2 - Angústia

Abri os olhos.

Minha cabeça doía.

Minhas narinas foram invadidas por um cheiro inconfundível de mofo.

Olhei ao meu redor. Nada vi.

Estava em um lugar apertado.

Estendi a mão e toquei o teto, sem mal esticar os braços.

Ouvi vozes, mas não entendia o que diziam.

Tentei me mexer, mas na posição em que estava não era possível.

Era um lugar muito apertado de fato.

A princípio achei que poderia ser um baú, até ouvir o barulho do motor sendo ligado.

Começamos a andar.

Pensei em gritar, a minha voz não saía.

Senti o gosto de meu próprio sangue em minha boca.

Tentei força a memória para lembrar o que ocorrera na noite passada.

Aos poucos as coisas foram aparecendo.

Aquele cara no bar, sim, claro.

Ele parecia se um cara legal. Erro fatal.

Procurei meu celular. Ele não estava lá.

Me pergunto onde estava meu velho camarada que dividia a mesa comigo.

Talvez em casa a salvo?

Talvez isso seja apenas um sonho?

Tentei gritar novamente. Saio um pigarro que seria um insulto chamar de grito.

Tentei levantar bruscamente. Bati a cabeça.

A dor de cabeça a seguir me deixou bem claro que não se tratava de um sonho.

As vozes dentro do carro pararam.

Fomos reduzindo a velocidade, até parar por completo.

Barulho de porta abrindo e batendo.

Me preparei para atacar meu raptor.

O porta malas abriu, fiquei repentinamente cego pelo clarão do maldito sol.

Algo desceu rapidamente na minha cabeça.

Escuridão.

2.

Acordei novamente.

A cabeça doía ainda mais.

Dessa vez cordas e uma mordaça me mantinham imóvel e calado.

Eles conversavam do lado de fora do carro, em frente ao porta malas provavelmente.

Abriram.

Dessa vez tudo estava escuro.

Era de fato o cara do bar, acompanhado de um outro, com uma puta cara de árabe.

Que porra havia acontecido? Será que ofendi Maomé ou Alá?

Ele me retirou a mordaça.

-"Você se lembra de algo?"

-"Apenas de beber com você, bro"

-"Ótimo. Seu amigo está morto"

3.

Estávamos em algum sítio ou rancho, em qualquer lugar que eu não faço idéia.

Belas árvores ao redor davam a impressão de se tratar de uma clareira no meio de algum bosque.

No fundo, havia uma casa grande, que me levava a crer se tratar de uma construção antiga feita provavelmente na primeira metade do século XIX, em que um dia um fazendeiro rico sem dúvidas havia morado.

Um celeiro em ruínas ao lado era o que o máximo que a falta de iluminação me permitia enxergar.

Fui levado para dentro dessa casa, onde uma mesa de madeira que aparentava pesar meia tonelada e uma geladeira antiga e de forma fascinante ainda funcional formavam toda a mobília da cozinha.

Ainda com braços e pernas dormentes devido as cordas, me colocaram numa cadeira, me disseram "Não se mova", saíram e trancaram a porta.

Sabia que estavam conversando, mas de forma alguma conseguia entender qualquer coisa do que era falado.

Passaram-se uns 20 minutos, e eu continuei imóvel.

De alguma forma já havia aceitado meu destino como morte certa, e por algum motivo mórbido minha boca formava um sorriso.

Esses dois caras sentaram cada um em uma cadeira, começaram a me encarar.

O sujeito do bar finalmente quebrou o silêncio, e disse algo que a príncipio não entendi:

-"Ok, seu amigo morreu, paciência. Mas o dinheiro ainda está lá. Você chegou até aqui. Virá até o final conosco?"

rafaltr
Enviado por rafaltr em 25/12/2014
Reeditado em 24/03/2015
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