O PARAÍSO É LOGO ALI cap. 3

Examinei a fundo as marcas do calçamento. Afastei-me e fiquei observando de longe. Apenas uma mulher velha, a mesma de ontem, veio até a ponte, chorou e foi embora. Pensei que ela deveria ser parente de uma das vítimas. Fui ao Hospital e conversei com o médico. Ele disse que os jovens estavam fora de perigo mas que eles estavam muito fracos pra sair do hospital. Ele não entendia, por mais que os fizesse tomar soro e lhes fizesse transfusão de sangue eles pareciam mais fracos a cada dia. Perguntei pelos parentes e ele me disse que ninguém viera lhes visitar, a não ser uma professora da Faculdade. Moravam no alojamento da Faculdade e não tinham parentes. Ou estes parentes não ligavam a mínima pra eles. Sem nenhuma resposta as minhas dúvidas saí do hospital e resolvi investigar as fichas dos alunos na FACIG. Na Faculdade, o doutor me mostrou as fichas deles e tirei cópias de todas as fichas dos alunos vivos e mortos do acidente da ponte.

Comecei por ordem alfabética. A primeira aluna tinha pais e o endereço era na cidade vizinha. Mas ao investigá-los descobri que não existiam. Não havia nenhuma conta paga por eles e não havia ninguém com esse nome morando na cidade. Um homem me disse que há muitos anos, na cidade havia um homem que se chamava assim, mas desapareceu de repente e nunca mais foi visto. Ele realmente morava por ali. Atualmente no endereço morava outro casal. Eles não eram nem parentes do antigo dono da casa.

Fui procurar o tal casal de novo e fiz perguntas sobre o tal homem. Eles disseram que não conheceram e que compraram a casa de outro dono há muito tempo.

Alguma coisa me dizia que com os outros alunos seria a mesma coisa. Nenhum parente. Quem eram aqueles jovens e porque alguém quereria se livrar deles assim? Não sei porque mas meu pensamento vagueava e voltava sempre pro mesmo ponto: Helen Cristina!!! Quem era a quela professora e porque o seu desespero em querer a ponte pronta? Resolvi que a ponte não tinha nada mais a me mostrar e fui procurar o Prefeito Fernando. Ia lhe dizer que voltasse a reconstruir a ponte. Quando cheguei a prefeitura encontrei a maior confusão. Os funcionários estavam em frente ao prédio e falavam sem parar de alguma coisa. Uns estavam chorando e outros estavam muito esquisitos. Aproximei-me de um jovem rapaz de uns 27 anos de idade, cabelos cacheados e fisionomia calma, e perguntei:

_O que aconteceu por aqui? Onde está o prefeito Fernando? _ O rapaz me olhou com a cara espantada e respondeu:

_Morreu ontem a tarde e ninguém sabe o que o levou a isto. Estava muito estranho desde que a ponte caiu. Ontem parecia mais fraco do que de costume mas não parecia que morreria de uma hora pra outra assim.

Ele estava doente?

_Não. Nunca o vimos ficar doente. Tinha uma saúde de ferro. Sempre corado e enérgico. Parecia uma formiga atômica. Punha todos a trabalhar sempre que chegava no trabalho. Antes da ponte cair ficou uma semana focado no trabalho a tal ponto que não saiu da prefeitura. Ontem apagou como se fosse uma lâmpada. Simplesmente assim. Os médicos não encontraram nada de errado nele. Apenas que havia morrido. Não foi enfarte, não tinha câncer e não tinha nenhuma infecção no corpo. Nada de errado. Muito estranho! Ele era muito gentil e por isso a gente gostava muito dele.

_ Estranho mesmo! Onde está o corpo dele?

_ No salão da câmara de vereadores. Logo acima da prefeitura. Parece que está dormindo.

Resolvi subir e ver com meus próprios olhos. Lá estava o prefeito dormindo dentro do ataúde. Parecia até que respirava. Eu toquei nele e constatei que ainda estava morno. Perguntei se fazia muito tempo e me responderam que fora ontem a tarde. Era muito estranho ele estar mole e morno ainda. Mandei remover o corpo para i IML da cidade vizinha e disse que ele deveria ficar lá até que as investigações fossem terminadas. O povo não gostou nada disso mas expliquei que tinha algo errado com a morte dele e que ele ainda estava morno. Muitos testaram e se convenceram da veracidade do que eu havia falado. Talvez ele ainda esteja vivo, alguns comentaram. Resolveram que eu tinha razão e deixaram levar o prefeito pro IML. Procurei a Helen pra saber dela o que ela achava de tudo isso e a encontrei chorando em frente a ponte. Sentada no calçamento, encolhida sobre os joelhos. Perguntei-lhe enfaticamente:

_ O que está acontecendo? Como eu posso te ajudar se não me ajuda? Conta-me a verdade: Quem é você Helen Cristina?

