VIRANDO O JOGO
 
 
 
Embora fosse uma mulher volúvel, Martha — a ex-esposa de Horácio — permanecia fiel a uma paixão: o pôquer. Talvez, apenas por isto, Horácio voltara a pensar na tal dívida de jogo que Eva mencionara após a misteriosa noite no bar. Por que ela deixaria escapar aquela pista? As duas mulheres se conheciam? Ou a história toda não passaria de um blefe?

Horácio não esquecera: todas as quartas-feiras, sua ex-esposa costumava jogar na residência de um homem chamado Samuel. O sujeito mantinha uma espécie de cassino em seu porão. Para entrar ali bastava ser indicado por alguém conhecido dele. O detetive não gostara de ver sua mulher envolvida com aquele tipo de gente, mas se quisesse manter o casamento, teria que pagar o preço. E durante os três anos em que viveu com Martha, ele aceitara as regras de seu jogo.

Naquele fim de tarde, quando Horácio telefonou para Samuel, Judite aguardava diante da escrivaninha do detetive:

— Ela irá até aí hoje à noite. Laura. Laura Munhoz.

Ao ouvir Horácio falar sua nova identidade, a secretária sentiu o coração bater mais depressa. E sorriu imaginando-se num filme noir. O destino podia ser muito irônico; Judite crescera numa família de jogadores de pôquer. No entanto, em sua casa, somente duas apostas eram aceitas: doces e pizzas. Não. A secretária não precisaria contar um detalhe tão pueril a Horácio. O detetive tinha coisas bem mais importantes para acertar com ela. Seu papel teria ainda alguns ajustes. No instante em que ele desligou o telefone, Judite era toda ouvidos.


NOTA DA AUTORA: Para melhor entendimento da trama, sugiro a leitura dos contos desta série: "O Primeiro Caso", "O Caso do Bar", "A Sombra de Eva", "A Ex-Mulher" , "O Detetive" e "A Secretária".
 
(*) IMAGEM: Google
 
Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 01/09/2015
Reeditado em 19/10/2015
Código do texto: T5366970
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