Marina, menina mulher 4° Capitulo

A Tragédia

Sentada sobre a escada da entrada do casarão, fiquei a olhar para a rua e observar as pessoas que passavam, no seu vai e vem de cada minuto. Passou um homem com uma menininha segura pela mão. Ela numa pirraça danada e ele numa paciência que dava prazer. Saudades de meu pai. Como ele era bom pra mim. Até quando eu pirraçava ele me dava carinho. Um caipira, diriam minhas amigas, mas alguém de um coração tão bom, que duvido que algumas pessoas que se dizem "Cultas", saberiam lidar comigo como ele lidava. Dizem que uma índia, conserta até doze vezes um vaso quebrado por uma criança, até que ela enjoe e pare de quebrar. Acho que meu pai era um pouco assim. Jamais perdeu a paciência comigo. Lembro-me daquele dia em que tudo mudou para mim.

Era 20 de dezembro de 2012 e eu resolvi fazer uma brincadeira diferente. Pus uma boneca em cima do fogão dizendo que estava frio e ela queria esquentar. Meu pai disse que não estava frio e tirou a boneca de lá. Eu tinha dez anos mas era um tanto mimada. Era filha única e apesar de não termos muito dinheiro, nada me foi negado até aquele dia. Retornei a boneca para o fogão de lenha e disse que ela estava chorando de frio. Meu pai riu e disse que ela iria derreter de calor. Saiu e foi pra fora buscar lenha. Minha mãe estava um pouco adoentada e estava de cama pois havia tomado um remédio para febre e por isso deu sono nela.

Meu pai demorou-se tempo demais rachando lenha e eu, apesar de ter dez anos, era muito ingênua e brincava muito sozinha, sempre falando com meu amigo imaginário. Tinha meus amiguinhos na escola, mas em casa, como era um pouco distante, não tinha ninguém para brincar.

Naquele dia, Nem percebi que a boneca estava queimando. Quando vi, saí correndo para chamar meu pai. E fiquei tão esbaforida que não conseguia falar. Quando meu pai me deu água da torneira, que minha mãe usava para regar as plantas da horta, e eu consegui falar já era tarde demais. A boneca queimara toda e a cozinha estava pegando fogo.

Eu chorava muito e pedia pro meu pai, socorrer a minha boneca. Mas não tínhamos uma mangueira muito longa e nem telefone. Meu pai tinha que pegar água muito longe pra apagar o fogo. Logo ele se espalhou e a fumaça chamou a atenção dos vizinhos que moravam mais além.

Quando chegou alguém, minha madrinha de batismo, meu pai disse pra me olhar e correu pra dentro daquela fornália para tirar a minha mãe e só então que lembrei dela. Comecei a gritar, a chamá-la e a meu pai e a chorar muito. Nunca mais vi meu pai e nem minha mãe.

Quando o fogo acabou, só restaram as cinzas. Me sinto tão culpada. Minha madrinha me disse que a culpa é do destino e que eu era muito novinha pra saber de alguma coisa e que Deus sabia o que fazia. Ela me levou pra casa mas o tal de Juiz decidiu que ela não era minha parente e me entregou pra minha "tia". Na verdade, tia do meu pai.

Acordei sentada na calçada com a mão de Diana em meu ombro. Ela disse que eu soluçava dormindo e perguntou se eu tinha tido um pesadelo.

Respondi que não era um pesadelo qualquer e sim meu próprio pesadelo. E lhe contei minha história.

Ela me deu um abraço e me fez acreditar que a culpa é realmente do destino e que todos passamos por coisas que não entendemos, mas o Criador sabe por quê.

Depois de despedi-me de Diana, entrei pra casa e fiquei lendo meu livro preferido. "O Pequeno Príncipe" de Antoine de Saint Exuperry. Amo este livro pois foi o presente que minha madrinha me deu antes de eu ser levada pela comissária de menores. O fato é que ele também é muito bom. Eu também me sinto sozinha e ele me iguala ao menino da história.

Enquanto lia, ouvi a voz de minha tia me chamar. Desci e atendi seu chamado. Ela me mandou tomar um banho e colocar meu melhor vestido e descer pra festa que iria acontecer mais tarde. Achei estranho. Não sei porque mas não gostei do jeito dela. Nadinha de nada. Será que aquele velho babão iria vir a festa?

Não sabia mas, fiz o que ela mandou e desci às 8 horas da noite. Lá na sala estavam muitas pessoas. Inclusive ele. A tia me apresentou as pessoas e as meninas de mais idade que estavam lá. Mulheres muito bonitas mas que usavam muita maquiagem. Acho feio mas elas disseram que eu me acostumaria pois era necessário uma mulher se maquiar melhor. Pensei : _ Nem morta!!!

A música estava alta e havia muita bebida. Minha tia me deu uma bebida pra eu beber e disse pra eu não me preocupar, pois não tinha álcool. Não sei o que tinha mas não me senti muito bem depois que bebi. Fiquei um pouco tonta e pedi licença e fui me deitar. Minha tia não gostou mas azar o dela. Fui assim mesmo. Amanhã será um longo dia e tenho aula.

Continua...

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 29/08/2014
Reeditado em 01/09/2014
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