Mistério na Rua da Escola. - cap. 4- Um lugar encantador.

Caminharam por uma hora aproximadamente, em uma trilha, que fazia a selva de Tarzan parecer brincadeira. Via-se que as picadas feitas a facão foram abertas recentemente. Havia muitas orquídeas selvagens naquela região e isso lembrava Vila Florida. Não havia outras flores por perto e estavam dentro da mata virgem. As árvores eram gigantes. Nunca vira tão grandes na vida. Começou a ouvir o som de uma cachoeira, mas não a avistaram por mais de trinta minutos. Quando se aproximaram o homem disse ao menino: Cuidado, as pedras podem rolar. Segure a minha mão. Jairo obedeceu, mas não gostou nada do que vinha pela frente. Não estava gostando da ideia. Quando chegaram, a água espirrava longe molhando-os inteiros. O homem grudou em sua mão com muita força e o arrastou pra dentro de uma rocha. Embaixo da cachoeira havia uma caverna. Antes de entrar, Jairo observou uma micro-hidrelétrica bem arcaica improvisada ao lado da cachoeira.A caverna era grande e tinha iluminação pois o homem tocou em um interruptor e tudo se acendeu. A lâmpada era de led e o ambiente estava decorado com objetos de nossa época. Coisas que estavam dentro dos carros que haviam sido trazidos antes. O fusquinha de Maurão devia ter vindo lotado. O chão fora forrado com uma pasta feita de cinza e, provavelmente, uma cola qualquer inventada com ingredientes da natureza local. Ficou até muito bom. Parecia cimento. Entraram caverna a dentro e cada vez mais parecia que estavam em 2014. Encontraram uma porta e quando o homem colocou o dedo num buraco a porta se abriu. Foi incrível!!! Jairo perguntava-se em que época estariam? Que lugar era aquele?

_ Olá Jairo! Exclamou o Maurão mesmo antes virar as costas.

_Maurão!!! Que legal, cara, você está vivo!!! Que história é essa de Deus do trovão?

_Claro que estou vivo menino! Pensei que você morreria. É muito novo pra fazer uma viagem destas. O que te levou a fazer isso? Ficou maluco? - E deu-lhe um forte e caloroso abraço. Deus do trovão é só uma brincadeira dos policiais por causa das explosões que eu causo.

_Não. Vim aqui pra te avisar que você uniu o passado e o presente e agora está acontecendo alguma coisa. Onde está minha mochila? Quero te mostrar uma coisa.

_Já sei o que vai me mostrar. Vi a foto e pensei que isso poderia acontecer.

_Quem quer que você tenha encontrado aqui, está mudando o passado e em consequência o futuro também será mudado.

_Eu construí o futuro. Fundei Vila Florida como eu quis que ela fosse. Moldei o destino a meu bel prazer.

_ Mas sua imagem está desaparecendo!!!

_Mas a juventude de lá estará salva.

_ Como assim?

_ Deixa comigo menino, que eu sei o que estou fazendo.

E se afastou sem dar ouvidos a Jairo. Mas o menino não desistiu e o seguiu.

_Maurão, eu quero te dizer que quero voltar pra nossa época.

_Sinto muito se eu sou responsável por você ter vindo pra cá, mas não podemos voltar mais.

_ Esta foi a última tentativa de voltar pra lá. Acabou o combustível e aqui não existe material pra fabricá-lo. Estive tentando, mas toda vez que tento ir, alguém vem. Não quero trazer mais ninguém pra cá. Não é justo. Esqueci alguma coisa da fórmula e por isso não está dando certo.Sinto muito por você!

_Olha só Maurão, dentro da minha mochila tem as suas anotações e uns líquidos que tinha no seu laboratório. E também os meus estudos sobre o teletransporte. Se nós trabalharmos juntos, talvez consigamos reverter esta situação. Caso contrário, breve você não existirá mais e eu ficarei pra sempre preso aqui. Me ajuda vai! Por mim!

_ Tudo bem. Vamos ver o que você trouxe.

