A EX-MULHER
Horácio passara a semana repetindo para si mesmo que não valia a pena procurar sua ex-mulher. E tentou se convencer disto até tocar a campainha do sobrado branco. Martha demorou a atender. Por um momento, ele teve vontade de sair dali. No entanto, ainda que fugisse, Horácio tinha certeza de que o fantasma de seu passado continuaria a rondá-lo.
O sol forte batia em seu rosto quando Martha, enfim, abriu a porta, e o detetive sentiu o tempo voar para trás. Numa tarde ensolarada de outono, ele chegara mais cedo em casa, e encontrou a mulher em frente ao sobrado, falando com um sujeito. Horácio quis saber quem era o fulano, mas Martha disse apenas que ajudara o tal homem a localizar um endereço no bairro. Por que ele havia se lembrado daquela cena? Seria a primeira vez que Martha o havia traído? Agora, nada mais parecia ter a menor importância. Horácio desejava apenas uma coisa: encerrar a história dos dois.
— Quanto você quer pra desaparecer da minha vida?
A gargalhada de Martha continuava irritante. E a resposta não passaria de mais uma farpa entre eles:
— Se eu tivesse um preço, você acha mesmo que poderia pagar?
Horácio fingiu ignorar a provocação, e contou a história a respeito de Eva. Martha ainda ria ao afirmar desconhecer aquela mulher.
— Mentira! Eu quero saber por que você continua a me infernizar.
A mulher parou de sorrir. No instante seguinte, seu olhar voltara a ser frio. E, antes de bater a porta na cara do detetive, ela disparou:
— Você criou seu inferno. Não tenho nada a ver com isto.
Martha dissera a verdade? Não. Era impossível confiar na palavra daquela mulher. Horácio perdera seu tempo.
NOTA DA AUTORA: Para melhor entendimento da trama, sugiro a leitura dos contos desta série: "O Primeiro Caso", "O Caso do Bar" e "A Sombra de Eva".
(*) IMAGEM: ELIZABETH TAYLOR