_Por favoooor!!! - Helen só conseguia chorar, e diante da fragilidade dela eu a segurei nos braços e a abracei ternamente. Ela chorou convulsivamente até secarem as lágrimas e só então pude perceber que seu rosto parecia envelhecido. Acho que era o sofrimento. Parecia hoje com uns quarenta anos. Condizia com a idade que ela me disse que tinha. Depois de chorar muito, Helen me acariciou o rosto e me beijou. Pegou-me de surpresa e eu, que já andava com o seu rosto na minha mente desde a semana passada, fiquei derretido por ela. Nunca pensei na possibilidade de amar alguém de verdade mas agora tenho certeza de que estou perdido de amores por essa menina mulher, que ora parece menina e ora parece mulher.

Helen sentiu-se melhor depois beijar o JH e de desabafar com ele. Não lhe contou nada sobre seu povo mas precisava da ajuda dele e por isso, disse-lhe:

_ Jhon, Eu estou muito triste por causa dos meus alunos e eles precisam desta ponte reconstruída urgente. Não posso lhe explicar agora mas acredite ela é vital para nós. Ajude-nos!

_Pode deixar que eu já estou tomando as providências. _ Depois de deixar a Helen na Faculdade, fui a prefeitura e descobri que já havia alguém dando ordens por lá. O Governador fez com o vice tomasse posse do cargo e ele já estavas a apostos. Pedi-lhe que concluísse a ponte e se precisasse de ajuda era só falar. Agradeceu-me e dispensou minha ajuda dizendo que tudo já estava encaminhado.

De volta a ponte lá estavam os homens a trabalhar e muitos outros que eram apenas moradores a trabalhar para que as obras se adiantassem. Parte da ponte já estava de pé e o restante logo, logo estaria.

Senti vontade de ver a Helen mas me contive. Tinha trabalho afazer. Fui ao hospital e soube pela enfermeira que 4 dos jovens internados lá, estavam mortos. O médico não conseguia entender o diagnóstico. Nada que mostrasse problemas de saúde. Taxas normais, pressão sanguínea normal até se extinguir, como uma lamparina apagando por falta de combustível. Nenhuma infecção, nenhum enfarte nada enfim. Ficou muito abalado e tirou o resto do dia de folga. Nada poderia fazer pra salvar a vida dos outros jovens. Passei para a enfermeira a ordem de mandar os jovens para o IML e de que ninguém mexesse neles até segunda ordem.

Resolvi procurar os jovens restantes. Eram treze meninos e cinco meninas. Seja lá o que fosse os rapazes estavam mais vulneráveis. Diante das meninas notei que nenhuma delas parecia ter a idade que o diretor mencionara. Todas aparentavam ter pelo menos uns trinta anos de idade. Pareciam cansadas e fracas. Mas estavam bem. Todas perguntaram pela ponte. Se já estavam consertando e quando eu dizia que ainda faltava muito pra consertá-la, as lágrimas desciam pela face. Não me responderam nada de relevante.

Helen me ligou perguntando se a ponte demoraria a ficar pronta e eu disse que não sabia. Ela então me apressou e desligou. Achei estranho ela não tentar me ver. Falou comigo apenas no celular e desligou muito rápido. Fui apressar o trabalho dos operários na ponte. Um deles avisou que havia previsão pra chuva no final da tarde. Disse que isto atrapalharia as obras, que já estavam quase no final. Helen apareceu mas evitava me olhar. Não entendi porque e por isso fui procurá-la.

_Olá Helen!

_Olá Jhon! Tenho que ir.

_Porque não me olha nos olhos? O que há?

_Desculpe-me, mas é melhor assim.

_Por quê? E segurei o seu braço. Abracei-a, e quando olhei em seus olhos, entendi que havia algo muito errado. A minha Helen não poderia ser aquela mulher! Seu rosto aparentava ter mais de cinquenta anos de idade. E então gritei:

_Que loucura!!! Acho que enlouqueci!!! Você não é a Helen! _ E chorei como uma criança.

continua...

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 03/11/2014
Reeditado em 03/11/2014
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