Não tão inocente

Não tente aproximar determinadas pessoas, ou animais, ou sabores; sempre alguém, ou algo é repulsivo a outro alguém, ou a outra coisa qualquer. Além dos inimigos naturais, como o cão e o gato, outros inimigos se montam à primeira vista.

Armas e crianças são incompatíveis; fígado frito, com muita cebola,. é incompatível com a maioria das pessoas; segredo, também, não se coaduna com quem não consegue se manter calado.

Discrepância maior seria colocar no mesmo grupo o marido traído e o amante da esposa, mas a situação seria agravada, se no centro sísmico, uma arma, ou armas, estivessem ao alcance.

O dono da casa era um colecionador de armas, e, em todas as reuniões, gostava de exibi-las, como o fez naquela oportunidade, e uma das pistolas parou, por algum tempo, nas mãos menos aconselháveis a portar armas, de forma imprudente, foi deixada bem perto do agressor em potencial...o marido traído.

Enquanto falou o bom senso, a reunião decorreu de forma pacífica, sem alterações, mas quando o clima é de tensão, qualquer insinuação traria à baila o tema tão delicado: a infidelidade. Da discussão, para a via de fatos foi um passo muito curto; o cônjuge traído e o conquistador barato se atracaram, e a arma participou do conflito que se instalou. Os litigantes buscavam, mutuamente, se matar. O dono da casa tentava, a todo custo, separá-los, quando um estampido se ouviu, e uma bala atingiu a testa do quarto integrante do grupo, que até aquele momento permanecia completamente alheio à batalha que se instalou. O fato de ter se mantido alheio não impediu que caísse morto.

O fato novo pôs fim à briga, os gladiadores mostravam-se surpreso com o desfecho do incidente, um amigo inocente fora vítima fatal, e as consequências deveriam cair, de forma brutal sobre eles, que não souberam resolver de forma racional suas divergências.

O dono da casa sabia que a polícia devia ser acionada, afinal o resultado criminoso havia sido maior que a ação inicial, que originou o desenlace. A fúria entre os beligerantes era compreensível, e o homicídio podia ser creditado a um acidente, e até mesmo a vítima era estranha à causa.

Se fosse feita uma autópsia no crime, e não na vítima, ficaria constatado que a ação criminosa fora tramada, toda ela, pelo dono da casa, e até mesmo a vítima fora, premeditadamente escolhida.

Tendo descoberto que o inocente morto era amante de sua esposa, e o adultério era uma prática comum entre seus amigos, ficou muito fácil juntar dois amigos, inimigos por contingência, em uma reunião, rotineira entre eles; para as armas havia explicação lógica, as digitais, na arma assassina, se explicavam, por si só, e o morto, para todos, continuaria sendo uma vítima inocente, sendo que a responsabilidade do crime, por certo, incomodaria os dois, que deram início à sessão de pugilismo.

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 09/12/2015
Reeditado em 09/12/2015
Código do texto: T5474432
Classificação de conteúdo: seguro