PM em casa, PM na rua
Amar alguém imputa, necessariamente, companheirismo. Isso se eleva a outro nível quando o casal em questão vive praticamente 24hrs juntos - 8 na viatura da PM e o resto em casa. Era o caso de Cláudio e Camila.
Conheceram-se em serviço. Cláudio já dirigia a viatura quando perdeu um companheiro de farda. O assento na carona estava vago e Camila o tomou para si. De inicio não se deram muito bem, afinal, era estranho uma mulher sentada ao seu lado. Mas a estranheza se tornaria amor, pois Cláudio descobriria que Camila não somente era sua companheira de farda, como também seria para todas as ocasiões.
Seu relacionamento começou com velocidade. O risco de morrer faz a adrenalina subir em várias ocasiões do dia, de forma que quando abaixa, faz o homem ficar molenga, carente e carinhoso – era o caso do policial. Daí surgiu a primeira cantada, a primeira risada, o primeiro beijo, o pedido em namoro e o casamento.
A dupla, o casal, era inseparável. Viviam juntos, semeavam todos os problemas e as alegrias da vida – desde o estresse após uma perseguição e tiroteio até salvar a vida de alguém em perigo. Ser policial era uma honra. Um perigo, mas uma honra. E assim como se sentiam honrados pela farda, sentiam-se honrados pela oportunidade de estarem juntos na saúde e na doença, na paz e na guerra, desarmados na cama e armados fora desta.
Veio a notícia após um exame de farmácia positivo: Camila estava grávida. Pediu troca temporária para área administrativa após insistência do marido – afinal, eram duas vidas em risco agora. E Cláudio permaneceu em sua rotina, agora com um soldado substituindo sua esposa temporariamente na viatura.
Faltava apenas um mês para o nascimento da pequena Isabelle quando Camila tirou licença-gestante. Cláudio contava os minutos para chegar em casa todos os dias após a cansativa e estressante rotina de trabalho. Quando em casa estava, cuidava de sua esposa com carinho e determinação – largava sua patente superior, seu ímpeto de submeter e não ser submetido, e se derretia por sua esposa, não deixando faltar nada que ela pedisse.
Faltava uma semana. Estava tudo pronto para a tão esperada chegada de Isabelle. Mais um dia de serviço e Cláudio estaria livre para ficar com sua esposa até o dia do nascimento de sua filha.
Durante o serviço, no qual Cláudio não possuía qualquer pretensão de se envolver em riscos, surgiu o chamado para perseguir uma moto em fuga suspeita de assassinar um homem. Era tudo o que o policial não queria. Lá foi ele. A viatura seguia velozmente atrás da moto, quando um dos rapazes sacou uma pistola e disparou contra o carro. Os dois meliantes caíram com a moto logo após o ocorrido. Cláudio saiu do carro com seu companheiro de viatura, renderam os criminosos e tudo ocorreu bem até o fim do dia.
Isabelle nasceu.
Um mês de vida. Camila percebeu que estava faltando fraldas para a neném e pediu que Cláudio fosse até a farmácia ao lado de casa comprar algumas. Ele foi e, enquanto pegava a carteira para pagar, a farmácia foi assaltada. O vagabundo era um dos rapazes que um mês antes estava na moto, um menor de idade, e que reconheceu o policial. Dois tiros e correria em seguida. Era mais um policial morto fora de serviço e mais uma família destruída, uma esposa sem marido e uma filha sem um pai. E mais um vagabundo solto.