EVA VENENOSA
Ao sair daquela casa, Horácio sentiu um gosto amargo na boca. Tudo girava, girava, girava. Antes de conseguir gritar por socorro, ele caiu na calçada — do outro lado da rua deserta — perdendo os sentidos. Eva observava a cena pela janela, e sorriu ao sentir os braços de Martha enlaçarem sua cintura. A ex-esposa do detetive recebera um aviso da cúmplice para voltar ao sobrado amarelo. O prazer estava estampado no semblante das duas mulheres enquanto olhavam para a imagem de Horácio inconsciente. Ninguém avisara àquele otário que era perigoso beber na casa de gente estranha?
Horas mais tarde, Eva e Martha embarcaram para uma temporada na Europa. A misteriosa ruiva e a ex-esposa de Horácio eram as novas amantes de um conde italiano. O primeiro encontro com Pier Paolo acontecera no cassino de Samuel. Apesar de perder uma pequena fortuna naquela noite, ele não parecia preocupado. Eva e Martha nem se deram ao trabalho de descobrir como um nobre em viagem ao Brasil havia parado ali. Por enquanto bastava saber que ele era divertido. E rico. Muito rico.
No início da manhã, Horácio foi socorrido por um motorista de táxi, que o levou para um hospital. Ali o detetive recobrou a consciência: o pesadelo parecia não ter fim, mas ainda que durasse muito tempo, ele não encerraria aquela história até acertar as contas com as duas canalhas. No exato instante em que Horácio recebeu alta, Eva e Martha mergulhavam nuas na piscina de Pier Paolo. A mansão do conde em San Gimignano — no coração da Toscana — era cinematográfica.
NOTA DA AUTORA: Para melhor entendimento da trama, sugiro a leitura dos contos desta série: "O Primeiro Caso", "O Caso do Bar", "A Sombra de Eva", "A Ex-Mulher", "O Detetive", "A Secretária", "Virando o Jogo", "Duas Muheres", "Detetive por uma Noite", "Investigação Particular" e "Sexo, Mentiras e Pôquer".
(*) IMAGEM: JEANNE MOREAU