O BOM LADRÃO - capítulo IV
O consultor de etiqueta Alfredo Borges, recebeu o ladrão e o policial em um riquíssimo cenário, uma vasta mesa retangular com cadeiras para doze lugares, um lustre deslumbrante no alto da mesa e porcelanas luxuosas e delicadas, sem contar os talheres com detalhes dourados.
- Primeiro, verei como se sentas. Escolha um lugar.
Disse o consultor de etiqueta, e o ladrão, tão confiante, escolheu a cabeça da mesa, no que o consultor Borges o repreendeu:
- Péssima escolha! Somente o anfitrião ou a anfitriã sentam-se nas cabeceiras da mesa.
- E quem é esse tal de anfitrião?
O ladrão perguntou, afastando-se imediatamente daquela cadeira. E o consultor explicou:
- Quer dizer: os donos da casa. Então, você tem só dez cadeiras disponíveis.
O ladrão arrodeou a mesa e escolheu a terceira cadeira daquele lado e perguntou:
- Essa aqui pode?
- Sim. Agora sente-se.
Então, o ladrão arrastou a cadeira, suficientemente para o consultor ralhar:
- Não, você não deve arrastar a cadeira! Levante-a pouquíssimamente e afaste-a para trás o suficiente para que consiga sentar-se sem bater na borda da mesa.
- Que frescura.
- Não é frescura, são modos, educação, classe. Mantenha a postura...
O ladrão fez como lhe foi dito e se sentou. Em seguida, Borges falou:
- Enquanto não é servido, pegue o guardanapo e ponha no colo.
- Achei que fosse no colarinho.
- Nunca! Jamais!
- Ok, ok...
O ladrão pegou o guardanapo com bordas douradas sobre a mesa e em vez de colocá-lo entre as pernas, enfiou-o no bolso da calça, discretamente, e Borges prosseguiu com as orientações:
- Quando você for servido, o que faz?
- Como imediatamente.
- Errado! Você deve esperar que todos sejam servidos para que comecem a comer.
À medida que o consultor de etiquetas puxava a orelha do ladrão, o policial zombava no canto, até que lhe foi chamada a atenção...
- E você aí? Fica rindo, não é? Falta de educação. Mostre-se modesto e se sente também, mas, como orientei.
- Eu?
- Claro!
Sendo assim, Wilson se sentou educadamente ao lado de Tadeu e punha os braços na mesa, nisso, o consultor Borges advertiu:
- Mantenha os cotovelos fora da mesa, apenas seus punhos e mãos devem tocá-la.
Wilson afastou os cotovelos da mesa, enquanto Tadeu mantinha as mãos abaixadas, visto isso, Borges não demorou a dizer:
- Mãos sobre a mesa.
Tadeu punha rapidamente os punhos na borda da mesa e Wilson, fitando-o com discórdia, disse:
- Tadeu, coloca o garfo de volta na mesa.
Tadeu revirou os olhos e soprando um ar de chateação retirou o garfo do bolso e devolveu à mesa.
- A faca também.
Falou Wilson, e Tadeu devolveu também a faca. Borges disse ainda:
- Garfo na mão esquerda e faca na mão direita. Nunca falar com a boca cheia, o preferencial é falar curtamente. Vamos ver se entedeu... Tadeu, peça para que Wilson te passe a manteiga.
E Tadeu, ainda mastigando a comida, pediu:
- Chefinho Wilson, por favor, me passe essa manteiga que está aí.
- Não, não e não! Deve-se poupar palavras! Resuma-se!
- A manteiga, por favor.
- Perfeito. Ah, também evite fazer muitos ruídos ao mastigar a refeição e nada de levar o prato até a boca para beber a sopa, e lembre-se: para causar boa impressão, em vez de dizer "a taça está quase vazia" prefira dizer "a taça está quase cheia.
Saíram aliviados daquele lugar e voltaram para a casa de Wilson, só à espera da grande noite que estava por vir. Faltando quinze minutos para as oito horas da noite, eles vestiam seus ternos, na verdade, Wilson até tentou provar o terno, porém, não suportava esse tipo de peça de roupa e decidiu ir com seu uniforme de trabalho.
- O chefinho vai mesmo vestido de chefinho?
- Vou. Qual o problema?
- Pensei que fosse um jantar formal, de gente "chique".
- Eu me sinto chique assim.
- Hhmm...
- Ah, e tem mais uma coisa... Como lá só encontraremos pessoas importantes, é bom que você tenha nome de gente importante. Em vez de Tadeu, você vai se chamar Amadeu... Agora precisamos de um sobrenome.
- Cunha?
- Não, algo mais poderoso...
- Marques!?
- É, está bem, Amadeu Marques.
Os dois chegaram na mansão da sra. Charllote às 20:30 e se perderam em meio aos inúmeros convidados, era uma gente bem vestida e cheia de "frescuras" como dizia o ladrão, servindo-se do melhor vinho e conversando educadamente. O policial foi direto ao encontro da aniversariante, para cumprimentá-la e dar-lhe os parabéns.
- Sra. Charllote, divina! Nem parece que está completando mais um ano, sua aparência é tão jovial.
- Policial Wilson, quanta honra tê-lo aqui! Que gentileza de sua parte, grata. E quem é o seu companheiro?
- Esse? É... Amadeu Barcellos, um amigo meu.
O ladrão virou o ombro do policial e para esse murmurou:
- Não combinamos que eu me chamaria Amadeu Marques?
- Tanto faz!
- Tanto faz uma ova! Não pode sair por aí dizendo que sou Amadeu Barcellos quando penso ser Marques.
- Cale essa boca e cumprimente a sra... Eu diria senhorita Charllote.
O ladrão pegou a mão da dona e beijou, no quando ela o fitou com um olhar sedutor e sorriu com manha, nisso ele já havia lhe arrancado a pulseira de brilhantes do pulso e colocado no bolso.
- Oh, que modestio! Sinta-se em casa, Amadeu, docinho, logo o jantar será servido.
Ela foi falar com outros convidados e o policial disse a sorrir para o ladrão:
- Huuum... Acho que ela gostou de você.
- Hehe...
De repente, os olhos de todos voltaram-se para a entrada da casa, ia chegando dois convidados demasiados especias, o prefeito e a primeira dama. O policial Wilson não desgrudava os olhos dessa última e falou para o ladrão:
- Veja, é a primeira dama...
Ela cumprimentou o pessoal e se sentou na poltrona, cruzando sensualmente as pernas e deslizando a mão na coxa, no que disse o policial:
- Minha nossa... Não é mesmo uma belezinha, Tadeu?
- Realmente uma beleza! Uma raridade, um dos mais belos anéis que já vi.
Disse o ladrão, observando de longe o anel de uma grande pedra azul no dedo da primeira dama, e o policial falou:
- Estou falando das pernas.
- Ah, são bonitas, mas o anel me atrai mais.
Continua...