Um lápis esquecido...

Ela brincava no tapete e, de vez em quando sorria pra mim sentando-se e virando seu corpinho frágil e fofo. Seu engatinhar lembra um gatinho levado que busca diversão com novelos e se embaraça atoa. A sala quieta só desperta com seus grunhidos de bebê. A cortina balança ao sabor do vento e seu róseo sombrear no ambiente interno da sala, me fazem ver o mundo mais belo. O sofá não é o mesmo , a estante não está mais ali onde costumava estar. Em seu lugar um pequeno móvel que agora chamam de rack e sobre ele uma tv digital Led mostra as últimas notícias: Um guarda armado atirou em um cliente do banco pensando que era um assalto; Uma babá sequestrou um bebê; Um poste caiu sobre um ônibus na rua de baixo e matou algumas pessoas; Um tumulto no ponto de ônibus resultou na morte de crianças que esperavam a van escolar; Uma vaca atrapalhou o trânsito na via dutra!!!

_O que é isso? O que uma vaca estaria fazendo lá? - Exclamei e fiquei falando sozinho. Lili riu pra mim. Acho que ela pensou que eu estava falando com ela. Mas eu não estava. A babá faltou ao trabalho e eu não sabia nem como trocar a sua fralda. Minha esposa tinha que ir trabalhar e ninguém podia ficar com ela. Ainda bem que ela é um bebê bem bonzinho. Não atrapalha em nada. Tem uns oito meses e toma a mamadeira sozinha. Ainda não está na hora, diz o papel na geladeira. Estou de folga hoje. Meu trabalho com o "caso do lápis" deu-me direito a tirar um dia de folga. A campainha tocou.

_Olá. Falo com o detetive Lúcio?

_Sim.Em que posso ajudar?

_Tenho um pacote para ser entregue exclusivamente ao senhor. Assina aqui.

_Boa tarde!

_Boa!

Era um pequeno pacote que devia ser mais ou menos do tamanho de uma caixa de bombons. O formato retangular me fez voltar aos meus tempos de criança. Meu pai sempre nos presenteava com deliciosos bombons de chocolate. A caixa era um presente de alguém. Mas aprendi em alguns anos de profissão a não aceitar presente de estranhos. Abri a caixa. Eram mesmo bombons. Quem será que me enviou?!?! Não fazia a menor idéia. Peguei um deles e pensei em mandar examinar. Escrevi em cima da caixa: Cuidado!!! não coma. A campainha tocou outra vez. Era a babá. Pediu desculpas e entrou apressada. Próximo ao sofá, Lili dormia quietinha no tapete. A moça pegou a menina e foi para o quarto. Saí apressado, queria levar aquele bombom até uma colega que fazia perícia para ver se estava limpo. Esqueci a caixa em cima da mesinha de centro na sala. Mas ninguém haveria de mexer pois o aviso era claro.

Na Delegacia de polícia entrei sem ser percebido pelos colegas. O clima de terror que lá se instaura a cada dia com as confusões de sempre fez com que eu não fosse notado com minha roupa de civil. Na sala de perícia técnica encontrei a colega em desalinho com uma situação complicada.

_Oi gatinha! Tudo bem?

_Bem só se for pra você! Não ta vendo a encrenca que estou metida?

_Desculpa vai. Não quiz ofender. Queria te pedir um favor mas acho que não vai dar.

_Tudo bem vai! Também não é assim. As vezes é melhor abandonar aquilo que não parece ter solução uns instantes, pra voltar mais tarde. E a solução aparece. O que é? Posso te ajudar?

_Poxa Cris, você é mesmo uma amigona! Sabe este bombom, Mandaram-me hoje pelo correio; Fiquei cismado, ninguém manda bombons assim hoje em dia não é?

_É. Muito estranho. Principalmente para um detetive da polícia. Deixa eu ver. Vou examinar e depois te falo.

Saí dali e fui pro Centro de Esportes ver minha esposa. Avisar que a babá havia chegado para ela não ter que voltar mais cedo. O Centro de Esportes estava fechado. Esquisito, muito esquisito. Liguei pra ela mas ela não me atendeu. Ela era a única professora que trabalharia ali na parte da manhã!!! Fiquei intrigado. Resolvi mandar uma mensagem pra ela. Perguntei também ao porteiro do prédio ao lado e o que ele me disse me deixou mais preocupado ainda.: Ele me falou que as aulas foram suspensas muito rápido. Ele viu os alunos sairem e minha esposa sair correndo para o carro. Resolvi voltar pra casa. Quem sabe tinha mais notícias com a babá. Em casa não havia ninguém. Nenhum bilhete, a visinha não sabia de nada. Onde estava Lili? Fui ao quarto dela. Dormia profundamente no berço. Nem a babá nem minha esposa. O que será que estava acontecendo???

