Saci e o cara pelado
Tem coisa nessa vida de polícia, que nem a ficção consegue copiar. E esse é um caso. Mais uma daquelas “forças-tarefas”, para resolver casos antigos de homicídio. Coisa de 10 anos atrás engavetada, tipo, homicídio que não se sabia nem a identidade da vítima, ou sequer se tinha escutado uma testemunha, apenas com a ocorrência e atestado de óbito e só. E lá vamos nós, tratando de meter um monte de gente pra dentro da DP, ouvir viúva, filhos, netos, vizinhos de gente que tinha morrido a muito. E nessas o Intrépido Comissário (“sujeitinho terrível” já citado neste sitio preteritamente), estava fuçando um caso, assas intrigante. A cena era a seguinte, encontraram um vivente morto, completamente nu, numa casa de campanha, solito no más. A gloriosa PM foi ao local, onde o dono da propriedade já estava os aguardando, posto o morrente, ser seu peão, e segundo ele havia sido avisado do fato, por vizinhos, que encontraram-no. Os PMs notaram que além do “cadarve”, havia um forte odor de urina no recinto, porém não encontram as roupas do mesmo, nenhum sinal de arrombamento, muito menos a arma do crime. Sem ter nenhum vizinho próximo, o Dono da casa ter um hálito e álibis forte, pois, houvera pousado na casa das “primas”, na noite do fato, e ainda estava fedendo a pinga e perfume barato, segundo recuerdos dos praças, relatados a termo. E o comissáriozinho, chamou gente, viúvas, e até agente funerário, e nada. De nebuloso foi ter aparecido uma espingarda dias depois, em uma tonel d’agua, no pátio atrás da casa. Que mais tarde se soube ser do tal Deoclécio, dono do sitio. Forte suspeita. Porque teria ele escondido a arma de não fora ele o matador? E suicídio não foi, quem se pela, e se mata com um tiro no pescoço, ainda mais tiro de espingarda? Tem que ser muito artista! Tudo apontava pro Deoclécio, mas o vivente tinha um álibis forte mesmo, mais forte que o perfume das cabroxas, da zoninha próxima, que corroboraram suas versão. De que o veio, não estava em casa, na hora da morte, hora esta estipulada pela pericia criminal. Mas apertado o velho Deoclécio, disse ter escondido a espingarda, pois, a encontrou do lado do morto, e por não ter registro, acabou ficando com medo de ser preso, e a enfiou no tonel d’agua antes da PM chegar. A história até tinha cabimento, mas o polícia sabia que tinha bem mais coisa nesse angu. E o velho Deoclécio, a única coisa que disse foi que o tal morto, era muito amigo de um tal de Saci, um mulato, bebum, que vivia de casa em casa fazendo um servicinho que outro, e que tinha esse apelido por não ter uma das pernas. E que esse tal Saci seguido bebia na companhia da vítima, e pousava na casa, mas que depois da morte, Saci sumiu do lugar, indo morar, segundo informes de rua, na casa de sua mãe, na cidade vizinha. E lá se fomos intimar o tal Saci, a mais de 5 anos do fato. E difícil era encontra o tal homizinho, ficamos os três meses de força-tarefa atrás dele, e nada. A mãe dizia que ele estava trabalhando num circo, e seu paradeiro era incerto. De tanto insistir o velho policia conseguiu um número de telefone e até conversou com o tal Saci, que se prontificou a dar depoimento, mas não apareceu. Mais de ano se passou, e fomos chamados novamente pra retomar aquela força tarefa, e lá estava o caso em aberto, atacando a ulcera do velho polícia, acostumado a não deixar caso sem solução. Fuça dali, fuça de lá, e achou outra linha de investigação, um tal vizinho que morreu de acidente de moto naquela mesma noite. O comissário, já traquinou na cabeça, que o cara podia ter “matado