1 - Madrugada

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Eu ando por aí.

Andando nas ruas, vejo muitas coisas.

Pessoas perdidas, pessoas chorosas.

Não sei se a procura de um sentido pra vida. Talvez seja a procura da liberdade de espírito. Mas a vida na madrugada pode ser triste. E fascinante.

O topo dos prédios, a tampa dos bueiros. Tudo parece ganhar proporções e formas novas de madrugada. O grito de angústia na madrugada soa mais alto. As pessoas parecem perder mais a dignidade.

Por isso eu observo. E também participo.

Enquanto eu caminho, posso ver todo tipo de coisa que soaria estranha a luz do dia. Mas não na madrugada.

O homem mijando no poste numa avenida movimentada passa a ser mais socialmente aceito. O mesmo homem pode dar dois passos e vomitar como um alien no meio fio, isso é normal. O casal, já totalmente desinibido por conta do álcool, não será chamado de vulgar. A vida na madrugada é mais divertida, disso não tenhamos dúvidas.

As pessoas conversam mais e com tom de voz mais alto de madrugada. Se descobrir conversando com um estranho é uma coisa normal e corriqueira. Muitos só saem a noite para isso: encontrar um desconhecido. De madrugada perdemos a nossa natural noção de perigo.

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Foi numa madrugada dessas que tudo aconteceu.

Encontrei um amigo, e saímos sem destino.

Chegamos a um bar até que razoável, e decidimos ficar por ali mesmo.

Ao nosso redor, tinha pessoas de todos os tipos.

Feias, bonitas, magras, gordas, loiras, negras e ruivas. A maioria tão vazia e transparente quanto uma taça de champagne.

Em determinado momento da noite, um desses agradáveis estranhos decidiu puxar assunto conosco.

O nosso erro foi confiar e deixar essa situação habitual (e inusitada) se prolongar tanto.