O PRIMEIRO CASO
Horácio trabalhava no relatório de uma investigação, quando escutou alguém bater à porta. Naquela tarde, Judite havia pedido para sair mais cedo. O detetive consultou sua agenda: nenhum cliente marcado. Ao abrir a porta da recepção, Horácio constatou que o corredor estava vazio. De volta à sua sala, ele ouviu novamente as batidas. Desta vez, o detetive permaneceu na minúscula sala de espera, encostado à escrivaninha da secretária.
— Quem está aí?
A voz soou familiar:
— Você é um péssimo detetive.
Horácio girou a maçaneta. Do outro lado da porta estava a mulher com quem ficara casado por três anos.
— Detetive especializado em infidelidade. Que cara de pau! Tenho pena dos teus clientes. Por que você não conta nossa história pra eles?
Horácio nunca desconfiara que fosse traído por sua mulher. Durante uma discussão violenta, no final do casamento, a esposa fizera questão de falar a respeito de todos os homens com quem tinha mantido um caso. No exato instante em que ela disse o nome de seu melhor amigo, Horácio sentiu que algo morrera dentro dele.
A ex-mulher o encarava com o olhar frio:
— Sabe por que eu decidi contar tudo? É isto que um babaca merece. Você não presta pra nada.
O detetive quis empurrar aquela mulher para fora do escritório, mas seu corpo estava paralisado. E então Horácio ouviu outra voz feminina. Era Judite. Preocupada com a agitação do detetive que adormecera enquanto concluía o relatório de um caso, a secretária tentava acordá-lo.
— O senhor está bem?
Ainda confuso, Horácio balbuciou:
— Não, mas vou ficar.
(*) IMAGEM: Google