o morto”, e fugido as pressas e morrido nessas. Quem sabe um crime de cunho moral, lavar a honra por traição, coisas do tipo. E lá foi ouvir a viúva, mas ela jurou de pé junto nada ter haver com o morto, e que seu marido, foi atropelado por uma carreta sem freios. Lá se foi mais um suspeito. O jeito era voltar pro tal Saci, e o jeito foi ir de susto na casa da mãe dele, e o home tava lá, o enfiamos na VTR e lá foi o escrivão colher a oitiva do suspeito, mas que em nada colaborou. Tudo muito vago, disse apenas que conhecia o morto, e que ambos eram alcoólatras, e se reuniam pra beber às vezes, mas que não estava lá no dia da morte, que estava na casa de sua mãe, coisa que a velha confirmou. Isso que o comissário insistiu, dizendo que o crime era antigo, que os dois podiam ter brigado bêbados, e que o Saci, podia ter matado o outro em legitima defesa, e coisa e tal, dando idéia, pro sujeito achar que não ia dar nada. Aquela velha história de cerca Lourenço, chamando a mãe do Saci de dona, e se fazendo parecer pessoa intima da família, papo mole, que quase sempre causava simpatia até no pior dos “vagos” e fazia o polícia parecer inofensivo, e assim ele resolvia “mais uma bronquinha” como ele mesmo chamava os crimes mais cabeludos. Mas não adiantou o saci, era sujeito liso, e malandro pra mais de metro, não deu uma brecha, mesmo apertando a mão do polícia no final, e dizendo que se soubesse de algo lhe ligava. O veinho lhe olhou no grão dos olhos, e soltou a ultima: - Meu filho, tu sabe que se foi tu que fez isso, tu tirou o filho de alguém. Imagina se fosse tu. Não acha que tua mãe ia sofrer muito, sem saber quem tinha matado o filho dela? Será que vale a pena carregar esse remorso nos ombros? Pensa filho. O saci fez que não deu bola, apesar da mãe dele mostrar visível comoção. Bom enfim... O saci foi embora, e o mutirão acabou, e o caso continuo um mistério total, pois é nem sempre se ganha, mesmo sendo um velho polícia. Se passou mais de três meses e eu em casa de férias dormindo com a patroa, quando toca o telefone, e ela me entrega:
- É um colega teu.
- Alô?!
- E aí meu guri, é o Comissário.
- Blz chefia! Que conta?
- Nem sabe... Adivinha?
Como eu ia saber? Nem imagina a que devia aquela ligação.
- O Saci me ligou, e confesso tudo, foi ele que mato o cara pelado.
Poutz! Como diz aqui no sul. Me caiu o butiá dos bolso!
E seguiu o velho Comissário.
- Ele me ligo, e disse que ia confessa mas que só fazia isso se fosse comigo. Eu tava viajando com a mulher em outro estado, e parei as férias e voltei só pra ouvir o cara, acredita?
Conhecendo o Comissário, não tinha como não acreditar.
- Marquei o dia, e ele apareceu na DP. E contou tudo como foi. Ele foi beber na casa do morto, como sempre fazia. E encheram a cara, daí tiveram aquela “ideinha” ordinária. “Faze meia”. O morto era “viado”, e disse que queria chupa o Saci, e o Saci aceito, afinal, segundo ele: Boca é boca. Mas após o ato, o morto, quis se beneficia do Saci também. Que como não tem uma perna, e era mais fraco, não conseguiu segura o home, que o “fez”. Com raiva e a bunda doendo, o Saci saiu lá fora, viu a espingarda o velho Deoclécio, e fuzilo o home. Tiro a roupa dele, e deixo ele deitado morto, no chão da cozinha, e ainda mijo em cima de raiva. Acredita?
Como duvidar?
Mais um caso do além, que o velhinho solucionava, com sua conversinha.
Não tinha nada, ninguém sabia, só o Saci, e ele confesso pro velhinho.
É... O Diabo é diabo, não por que é mau, mas sim porque é velho.
Autor: Sant'Anna
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