O CASO DO BAR
 
 
 
No exato instante em que Horácio bebeu o primeiro gole de uísque, ela sentou-se ao seu lado. Sem precisar dizer uma palavra, o funcionário do bar serviu o drinque habitual para a mulher. Quando não restava mais uma gota sequer de vodca em seu copo, ela virou-se para o detetive:

— Eu sou todas as mulheres que você seguiu.

Ela disse outra vez a frase, que soou ainda mais estranha. Por um momento Horácio teve a nítida sensação de que vira e ouvira sua ex-esposa acabar de dizer aquilo. Num piscar de olhos, era novamente a desconhecida que estava ali.

Surpreso e confuso, Horácio tentava entender:

— Do que você está falando?

A mulher olhava para o detetive como se o conhecesse de longa data.

— Você ouviu muito bem.

— Quem é você?

Ela respondeu com um sorriso. Impaciente, Horácio tomou num só gole o restante do uísque. Nem naquele bar, quase vazio, ele tinha sossego. A mulher segurou levemente o braço do detetive antes que ele se levantasse:

— Calma. Eu vou contar tudo.

Seu nome era Eva. Há muitos anos ela traía o marido. As infidelidades aconteciam por inúmeros motivos. E até mesmo sem razão alguma. Para fugir da culpa, Eva tentara se convencer de que não passava de um animal selvagem. Daqueles que não aceitavam rédea. Talvez ela fosse apenas uma refém de seus desejos. Ou quem sabe uma mulher livre que se perdera no meio do caminho. Não. Não era nada disto.

Cansado daquela história, Horácio deixou o dinheiro da bebida sobre o balcão, e saiu sem se despedir da mulher. Antes de alcançar a porta, ele ouviu uma voz masculina:

— Hei! O senhor esqueceu sua capa.

Horácio virou-se. Não havia mais ninguém ali, além do homem atrás do balcão. Ainda perplexo, o detetive quis saber:

— E ela? Onde está ela?

O funcionário do bar apontava para o traje cinza sobre a banqueta.

— Não se preocupe. Muita gente a esquece.

 
 
(*) IMAGEM: JEANNE MOREAU
 
Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 17/08/2015
Reeditado em 19/10/2015
Código do texto: T5349419
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