Quatro e quinze da manhã, Ragmar desce de um Renault velado em frente ao prédio de quarto e salas onde moro. Carrego minha arma, coloco o distintivo e por precaução e mais um carregador municiado sobressalente.
- Nereu meu chapa, será hoje a negociação. Marcaram às 07:00 próximo à rodoviária. Serão dois ou três caras e uns cinco quilos de pó. Vamo nessa, cumpadi, vamo pegar esses malandros...
Ragmar era um antigão de polícia, já deveria estar aposentado. Mas, não o fazia por ser um cara extremamente solitário. Eu apenas antigo de idade, 48 anos e apenas 7 de polícia. Havia largado o serviço de carteiro e estava viúvo há dez anos. Na verdade, não aguentava mais andar a pé a cidade inteira... Sabe, me dou muito bem com Ragmar, temos quase a mesma idade, ele trata muito bem a Cláudia, 26 anos, minha filha, a quem chama de sobrinha. Está atualmente com 51 anos e muito bem disposto.
Nosso carro corta velozmente a cidade em direção à Rodoviária. No caminho lembro a máxima de Ragmar: - "Um policial se impõe pela maldade que pratica." Ele sempre diz isso para exaltar nossa coragem e determinação em serviço. Na verdade, nunca o vi fazer mal a ninguém, a não ser bandidos, claro.
Às 06:50 paramos o carro num café ao lado da Rodoviária. De um ônibus vindo da região fronteiriça desce um sujeito moreno carregando uma pesada mochila. Em seguida um carro sedan preto 04 portas, para e o rapaz começa a seguir em sua direção, quando então, Ragmar grita: "Parado, polícia!" Nesse instante, dois elementos descem do sedan e disparam pesadas rajadas de fuzil em nossa direção. Ragmar instantaneamente cai. Eu, depois de descarregar minha arma em direção a eles, não consigo encontrar o outro carregador para novamente atirar. Deve ter caído dentro do carro na hora dos disparos... Após alguns segundos, um profundo silêncio se estabelece na manhã. Ouço então um fraco gemido, vejo uma Beretta jogada ao chão, corro em direção a meu parceiro. Ele está gravemente ferido e golfa incessantemente sangue pela boca.
Pouco antes de morrer, olha-me firmemente nos olhos e diz: "Nereu, diga à Claudinha que eu ..."
Mato Grosso, Setembro de 2014.
Nota:
Diligência ou ação: rotina de serviço policial geralmente utilizando-se viaturas oficiais.
Renault Velado: Veículo da marca Renault comumente utilizado pela polícia no Brasil, só que da forma descaracterizada, ou seja, sem a típica pintura policial.- Nereu meu chapa, será hoje a negociação. Marcaram às 07:00 próximo à rodoviária. Serão dois ou três caras e uns cinco quilos de pó. Vamo nessa, cumpadi, vamo pegar esses malandros...
Ragmar era um antigão de polícia, já deveria estar aposentado. Mas, não o fazia por ser um cara extremamente solitário. Eu apenas antigo de idade, 48 anos e apenas 7 de polícia. Havia largado o serviço de carteiro e estava viúvo há dez anos. Na verdade, não aguentava mais andar a pé a cidade inteira... Sabe, me dou muito bem com Ragmar, temos quase a mesma idade, ele trata muito bem a Cláudia, 26 anos, minha filha, a quem chama de sobrinha. Está atualmente com 51 anos e muito bem disposto.
Nosso carro corta velozmente a cidade em direção à Rodoviária. No caminho lembro a máxima de Ragmar: - "Um policial se impõe pela maldade que pratica." Ele sempre diz isso para exaltar nossa coragem e determinação em serviço. Na verdade, nunca o vi fazer mal a ninguém, a não ser bandidos, claro.
Às 06:50 paramos o carro num café ao lado da Rodoviária. De um ônibus vindo da região fronteiriça desce um sujeito moreno carregando uma pesada mochila. Em seguida um carro sedan preto 04 portas, para e o rapaz começa a seguir em sua direção, quando então, Ragmar grita: "Parado, polícia!" Nesse instante, dois elementos descem do sedan e disparam pesadas rajadas de fuzil em nossa direção. Ragmar instantaneamente cai. Eu, depois de descarregar minha arma em direção a eles, não consigo encontrar o outro carregador para novamente atirar. Deve ter caído dentro do carro na hora dos disparos... Após alguns segundos, um profundo silêncio se estabelece na manhã. Ouço então um fraco gemido, vejo uma Beretta jogada ao chão, corro em direção a meu parceiro. Ele está gravemente ferido e golfa incessantemente sangue pela boca.
Pouco antes de morrer, olha-me firmemente nos olhos e diz: "Nereu, diga à Claudinha que eu ..."
Mato Grosso, Setembro de 2014.
Nota:
Diligência ou ação: rotina de serviço policial geralmente utilizando-se viaturas oficiais.
Distintivo: brasão com as armas da polícia para identificação. Geralmente utilizado na carteira de serviço ou pendurado ao pescoço.
Carregador: estojo metálico onde se guardam munições, aptas para serem acopladas através desse objeto à arma de fogo, quando da necessidade do remuniciamento.
Beretta: Marca de pistola de origem italiana, (armamento), muito popular por sua eficiência e largamente utilizada por policiais das décadas de 70, 80 e 90.
Revisão: CSVF