Um lápis esquecido... parte dois

_Já tentei ver no fichário da polícia técnica. Este rosto não existe. Deve ter sido uma máscara. Uma boa maquiagem. Nunca saberemos quem era o homem. Mas a voz dele é familiar. Vou me lembrar de onde ouvi. Saí dali e voltei pra casa. Era quatro horas e eu queria tomar uma ducha, trocar de roupas para ir ao funeral da nossa babá. Chegando em casa abri a porta e entrei. Quando caminhei pro meu quarto ouvi a porta da cozinha bater. Corri pra la mas, ao abri-la não vi nada nem ninguém. Quem estaria na minha casa? O que viera buscar? Não estava nada revirado. Tudo no lugar. No quarto da Lili também. Tudo certo. A cômoda estava certa e fechada mas parecia que minha esposa havia derramado talco sobre ela e então eu abri a gaveta com cuidado. Dentro da gaveta tinha uma caixinha de lenços umedecidos suja de talco. Peguei um guardanapo de papel na cozinha e juntei o talco com ele e joguei dentro de um saquinho plástico. Tranquei a casa com cadeado diferente na grade e fui pra delegacia. Pedi a Cris pra analizar aquele talco. Pareço paranõico? Não. Minha esposa não é estabanada. Não joga talco por ai. Além disso peguei os lenços umedecidos também. A Cris examinou na hora, e me falou que aquilo não era talco. Era uma espécie de veneno retirado de uma planta africana, que sobre a pele de um bebê poderia ser fatal. E era melhor eu lavar muito bem as minhas mãos. Mas eu já tinha lavado.

Alguém estava tentando destruir a mim e a minha família. Liguei pra Regina e pedi a ela que fosse pra casa da mãe dela agora e não esperasse nem o funeral da babá. Não fosse pra casa. Comoprasse o necessário lá na cidade da mãe dela.

Relatei ao Delegado o que encontrei em casa e ele designou uns homens pra me acompanharem até em casa. Faríamos uma varredura em tudo.

Chegamos ao prédio e o cadeado estava lá como eu deixei. Entramos no apartamento e encontramos tudo como antes. O quarto do bebê estava do mesmo jeito então pedi a eles que usassem luvas pois havia a possibilidade do veneno estar por toda a parte. A água do bebedouro estava quente. A tomada do telefone fixo estava desligada. Alguém cortou a linha. O Fogão à gas estava ligado sem fogo. O cheiro de gas estava muito forte. Ainda bem que ninguém tentou acender uma lâmpada pois estava muito claro com as cortinas abertas.abri a janela e desliguei o gás.

_Como alguém entrou aqui se havia o cadeado no portão? Perguntei ao policial que me acompanhou a cozinha.

_ Investigador, acho que o cara tem acesso a seus pertences na delegacia.

Não havia pensado nisto mas comecei a me assustar. Quem quer que fosse sabia o que queria e tinha acesso a minha vida intima e até a minha vida profissional. Liguei pro delegado e contei minhas suspeitas. Resolvemos ir embora. Peguei algumas roupas e resolvi me instalar em um hotel. Antes de sair de casa pisei em uma coisa roliça que quase me derrubou.. Era um lápis. Alguém o esqueceu pra trás. Era um lápis comum preto. A ponta estava quebrada. Joguei sobre a mesa e não pensei mais nele até chegar na delegacia.

Entrei na sala do delegado e o cumprimentei:

_Boa tarde chapa!

_Olá meu amigo. Como foi? Encontraram alguma coisa?

_Nada demais. Mais uma tentativa de homicídio com gás.

_Credo! Ele tá mesmo querendo te matar em!

_Mas não vai ser fácil. Eu garanto.

_Não encontrou nenhuma pista?

Não. Nenhuma. To tão cansado que ando tropeçando até em lápis.

_Como assim de que lápis voce esta falando?

_Nada demais. Quando ia saindo de casa escorreguei em um lápis que estava jogado na beira da porta. Por pouco não cai.

_Um lápis!! Não te parece um recado?

_Como assim?

