O serial killer
“Acorde Jonas!” Ouço aquela voz estridente de novo, entrando em meus ouvidos como milhões de abelhas zumbindo.
Depois água gelada.
Abro os olhos, mas ainda não consigo ver nada; há uma venda sobre eles.
Sinto um instrumento gelado de metal tocar meu rosto, penetrando minha pele e deslizando, deixando um filete de sangue.
Tento mexer minhas pernas, meus braços, sem sucesso. Estou completamente amarrado.
Deus, oque esta acontecendo?
Há alguns meses, vêm acontecendo uma série de assassinatos, todos com a mesma assinatura.
As investigações começaram, e demoramos muito tempo para finalmente encontrar algum vestígio.
Mas não podia ser possível. Não podia!
No outro dia, a ligação. A filha do vice-presidente havia sido morta. A mesma assinatura, o mesmo perfil de crime. Ela estava deitada sobre uma mesa de madeira, com os membros inferiores e superiores amarrados, cortes no rosto que haviam sido feitos com seu coração ainda batendo; venda nos olhos.
Só uma coisa era diferente dos outros crimes: Ela foi estuprada. A primeira vez que o assassino estupra uma vitima.
Por que ele mudou?
Fui conversar com o vice-presidente que estava inconsolável, chorava e gritava pelo nome da filha. Ele me pediu para pegar o monstro que fez essa barbárie. E eu vi em seu olhar uma expressão que parecia ser ódio; mas eu não tinha certeza.
Eu pus minhas mãos em seus ombros, e disse que não descansaria até achar quem fez isso.
Depois outra mulher, da mesma idade da anterior; também estuprada. Mas desta vez ela não estava vendada. Ela estava sem os olhos!
O desgraçado esta se aperfeiçoado! Melhorando sua crueldade.
Para ele, matar é uma arte, um belo quadro, em que ele melhora os traços a cada nova tela.
E ele já tem uma bela exposição.
Fiquei obcecado em pegar esse serial killer. Cada pista, intuição, eu seguia tudo!
Até o dia que cheguei em casa, e encontrei minha esposa morta, em cima da mesa, sem os olhos. Ela estava nua, e havia um punhal de prata enterrado em seu peito. No cabo do punhal tinha um pedaço de papel amarrado com um barbante, que dizia: “A prata é só para os melhores”.
Não derramei uma lágrima! Nem chamei ninguém. Não era mais caso de policia; era pessoal.
Enterrei o corpo da minha esposa no quintal mesmo, durante a madrugada; limpei tudo.
E comecei arquitetar o plano para pegar o assassino. A respiração dele me ofendia!
Quando pegar ele, vou mata-lo bem devagar, deixa-lo ver o sangue escorrer enquanto deslizo por suas entranhas o mesmo punhal de prata que ele enterrou no peito da minha esposa.
Sim, a prata é para os melhores!
Em uma tarde comum de trabalho, uma denúncia anônima nos leva até o suposto esconderijo do serial killer.
Cercamos a casa, arrombamos a porta, e eu entrei com mais três policiais.
Ele nem tentou fugir. O algemamos, e levamos.
No caminho para a delegacia, o sonífero que eu pus na bebida dos meus parceiros começou a fazer efeito, e todos dormiram.
Eu os deixei deitados na calçada, e fui com o assassino para minha casa.
Peguei o homem do porta-malas, e levei para dentro.
Joguei o homem algemado em cima da mesa e olhei para ele, tentando decifra-lo, ele está calmo, mesmo diante da morte certa. Pode parecer estranho, mas eu o entendo.
O homem se senta, olha fixo para mim, e diz:
—Achou mesmo que seria tão fácil assim?
Fico em silêncio. Droga, eu achei! É claro que é uma armadilha!
Uma agulha penetra na artéria do meu pescoço. Tudo se apaga.
“Acorde Jonas!” Essa voz estridente me irrita!
Alguém retira a venda que cobre meus olhos. Eu demoro pra identificar aquela figura que se forma à minha frente.
Deus! É o vice-presidente segurando o punhal de prata! Eu tento me soltar, mas estou completamente preso, amarrado; o pior é a sensação de impotência. Nem falar eu consigo, há uma mordaça na minha boca.
Só então sinto que meu rosto está sangrando.
—Olá Jonas! Conhece meu irmão? — Ele aponta para o homem que eu prendi pensando ser o assassino. Então levanta o punhal à altura dos meus olhos e prossegue: — Como sabe, a prata é só para os melhores. Não se preocupe! Você já estará morto quando eu arrancar seus olhos.
Ele encosta o punhal no meu pescoço, e desliza-o. Tudo fica escuro.