839-ASSALTANTE ASSALTADO -
Conto inspirado em noticia da TV,
fato registrado em câmara de segurança,
em janeiro/2014
Carlinhos Dentuço encostou o carro no meio fio defronte à padaria, deixando o motor funcionando, pensando o Serviço vai ser rápido, vou sair depressa. .
De revólver na mão, entrou no pequeno estabelecimento e foi logo apontando a arma num movimento circular, gritando:
— É um assalto, Fica todo mundo quieto, num quero machucar ninguém.
Com uma rapidez de quem tem prática, chegou ao caixa e mandou:
— Pega uma sacola e enche com o dinheiro. Tudo que tiver.
A mocinha, tremendo que nem vara verde faz o mandado. O assaltante pegou a sacola e colocou dentro o revolver, saindo correndo da padaria.
Ao chegar ao meio fio, onde deveria estar o carro já pronto para a fuga, nada viu. Atarantado, soube, no instante, que o carro tinha sido roubado.
Foi um momento só, um vacilo, uma distração e ... ZAP! A sacola com o dinheiro roubado e o revólver desaparece de sua mão, levada por outro marginal, um pivete de longas pernas.
Puta que pariu! Grita e sai correndo atrás do garoto, cujas longas pernas o distanciam rapidamente de Carlinho Dentuço.
Mais isso não vai ficar assim não. Vou ali na delegacia dar parte. Esses bandidos vão ver...
Carlinho Dentuço se dirigiu imediatamente à delegacia de polícia, que ficava a um quarteirão de distância, onde registrou a queixa do roubo do carro e da sacola com quitandas.
Quando estava de saída, tendo já assinado o desnecessário e inútil Boletim de Ocorrência, deparou-se com o dono da padaria, que iria fazer a queixa do assalto de seu estabelecimento.
Ao ver o meliante passando por ele, gritou:
— Segurem esse homem! Ele acabou de assaltar minha padaria!
O marginal se esquivou:
— Cê ta bestando, sô! Vim aqui prá reclamar que meu carro foi roubado e da minha sacola de quitandas.
— Era a sacola com meu dinheiro, que você roubou na minha padaria!
O meliante replicou:
— O dinheiro era meu e o carro também!
Ante o tremendo bafafá, o delegado mandou o padeiro entrar, para a queixa, determinando ao detetive:
— Segure esse elemento aqui por mais alguns minutos. .
Depois do BO do padeiro, fez uma acareação entre os dois:
— Então o senhor estacionou o carro em frente à padaria e foi comprar umas quitandas? Certo?
— Sim, senhor delegado.
—O carro era seu? Cadê os documentos?
—Bão, o carro é dum amigo meu, que me emprestou e...
—Pegou o carro emprestado pra ir na padaria comprar umas quitandas, certo?
—É, seu doutor.
—E a carteira de motorista? Cadê ela?
—Perdi outro dia, seu doutor.
—Está bem. Temos aqui na porta da delegacia uma câmara de segurança que vai mostrar como tudo aconteceu.
Requisitada a câmara, o filme é inserido no aparelho de TV da delegacia e mostra toda a cena, com detalhes.
Um carro Corso (Chapa BSK 7944, bem visível) é estacionado à porta da padaria. Dele sai um homem empunhando um revólver, que entra na padaria. Em seguida, chega outro homem, olha para o carro, entra e sai em disparada. Minutos depois, chega o primeiro homem, portando uma sacola com algo dentro. Enquanto olha,atarantado, para o local onde deveria estar o carro, um terceiro homem passa correndo e lhe tira a sacola da mão. Carlinhos corre atrás, mas logo volta, pra examinar novamente o local onde estava o carro. Coça a cabeça, como que desanimado. E caminha na direção da delegacia, aproximando-se da câmara de segurança, revelando suas feições claramente.
Terminado o filme, o delegado consultou o computador.
—Agora, vejamos a placa do carro. Aqui está! BSK 7944, um Corsa prateado...
—É esse mesmo, seu delegado. É o meu carro! — antecipou Carlinhos Dentuço.
O delegado continua, como se não tivesse ouvido.
— ... roubado no Leblon na última quinta feira.
E dirigindo-se ao marginal:
— Ai está, seu banana, o seu filme. Além de mostrar que é um panaca, vai constituir de prova à queixa do padeiro e como ladrão do carro.
— Recolha o elemento ao xadrez!
ANTONIO ROQUE GOBBO
Belo Horizonte, 15 de abril de 2014
Conto # 839 da Série 1.OOO HISTÓRIAS