_Esqueceu do cado que acabou de resolver?:

_Jesus!!! Esqueci completamente. Só pode ser um recado! Lá em casa ninguém usa lápis. Minha esposa só usa lapiseira. Eu não faço anotações em blocos, mas no celular. Meu bebê ainda nem saiu das fraudas. Como eu não pensei nisso antes? Como eu pude ser tão ignorante. O caso dos lápis!!!

_ O homem está preso. Talvez tenha um cúmplice. Vamos!!!

_Certo, vamos falar com ele. Mas vamos recaptular o "caso do lápis". O caso foi batizado assim porque cada vez que o bandido matava uma vítima deixava um lápis no local do crime. Mas desta vez ele não matou ninguém. Porque deixou o lápis lá.

_Pra te dar uma pista de quem esta fazendo isto.?

_Talvez mas isto fugiria do modos operandi dele.

_ Não sentiu falta de ninguém neste ultimo dia não é?

_Só da babá!!!

_Será que ele esqueceu de colocar o lápis lá e voltou só pra deixar a pista?

_Não sei. _ Chegamos a peninteciária e o delegado falou_ Posso ver o bandido do caso do lápis senhor Gracia?

_Sinto muito Senhor mas está uma confusão danada por aqui.Fugiram alguns presos esta semana e agora estamos em quarentena. Ninguém sai e ninguém entra.

_Sabe me dizer se os presos que fugiram eram das celas que ficam na zona leste deste presidio?

_Não sei como o senhor soube disso mas esta informação era confidencial.

_Ótimo. Já sabemos que precisávamos saber. Por causa desta ordem idiota uma pessoa esta morta. Sabia? Se soubéssemos antes nada disso teria aconteciado.

_Sinto muito senhor. São ordens e o senhor compreende...

_Tudo bem soldado. Relaxa. Não é culpa sua.

Fiquei morrendo de preocupação. Aquele monstro estava a solta. Liguei pra Regina e. Mas liguei do telefone particular do Delegado. Não queria que a nossa ligação fosse rastreada. Ela me garantiu que estava tudo bem. Não lhe contei as últimas novidades.

Agora sabia quem estava por trás de tudo isto. Ele não iria descansar enquanto não conseguisse me apagar. Mas eu também não iria descansar enquanto não acabasse com ele. A cadeia não era lugar pra um tipo como aquele. Eu deveria saber. Parecia um santo quando o prendi. Agora eu sei que é um monstro.

A noite foi feita pra gente descansar mas para mim não seria assim. Como vou fechar os olhos sabendo que tem um louco a me perseguir? O Delegado me deu suas roupas e disse pra eu colocar um disfarce e sair pelos fundos da delegacia. Pegar uma viatura e ir para o hotel descansar.

Quando sai dali olhei pros lados e não havia ninguém na rua. Entrei na viatura e parti saindo da rota habitual pra despistar quem me seguisse. Cheguei ao hotel flores no centro da cidade, onde havia me reistrado, e saindo pelos fundos peguei um taxi e fui para o outro lado, perto da delegacia, onde tinha um hotel muito bom. Entrei e me registrei com um nome falso. "Menho do Pilas" e ri do anagrama. Não me pediram documentos pois a gerente me conhecia e não questionou o meu pedido pra ser registrado assim. Prometeu não dizer a ninguém que eu estava ali. A polícia é sempre bem vinda e com a fuga dos presos ela até se sentia mais segura com a minha presença.

Dormi como uma pedra. Até sonhei que vencia o bandido. Acordei com meu celular tocando e me assustei. Era dia claro o sol estava ardendo. Era o delegado. Ficou preocupado pois já eram nove horas e ainda não me vira. Fui direto pra delegacia. Prenderam alguns dos foragidos e eles estavam lá esperando pra serem levados de volta ao presídio. Haviam sido questionados sobre o outro mas eles disseram que ele havia facilitado a fuga deles pra conseguir fugir. Tinha uma casa pros lados da favela do mangue. Seria difícil achar pois era igual as outras naquele lugar. Em cima da minhas mesa estava o jornal. Comentei que alguém me fizera uma gentileza e já ia pegar o jornal quando o delegado falou: Não toque nisto!

continua...

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 19/02/2015
Reeditado em 23/02/2015
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