618-ASSALTO EM FAMÍLIA -
Geralda acordou cedo, deu café ao marido e preparou-se para sair.
O marido ainda estava sentado à mesa da copa, quando ela passou, a bolsa no ombro, dizendo:
— Té logo, meu bem. Vou pegar minha aposentadoria na agência da Caixa. Antes do almoço tou de volta.
Estava preocupada. Coitado do Nenzão. O dinheiro acabou e ele já está dois dias sem tomar a injeção. Está num estado miserável, seguia pensando.
Ela nem sabia que remédio era. Nenzão nunca tinha mostrado a receita para a mulher.
Como são caras essas injeções. E todo dia tem de tomar uma. —Geralda caminha rapidamente, pensando. — Mas quanto mais toma remédio, pior fica.
O sistema eletrônico na CEF estava fora do ar e ela não conseguiu receber a aposentadoria.
— A senhora deve voltar mais tarde ou amanhã — Recomendou o atendente.
Mais um dia sem a injeção. Nenzão não vai agüentar, pensou a dedicada esposa.
A bolsa estava dependura no ombro. Ela sabia do perigo dos trombadinhas, e a segurava com firmeza com a mão esquerda.
No momento em que ia tomar o ônibus, num descuido, deixou de segurar a bolsa. Naquele exato momento, um homem aproximou-se correndo, atropelando as pessoas que tentavam subir no ônibus, e lhe arrancou a bolsa.
Geralda gritou.
— Filha da puta! Miserável!
Só viu o assaltante pelas costas, correndo com sua bolsa. O ônibus partiu e ela ficou na calçada, atônita e sem saber o que fazer.
Alguns populares presenciaram o assalto e viram quando o assaltante tinha entrado num carro azul, um Fusca bem usado. Alguém tomou nota do numero da placa e mostrou para um policial que apareceu no ato.
— A senhora deve ir à delegacia fazer o BO. Fica aqui perto, só dois quarteirões. Vem comigo. Vou passar o número da placa para a ROTAN.
Enquanto Geralda estava no distrito, a ROTAN conseguiu localizar o carro azul e prendeu os dois homens que estavam dentro.Um deles segurava com firmeza uma bolsa de mulher.
A prisão foi feita e os dois meliantes foram levados para a delegacia em que Geralda estava terminando o depoimento.
Os dois assaltantes foram empurrados para dentro da sala do delegado.
— Estes dois foram presos e um deles está com a bolsa que não larga de jeito nenhum – disse um dos guardas.
O delegado olhou para os dois.
— A senhora reconhece estes homens? Perguntou o delegado.
— Este com a bolsa... Não é possível... É Nenzão! Meu marido
— Seu marido?
— Sim. Este filho da mãe é meu marido. Me dá a bolsa, seu desgraçado.
Geralda avançou para Nenzão e lhe tomou a bolsa.
— Era pra comprar a injeção, Geralda – explicou o marido.
O delegado perguntou, apontando o dedo para o outro preso.
— E quem ia lhe vender as injeções era esse traficante aí?
— Bandido. Eu num sabia que essas picadas eram de droga – esbravejou a mulher, ao mesmo tempo em que avançou para o marido, batendo-lhe com a bolsa na cabeça.
— Calma! – Mantenha a calma, dona Geralda! — disse o delegado.
— Que calma que nada! — Geralda respondeu. — Prende esse cachorro e num deixa ele sair. Se ele aparecer lá em casa, mato ele a facadas.
Isto dito, ela, com a bolsa agarrada firmemente em suas mãos, antes que delegado e guardas pudessem detê-la, saiu correndo da delegacia.
ANTONIO GOBBO
Belo Horizonte, 22 de agosto de 2010
Conto # 618 da SÉRIE 1.OOO HISTÓRIAS
Inspirado em notícia editada no Jornal HOJE, TV Globo, 18.08.2010.