O BOM LADRÃO - capítulo III
O ladrão ia entrando no banheiro do museu, com o quadro nas mãos, e o policial Wilson ia saindo, interrompendo os planos do ladrão.
- Epa! O que é isso aí, Tadeu?
- Isso o quê?
- Pela mãe do guarda! Você pegou um quadro do museu?
- O quê? Não, longe de mim, chefinho!
- Então o que é isso, seu infeliz? Não vai dizer que é um quadro?
- Ah... Isso aqui? Bom... Puxa, o que isso está fazendo aqui? É melhor eu levar de volta ao lugar antes que pensem que fui eu quem roubou!
- Tadeu, eu posso até deixar passar dessa vez, mas se houver uma próxima, eu não penso duas vezes antes de te entregar, entendeu?
- Sim, chefinho.
- Agora leve logo esse quadro pra lá, antes que...
Ouviu-se um grito de um homem e outro saiu correndo empurrando as pessoas.
- Ali vai o ladrão do cartaz!
- Onde?
- Lá, policial Wilson!
O policial retirou a arma da cintura e saiu em disparada atrás do bandido, que já estava nas mãos do segurança.
- Peguei ele, Wilson.
- Olha só, se não é o famoso Don Trombadinha. Bota as mãos pra frente... vamos dar um passeio de viatura, hã?
Algemado ele foi e levado por Wilson para o carro da polícia, rumo à delegacia.
- Está vendo, chefinho? Eu fiz um bem danado retirando o quadro da parede e colocando o cartaz.
Disse Tadeu, e lá atrás o bandido comentou:
- Você conseguiu tirar o quadro tão fácil assim, enquanto eu fiz mil planos e me ferrei em todos!?
- Cala a boca!
Wilson ordenou, e eles chegaram na delegacia. O policial desceu do carro e tirou o bandido do banco de trás, mas Tadeu não saiu com eles.
- Você não vem?
- Não, chefinho, senão é capaz do chefão pensar que roubei outra vez e querer me prender.
- Você quem sabe.
O policial levou o bandido para dentro da delegacia e o delegado se admirou ao reconhecê-lo, tão idêntico ao retrato no cartaz da parede, e disse:
- Mas, ainda nem é meu aniversário! Por que o presente? Don Trombadinha, olha, olha, olha... Wilson, tu capturou o infeliz! Depois de tantas perseguições... Sete anos?
- Oito, chefe.
- Oito anos caçando esse miserável. Sentiu saudades de casa, Don Don? Vamos, vou te levar pessoalmente pra tua sela, tá do mesmo jeitinho que tu deixou quando abandonou a gente.
Enquanto isso, lá fora na viatura, o ladrão Tadeu aguardava pressuroso o policial, reinava no interior do carro, enfiando nos bolsos CDs, chaveiros, desodorante e tudo que encontrava por ali. Quando o policial voltou ao carro, o ladrão disfarçou de imediato e começou a assobiar com o rosto virado para o outro lado, ao passo que Wilson ia retirando os objetos dos bolsos do ladrão e recolocando no porta-luvas.
- Quando é que vai tomar vergonha na cara?
- E aí, o que o chefão fez com o sem-vergonha?
- Enfiou ele no quartinho escuro.
- O do fundão?
- Unhum.
- Nossa!
- Sem visitas, nem telefonemas.
- E a pena?
- Quarenta anos vendo o sol nascer em 3x4.
- Hehe...
- Toma cuidado, Tadeu, que o próximo pode ser vós mecê.
- Não diga isso, chefinho... Eu estou me comportando, não estou?
- Vamos pra casa.
À meia-noite, no pequeno quarto que Wilson dividia com Tadeu, o despertador do ladrão tocou de supetão: "hora do assalto! Hora do assalto! Hora do..." o ladrão bateu a mão no despertador e levantou-se da cama com muito cuidado, abrindo a porta e caminhando na ponta dos pés, sem perceber que Wilson o perseguia. O ladrão atravessou a sala e foi até a cozinha, quando o policial acendeu a luz do cômodo e pegou-o de surpresa.
- Ahá!
- Chefinho!
- O que pensa que vai fazer?
- Assaltar a geladeira?
- Se não percebeu, eu coloquei um código aí, então só eu posso abrir a geladeira.
- Digo que pode estar enganado.
- Como?
Pedindo licença, o ladrão apertou uma sequência de números no aparelho de segurança e a porta da geladeira foi destravada.
- Co-como você fez isso? Eu coloquei uma senha que ninguém jamais saberia!
- Não, você simplesmente usou a estratégia de inverter a data de aniversário e adicionar um número após o dia, mês e ano. Não é o primeiro que faz isso.
- E como você sabe da data do meu aniversário?
- Comemoramos no quinto mês que passei na prisão, lembra? Eu até te dei um cinto de couro legítimo.
- Que você roubou do chefe.
- Mas você gostou.
- Tá, mas, como sabia dos três números quaisquer que adicionei à data?
- Não sabia, só chutei 1 2 3, e deu certo.
- Bom, eu gosto dessa sequência e... Isso não importa! Volte para o quarto.
Wilson disse, dando de ombros, mas o ladrão teimou em abrir a geladeira e retirar um delicioso pudim.
- Volte pro quarto, Tadeu!
- Já vou, meu amor, calma! Hehe...
Quando eram 06:00h da manhã seguinte, o policial levantou da cama e foi de caminho à sala, viu o ladrão adormecido no sofá com um saco de rosquinhas esparramadas por todo lado, caminhou até a porta e abaixou-se para apanhar um papel no tapete. Leu:
- "Caro policial Wilson, você está convidado para um Jantar especial de comemoração à meu aniversário de 32 anos..." 32 anos, haha! Não é só isso não. "às 20:00h da noite. Assinado: sra Charlotte".
O policial despertou o ladrão de seu sono profundo e falou:
- Novidades, fui convidado pr'um jantar de aniversário na casa da sra Charllote, hoje à noite.
- E quem é essa?
- Uma das mulheres mais ricas da cidade, muito fina, no sentido de ter muita classe, porque de finura ela não tem nada.
- Humm... Interessante...
- E essa é a chance para você provar sua honestidade.
- Tá me chamando de ladrão, chefinho?
- Eeeeu? Jamais.
- Então vamos a essa tal inauguração.
- Positivo. Mas antes... Bem, eu não vejo tanta precisão numa coisa boba desse tipo, mas você vai precisar de umas aulas de etiqueta.
- Aulas de etiqueta? Está falando comigo?
- Positivo. Lembre que a gente vai estar num jantar onde só gente chique vai sentar à mesa e não vai ser bom você cometer uma gafe.
- Está bem, está bem, eu me rendo.
Continua...