A mochila estava no barraco em que eu estava. Maurão disse que eu fiquei muitos dias doente e que pensou que eu não resistiria. Tive febre alta e molhei toda a minha roupa. Por isso estava vestido assim. Encontramos o homem moreno que conheci antes. Devidamente apresentados, fiquei sabendo que ele se chamava Joe e era um dos policiais que estavam na viatura. Os carros estavam em um outro barracão. Funcionavam perfeitamente e eram usados para transportar coisas de um lugar para outro, inclusive o fusca do Maurão que era movido a etanol, fabricado ali mesmo num alambique improvisado por Maurão. Os outros carros tinham combustível fóssil mas era economizado,agora, pois não haveria outro se acabasse, inclusive fora por esse motivo que a outra viatura foi trazida. Por enquanto Maurão só conseguia trazer objetos para cá e não conseguia se transportar de volta.

Dentro da mochila, Maurão encontrou tudo o que precisava pra recomeçar a pesquisa de onde parou. Os dados que faltavam estavam o tempo todo em seu laboratório. A vinda de Jairo foi providencial.

Começaram a trabalhar imediatamente. Em suas pesquisas descobriram que estava acontecendo algo raro. Abriram um portal do tempo pra vila florida mas ele se fechava como um funil. Sua abertura maior era lá. Por isso era mais difícil ir dessa época para lá.

Agora Maurão, cheio de esperanças tinha certeza de que conseguiria voltar pra casa.

Diva ainda chora só de pensar em Jairo perdido em uma época sem poder voltar. Tinha que confiar nele mas era muito difícil aguentar a saudade e esperar pela sua volta. Sua mãe sempre dizia pra ela que poderia ficar tranquila que o amor vai e vem e ela arranjaria outro menino. Mas ela nem queria ouvir isso.

Eu andei por muitos lugares mas não está sendo muito legal. A Diva não quer sair de casa. As aulas começaram de novo mas ela não quer ver ninguém. A rua da escola foi interditada e nós temos que entrar pelo portão de trás. Não pode ficar nenhum carro estacionado naquele trecho. A polícia tem medo que outros carros sejam levados pelos ladrões. Acredita que até hoje eles pensam que foi uma mágica que levou os carros? Pois é, são mesmo otários. A diretora está substituindo o Maurão. Que chatice!!! O trailer de doces está do outro lado da escola agora. A garotada continua viciada em refrigerante beijinho. Ninguém anda se embebedando mais. As drogas e o sexo ficaram em segundo plano. As duas meninas que estão grávidas aos quatorze anos, estão tendo todo o apoio dos meninos que as engravidaram. A turma toda fez chá de bebê pra elas. A Diva não foi. Mas a Elisa, a Luísa e eu viemos. Os bebês serão muito bem-vindos a sala de aula. Não queremos que elas parem de estudar e por isso prometemos que daremos todo o apoio.

Os professores estão orgulhosos de todos os alunos. Parece mágica. Como é que esta turma que antes era a cara da orgia agora se mostrava assim tão solícita e responsável.

Resolveram fazer uma homenagem ao Maurão por causa da ausência dele. Sabíamos que ele era considerado morto. A polícia oficializou isto. Assim o Jairo também foi dado como desaparecido pois a mãe dele reclamou que não o encontrava em lugar algum.

Nossa turma sabia que não era exatamente isso, mas não houve como evitar. Haveria uma celebração no pátio da escola A Diretora mandou fazer um chafariz pra lembrar de Maurão, que era o que mais se preocupava com a questão d'água e do meio ambiente. Ela teria que contratar um professor pois não poderia ficar substituindo a vida toda não é? Assim que o chafariz ficasse pronto a celebração ecumênica aconteceria.

Sentimos muito essa notícia, mas tivemos que concordar. Já faz um mês que o Jairo resolveu ir atrás do Maurão e todos os dias nos perguntamos o que teria acontecido com ele e por que ele ainda não tinha voltado. A Diva está inconformada e ainda acredita que eles voltarão.

Continua...

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 15/10/2014
Reeditado em 22/10/2014
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