O mistério do Beija flor. 5° capítulo.

Procurei por Pedro e ele estava internado. Sem esperança caiu em depressão. Dizem que os gêmeos tem uma ligação direta, mas ele não conseguia saber da irmã e pensava que ela tinha mesmo virado um beija flor.

Voltei pro parque e pro vagão. Tinha alguma coisa que eu não observara que ainda seria descoberto por mim. O chão era de cimento e não havia passagem secreta. Disso eu me lembrava muito bem.

Quando chegava ao parque pareceu-me ver o Arrural do médico saindo de lá. Voltei pro vagão e entrei de novo. Nada de diferente. Na parede o quadro da menina estava torto. Tentei consertar e abriu a porta que dava pra montanha. Então segui pelo escuro até ouvir a voz da Gisele e de outra menina que conversavam. Só que eu não entendia nada. Fui me aproximando e ouvi claramente a menina dizer que queria ir embora. Gisele dizia pra ela ficar calma e num dado momento ela perdeu a paciência e gritou com a menina:

_Você quer que as pessoas a vejam neste estado? Vão fugir de você!! Tenha paciência. Logo vou consertar essa máquina.

Com medo de encarar a coisa de frente, fugi dali e fui pra cidade. Na cidade as pessoas começaram a querer rezar missa pela alma das meninas e isto deixou os pais ainda mais tristes. Sempre há esperança quando não se tem certeza do fim. Marcaram uma missa pra dali a uma semana na praça da cidade. Bem defronte a estátua do beija flor. Espero que até lá essa missa tenha se transformado em missa de Ação de Graças.

Pedro não demonstrava sair da depressão. A mãe dele, aparentemente, teve um enfarto do miocárdio. O estado de saúde dela é complicado.Está toda torta e não sente a perna e o braço esquerdo. O pai de Pedro não faz parte da família há muito tempo. Deixou-os quando eles eram crianças e eles cresceram com os avós maternos e a mãe. Agora as coisas se complicam. Os avós não estão mais vivos e a mãe não está bem. Espero que as coisas melhorem.

Voltei a caverna pra tentar falar com a Gisele, mas o dr Fritz chegou de carro e eu me escondi. Ele entrou na caverna e logo depois saiu com alguém que estava com um lenço enrolado na cabeça. Era uma menina. Provavelmente aquela que estava dentro da caverna com a Gisele. Ela devia atrapalhar muito e ele resolveu levá-la dali. Fiquei com medo dele fazer algum mal a ela e o segui discretamente. Engano meu. Ele foi carinhoso com ela e até pediu perdão por tudo o que ela estava passando. Disse que as coisas iriam se arrumar. Pra ela ter paciência. Que era pra ela ficar por ali e não deixar ninguém vê-la senão ele poderia ser preso e assim ninguém seria capaz de ajudá-la. Ela ficaria assim pra sempre. Saiu e deixou a menina sozinha. Ela desobedecendo ao médico correu pra longe dali, mas eu a segui e segurei seu braço. Diante dos gritos dela eu quase a soltei mas resisti e abracei amenina dizendo palavras que a acalmassem. Ela foi cedendo até que parou de gritar. Estávamos longe do vagão e por isso não fomos ouvidos. Tentei tirar-lhe o lenço do rosto mas ela não deixou. Disse que estava horrível e quis voltar pro vagão. Impedi e disse que era da polícia e queria ajudá-la. Foi o mesmo que ofender a garota. Que burro que eu fui. Ela saiu correndo e eu atrás dela. Não consegui ver seu rosto. Resolvi segui-la até ela entrar no vagão. Então fui embora com medo que o médico viesse atrás de mim. Quando cheguei em casa encontrei um bilhete da Gisele dizendo assim:

“Caro amigo Agá (era assim que ela me chamava)

Confia em mim por favor.

Ele não saberá da sua presença, mas é melhor tomar mais cuidado.

Estou quase resolvendo tudo. É bom saber que está por perto.

Abraços Gisele.”

Deve ter sido trazido por um beija flor. Ninguém viu alguém estranho perto da casa. Fiquei mais tranquilo. Mas não podia mostrar o bilhete a ninguém e nem dizer onde ela estava. Evitava as pessoas para não ser julgado. Fui ao Hospital e mostrei o bilhete a Pedro que ficou um pouco mais animado. Pedi a ele que não contasse nada a ninguém. Não contei nada sobre a menina estranha do lenço. Ele não estava preparado pra isso. Só ficou triste porque não havia nenhuma menção a ele no bilhete da irmã.

Demorou dois dias sem notícias até que um beija flor jogou em cima de mim, no parque, um bilhete que dizia:

“ Querido Agá

O dr já sabe de sua boa intenção e resolveu contar consigo também. Peço que me traga um traço de DNA das meninas desaparecidas. Qualquer coisa serve. Cabelo, unha ou parte delas.

Acho que você pode conseguir cabelo de alguma escova que tenha sido somente delas. É urgente.Aguardo ansiosa.

Gisele.”

Fiquei eufórico na hora e sai rápido pra procurar pelas famílias das meninas. Não iria dizer o que procurava, mas pediria pra visitar o quarto das meninas. Assim não dava esperança pra nenhum parente. Foi difícil no começo pois não estavam confiando mais em mim mas no final todos cooperaram e logo consegui material genético de todas. Suas escovas esperavam por elas do jeito que elas deixaram. Obtive certeza de que ninguém entrara no quarto delas. Ou usara qualquer objeto.

Continua...

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 17/09/2014
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