ESCLARECIMENTO XXXII: OVERDOSE
- Boa noite Doutor! Chuva forte e boa né doutor?
- Nem me fale Tenente! Tá precisando de água na fazenda ate o pasto esta diminuindo.
- Acho que vai o dia todo.
- Deus te ouça, Deus te ouça. O que manda Tenente?
- Doutor! Pegamos este nóia cheirando pó, lá no puteiro da Tia Sonia, ai ele pagou este traficante e pegamos pó, erva, balança de precisão e estes ependorfes vazios, pegamos também um dinheirinho e este cheque.
- Porra já estão comprando pó no cheque? Daqui a pouco aceitam pré datado, cartão de credito, NPR, estão diversificando, já já teremos um banco de financiamento de pó.
- Este banco do cheque eu não conheço, parece um banco de elite.
- Positivo Tenente, este banco é um banco de investimento e tem poucos clientes, mas os clientes são a nata da grana.
- PC deixe o Artur e Silvinho cuidando deste caso, identifique e tipifique estes merdas. Tenente tem café quente na cozinha, fui eu quem fiz, forte e com pouco açúcar, no armário em cima da pia tem pão, presunto e queijo na geladeira, queijo da fazenda, muito bom.
- Obrigado Doutor.
- Ai tio, tamém to afim...
- Vá ti fuder vagabundo, tu ta achando que aqui é o puteiro da tua mãe, Bandido folgado.
Meu tapa pegou no canto esquerdo da boca, um pedaço da pálpebra, toda a orelha e a nuca. Meu palmo mede 22,5 centímetros. Tombou no banco ficando pendurado pelas algemas.
PC veio falar comigo que o traficante já tinha mandato de prisão por homicídio e trafico e que o noia era novo, não tinha passagem.
Deram um cacete nos dois e os interrogaram, não pagaram nada que já não sabíamos e o advogado já estava vindo para delegacia, mandei pedir uma temporária e perguntei ao PC sobre o cheque.
- Os dois falaram que não conheciam a dona do cheque, ele não veio pelo noia, veio direto do traficante.
- Alguém comprou e deu o cheque?
- Provavelmente Doutor.
- Levante o endereço que eu vou la, vou aproveitar e sair um pouco, to de saco cheio de ficar aqui dentro.
Peguei o Artur e fomos ao apartamento da emissora do cheque, um prédio de classe media em um bairro nobre. O dia já estava clareando e a chuva continuava caindo. Toquei o interfone e mandei o porteiro abrir o portão, após a identificação entramos. Pelo interfone acionou o apartamento.
- Pois não Sr Jose! O que esta acontecendo para o Sr me acordar a esta hora, em um domingo?
- A Policia esta aqui e quer falar com sua esposa.
- Com minha esposa? O que eles querem?
- Falar com ela Doutor.
- Isto eu já sei! Quero saber qual é o assunto?
- Fala que é confidencial e mande-os descerem.
- Eles falaram que é confidencial e estão mandando descerem.
- Mandem esperar um pouco que já vamos descer.
Uns dez minutos depois desceram assustados e curiosos, entramos no escritório do zelador e comecei a interrogá-los.
- A Senhora conhece Ocivaldo Natanael Lins da silva Junior?
- Não senhor, não tenho a mínima ideia de quem seja.
- Pimbinha do largo?
- O que é isto?
- Apelido dele.
- Também não Doutor. Mas o que é que esta acontecendo?
- Este cheque é da senhora?
- É sim senhor, por quê? O que houve?
- Nesta altura do campeonato eu tinha certeza que ela não sabia de nada.
- A senhora lembra pra quem passou este cheque?
- Não Doutor! Mas se olhar no canhoto, esta anotado, vou buscar meu talonário, o senhor pode esperar?
- Claro que sim.
Quando ela voltou, foi tudo esclarecido.
Na noite anterior a filha de outra moradora do prédio, interfonou e disse que tinha acabado chegar de viajem e que sua mãe estava na praia, o que era fato, como tinha acabado de chegar, estava totalmente desprovida e que sua filha estava passando mal e que precisava de dinheiro para o Pediatra e farmácia. Ela já tinha falado com a mãe que estava retornando logo pela manhã e a mãe a orientou em pedir este dinheiro emprestado para a senhora e que chegando à Capital ela acertaria. Na maior boa vontade, fez o cheque e deu.
Fomos ate ao apartamento da moça, acho que foi Deus quem nos mandou lá. Depois de bater e ninguém atender, ouvimos choro de uma criança, pedimos a chave para o zelador e este não tinha, mandei Artur arrombar a porta e entramos. Vimos uma criança de seis meses no chão, apenas de fraudas, estava muito frio para ela, inclusive estava com parte da boca roxa, toda suja de fezes e urina e chorando muito. Acionamos uma ambulância, e o enfermeiro disse que ela estava com hipotermia, desnutrida e desidratada, foi encaminhada para Santa Casa. Entramos em contato com a avó que não sabia de nada e retornou imediatamente.
Na segunda feira pela manhã foi encontrado o corpo da mãe em um esgoto, sem sinais de violência, causa provável da morte, overdose.