma dezena dele.
"Uma dezena? 10 x 5.000... Mama mía!" pensava o ladrão, a fazer cálculos.
Continua...