Sentei no sofá pra descansar e só então notei que a caixa de bombons não estava na mesinha. Comecei a procurar a caixa por todo o lado mas não encontrei.

_Ah! Meu Deus! Será que uma das duas comeu aqueles bombons e eles estavam envenenados? Pensei em ligar pra Cris. Na mesma hora meu celular tocou. Era ela.

_Lúcio, não quero te alarmar mas tem uma dose cavalar de veneno naquele bombom. O suficiente pra matar um elefante.

_ O pior não te conto, a caixa sumiu daqui e minha mulher e a babá também. To preocupado.

_A Regina ligou pra cá tem uns dez minutos. Ela estava muito nervosa e queria falar com voce. Te procurei mas voce já tinha saido a muito tempo.

_ Então foi a babá!?

_Calma, vai. Não deve ter sido nada disso. Erla deve ter jogado a caixa fora.

_Mas eu escrevi na caixa: Cuidado Não coma!

_Sei. Espera um pouco. Vou procurar nos pronto-socorros.

_Boa idéia. O celular dela ta descarregado.

Andei pela casa com meu celular na mão uma meia hora. Queria saber dos pronto atendimentos se alguém dera entrada com envenenamento. Mas ninguém dera. Fui ao quarto da minha filha. Lili dormia ainda.Meu celular tocou. Era a Cris.

_ Lúcio, Ninguém deu entrada por envenenamento em Pronto socorro ou hospital. Mas a Regina me ligou. Sua babá está muito mal. Ela teve um envenamento mas não sabia o que era e por isso pediu a Regina que a levasse pra casa. Ela mora muito perto e por isso deixaram a criança dormindo ai. Olha como ela está. Em casa ela piorou muito e a Regina não conseguiu voltar. Chamaram um médico mas parece que ele disse que é tarde demais.

_Mas que raio de mulher gulosa!!! Tinha que comer!

_É não se pode confiar mesmo. Ah! A caixa está com sua esposa. Ela vai trazer até aqui pra eu examinar. Eu não disse a ela que já examinei.

_Tudo bem. Obrigada. Vou pegar a Lili e vou me encontrar com ela.

Desliguei o celular e fui trocar de roupa. Peguei a bebê e fui atrás da mãe dela. A encontrei na casa da babá. Ela chorava muito. A babá já tinha morrido.

_Quando recebi os bombons, desconfiei e por isso escrevi para não comerem.

_Ela não sabia ler!!!

Fiquei em silêncio. Muita coisa eu não sabia sobre a minha família. Me deu um frio na espinha. Que falta de juizo a minha. Meu bebê também não sabe ler. Regina pegou Lili nos braços que acordou querendo mamar. Amamantou nossa filha e ficou ao meu lado em silêncio. Pedi-lhe a caixa de bombons e ela me falou que escondera dentro da gaveta do criado mudo da babá. Peguei a caixa e parti pra delegacia. Alguém tinha que pagar pela morte daquela moça. Era pra ser eu no lugar dela, e por isso a minha sanha de vingança era ainda maior. O delegado mandou me chamarem assim que soubesserm onde eu estava. Já soubera da morte da moça e queria que eu investigasse.

_Olá chapa!

_Fala irmão! E aí quais são as novas?

_Nenhuma que o doutor ainda não saiba. A moça morreu envenenada comendo um bombom que era pra mim. Ainda bem que sou raposa velha e não ponho a mão em cumbuca. Quem poderia querer me matar? Sou um bom detetive mas não deixei nenhum fio solto por ai.

_Tem certeza? Não se lembra de nada que possa ter levado alguém a te odiar?

_Tenho. Sou muito justo e nunca abusei de marginal. Muitos deles quando saem da prisão, me ajudam e saem do mundo crime.Todos viram meus amigos. Quero limpar este mundo sujo. Se eu puder mudar os bandidos eu mudo, senão eu procuro não abusar.

Saí da delegacia e fui pro parque em frente. Fico sentado ali sempre que preciso pensar. Recapitulei as cenas na minha cabeça. O cara do correio me entregando os bombons. O uniforme ra mesmo do correio? Sei lá a cor pareciaq mas não tinha logo marca. Fui a agencia do correio mais próxima e tentei saqber de onde vieram os bombons. Descobri pra minha decepção que não vieram pelo correio. Aquele homem não trabalha no correio. Voltei pra delegacia e lá o Almir fez o retrato falado do homem baseado em minha descrição. Ficou perfeita. Liguei pra Regina e pedi pra não comer nada sem saber a procedencia. Ela garantiu que estava alerta. Fui a sala do chefe e relatei tudo.

_Mas então é só dar uma ordem de busca e saberemos quem é o homem.

Continua ...

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 19/02/2015
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