Posso até entender, mas não perdoo

-Eu estou morrendo, alguém me ajude, por favor, estou morrendo...

O pedido era quase que patético, mas o apelo era real; o zelador, um homem com quase 80 anos de idade, correu para o apartamento 81, e se deparou com a moradora do apartamento morta, não de medo, literalmente morta. Do próprio apartamento a polícia foi acionada, e em 20 minutos chegava ao local.

A primeira pergunta, evidentemente, foi como o zelador havia entrado no local da morte, a reposta foi quase que óbvia, ele era o zelador do prédio, e possuía a chave de todos os apartamentos, garantindo aos policiais e perícia, que encontrou a porta fechada, e que usou de sua própria chave para abri-la, quando se deparou, então, com o corpo.

Certezas: a vítima estava morta; encontrada no 8º andar de um prédio, cujo apartamento não tinha outra entrada, se não aquela aberta pelo zelador; a causa da morte havia sido por envenenamento, fora usada substância agressiva e de ação imediata; não houve arrombamento e ninguém mais se encontrava no local. Todos estavam convictos de que não houve suicídio, pois a vítima pediu socorro, e nenhum suicida pediria socorro sabendo ter ingerido uma droga letal, de ação imediata, seria tudo ilógico.

Um mistério a ser resolvido; na reconstituição dos fatos, que antecederam a morte, apurou-se que a vítima havia recebido a visita de uma mulher, ainda que a visitante tenha sido a última a entrar no apartamento, além da ex-moradora, é claro, que foi vista viva, depois daquele encontro.

A causa da visita deixaria qualquer um apreensivo, mas não houve qualquer discussão, nenhum vizinho ouviu nada que chamasse a atenção, pelo contrário, uma senhora do apartamento 82, afirmava ter visto as duas se despedindo de forma até quase que carinhosa, com troca de beijinhos convencionais.

A visita, realmente, teve um início tenso, afinal, ela, que chegou, era a noiva do homem , que vinha mantendo um caso com a anfitriã. O clima de suspense desapareceu após rápido diálogo; a noiva se identificou, mas, em poucos instantes, passou a fazer prevalecer a lógica, o ex-noivo era o causador daquela situação insólita, e só ele deveria responder pelos desdobramentos. Foi sem animosidade que as mulheres se despediram, depois que a noiva traída usou o banheiro para se recompor, e se separaram, desfeito que estava o impasse entre as duas.

No dia em que se seguiu a aquela visita, a dona do apartamento recebeu rosas e uma caixa de bombons , da inimiga em potencial. A polícia já tinha um indício de como o envenenamento aconteceu, e os bombons se transformaram nos vilões da história.

A perícia veio acabar com o avanço das investigações: todas as guloseimas tinham o mesmo formato, nenhuma com formato que se destacasse das outras; cada unidade foi analisada, e nenhuma delas apresentou qualquer sinal de veneno, e se apenas um bombom havia sido consumido, de que forma a vítima teria escolhido aquele que carregava qualquer substância estranha?

E tudo se tornava ainda mais intrigante, o veneno não matou através das via aéreas... fora ingerido, os bombons saíram da lista de suspeitos, como explicar?

Os inocentes bombons não vieram sozinhos, vieram acompanhados por um ramalhete de rosas; ramalhete em que foi colocado uma porção considerável de um pó altamente irritante, excelente provocador de processos alérgicos, de espirros e erupções pela pele.

Em sua visita a aquela que estava roubando seu noivo ela usou o banheiro, e carregou consigo todas as drágeas do anti-histamínico que encontrou no armário daquele recinto; todas não, deixou uma recheada de ricina, potente veneno, que mata rapidamente homens e animais, um derivado da mamona.

Ninguém envenenou a vítima, pelo menos não diretamente, quando ela recebeu o ramalhete de flores, numa reação natural, ela o levou ao nariz, para sentir o cheiro das rosas, inalando uma substâncias incômoda e alérgica; imediatamente correu em direção ao anti-histamínico, e no frasco encontrou apenas uma cápsula, que seria suficiente para aplacar o processo alérgico; a resposta para isso nunca ninguém ficou sabendo; o que ficou de real e concreto foi uma pessoa morta, vítima da ricina.

O bombom não era o vilão, a vilã.... era a rosa

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 21/12/2015
Reeditado em 22/12/2015
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