Strix ao resgate
_Seja sincero, Diego _pediu Cristina, muito séria. _Você nunca sentiu medo? Isso é, já é voluntário da Polícia Dimensional há bastante tempo, deve ter se deparado com muitas situações assustadoras.
Diego levantou a cabeça preguiçosamente de sua poltrona, sorriu para a namorada e largou-se de novo, ponderando a questão.
_Ah, Cris... Olha, eu sou apenas um funcionário júnior, por isso, só mexo com “lixinhos”... Sabe como é, nosferatu, novatos que ainda não aprenderam como a banda toca, gangues de garotinhos que se acham o máximo... O DAV é um departamento muito concorrido... Nunca sobra muita coisa pros estagiários. [DAV = sigla informal para “Departamento de Controle Ativo aos Ataques Vampíricos”]
_Mas... Você nunca sentiu as pernas tremerem? Nunca achou que, daquela vez, você ia morrer?
Diego fez um silêncio um pouco mais longo que da primeira vez.
_Uma vez. Só uma vez. Vou te contar, Cris, mas em confiança. Não espalha!
“Era uma noite normal de trabalho. Meu alvo era um grupinho patético que se autodenominavam terroristas. Vampiros terroristas, meu Deus! É cada uma! Havia um congresso internacional na cidade e eles estavam querendo explodir tudo em protesto contra sei lá o quê. Tipo, era um congresso médico, não sei o que eles tinham contra a medicina.
Não foi difícil dar um jeito neles. Como disse, eram patéticos. O problema foi que um deles fugiu e se refugiou no porão do hotel do congresso. Tive que entrar sozinho e recebi a recomendação de ser silencioso e discreto.
‘Silencioso e discreto’ parecia ser o oposto perfeito do idiota que eu tinha que seguir... Logo que me viu, ele mostrou uma espécie de controle remoto e gritou, esganiçado:
_N-Não se aproxime! Se não eu detono a bomba que a gente escondeu aqui!
Ainda não sou muito bom com essa parte psíquica toda, não posso detectar quando os outros estão mentindo. Por isso, fiquei sem saber se era tudo um blefe ou não. Eu tinha quase certeza de que era um blefe, mas como saber? Como arriscar as centenas de vidas que estavam sobre as nossas cabeças? Sem falar na minha própria vida, é claro!
Em tais circunstâncias, tomei a decisão padrão: apertei o botão de ‘reforços’ no comunicador e fiquei enrolando o carinha. Quando aparecesse, o reforço iria avaliar a situação, se aproximar silenciosamente e desarmar o... caham... elemento suspeito. Pelo menos, *esse* era o procedimento padrão. Só que logo vi que a coisa não ia funcionar. A porta do porão se abriu e quem eu vi, para meu desespero, foi a Strix.”
_Strix? Mas ela não trabalha para a Polícia, trabalha? Ela diz que é detetive particular.
_Ela é... Mas estava visitando o Conservatório e a Madame Mercier achou que ela podia resolver tudo num instante. Por isso, não mandou a Vanessa ou o Dario, que eram quem estava de plantão naquela noite. Continuando...
“Quando vi a Strix naquela porta, eu já devia ter visto que ia desandar tudo, ainda mais que ela não estava com as suas marias-chiquinhas de costume. O tal do terrorista olhou pra ela, todo cheio de si e mostrou o controle.
_Nem mais um passo, boneca, ou isso aqui tudo vai pelos ares. Pergunta pro seu amiguinho!
Mas ela nem tchum! Fechou a cara, fez os olhos ficarem vermelhos e brilharem, e começou a andar na direção dele. O cara engoliu em seco. Até um idiota como ele pôde perceber os sinais de ‘não tenho tempo pra brincadeira!’. Ele aproximou o dedo do controle e repetiu a ameaça, mas a Strix nem mexeu qualquer músculo do rosto.
Nesse ponto, comecei a ficar nervoso. A loirinha doida não parecia ter passado pela fase de ‘avaliar a situação’. Como ela podia ter certeza de que a bomba não ia explodir? Será que contava tomar o controle antes que o cara pudesse disparar?
Levado ao cúmulo do desespero, o projeto de vampiro fechou bem os olhos e apertou o botão do controle remoto. Até hoje agradeço por não ter mais necessidades fisiológicas, se não, naquele momento... Bem, é melhor não comentar. Foi nesse dia que realmente achei que ia morrer.
Mas isso durou só um segundo. Nada explodiu, logo, era só um blefe, mesmo. Foi eu ter consciência disso, mandei os temores pro espaço e ajudei a Strix a algemar o elemento. Enquanto o conduzíamos para fora, resolvi puxar conversa.
_Puxa, Strix, você está mesmo melhorando sua percepção! Como você descobriu que o cara tava só tapeando?
_O quê?
_Como você percebeu que era só um blefe?
_O QUÊ?! Espera aí.
Ela levou a mão aos cabelos e só aí eu pude ver os dois fios transparentes escondidos entre eles. Puxou um dos fios e um fone do MP3 dela surgiu.
_Pronto. Pode repetir, Dieguinho.
Como todo mundo, já tive vontade de estrangulá-la várias vezes. Mas nunca tanto quanto naquele momento.”