643-MORTE NA DELEGACIA - Criminal

A vida corria tranqüila para a família de pequenos sitiantes no interior do município. Tertuliano cuidava das roças de milho, mandioca, arroz e feijão, enquanto a mulher, Maria do Carmo, fazia da pequenina casa um brinco de limpeza e ordem. O único filho, Ronaldinho, de apenas três anos, andava solto pelo quintal ao redor da casa.

Uma tranqüilidade de fazer inveja.

Quebrada pelo grito que Tertuliano ouviu, vindo de trás de um bambuzal. Largou a enxada e correu na direção do grito de dor. Por trás da grande moita de bambu, deparou-se com uma cena assustadora: seu filhinho estava deitado de bruços e sobre ele estava Xulepa, de 15 anos, filho do Ernesto, dono do sitio vizinho. De calças arriadas, o moleque tapava a boca do garotinho enquanto o violentava.

— Sorte do Xulepa que eu tinha largado a enxada no milharal, senão eu tinha matado ele ali no ato. — disse depois tarde Tertuliano. — Mas dei um cascudo que deixou ele zonzo.

Mais tarde, na Delegacia de Polícia, a história complicou-se para Xulepa e seu pai, pois duas queixas anteriores já estavam registradas contra o mesmo rapaz, sem que a policia houvesse conseguido deitar a mão no violentador.

Mas agora, ali estavam presentes não só Xulepa, levado pelo pai, honesto lavrador, como os denunciantes das queixas anteriores. Tertuliano e Maria do Carmo, envergonhados, ficaram de lado da mesa do delegado.

Depois de todas as declarações, a mãe, inconformada, olhava com raiva para Xulepa, que, ao passar por ela, disse atrevidamente:

— Sou de menor... — significando que nada lhe aconteceria, pois sendo menor de idade, não podia ser preso.

Dona Maria do Carmo não se conteve. Pegando de surpresa um estilete de abrir cartas que jazia sobre a mesa do delegado, passo-o com força no pescoço do pivete.

Atingiu em cheio a jugular. O sangue esguichou por sobre os móveis e as roupas dos que estavam mais próximos.

Não houve tempo para prestar socorro.

Em instantes, Xulepa morreu na poça de seu próprio sangue.

ANTONIO GOBBO

Belo Horizonte, 7 de dezembro de 2010

Conto # 643 da SÉRIE MILISTÓRIAS

Conforme notícia publicada no Jornal O Tempo de 08.02.2006.

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 01/02/2015
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