É bola mata
Dona Gertudes não largava o telefone e andava impacientemente sem rumo dentro de sua residência. Já passava das 21h e o seu marido Robualdo Grana Grande, um empreiteiro muito respeitado e requisitado no mundo da política, ainda não tinha chegado, nem ligado ou enviado uma mensagem pelo Facebook ou Whattsap. Ele sempre avisava quando ia demorar a retornar.
De camisola, ela já tinha tomando uma garrafa e meia de chá de boldo para atenuar a dor que sentia no estômago. Também havia feito ligações para todos os amigos do seu conjugue, mas não obteve êxito na procura por ele.
Quando os ponteiros do relógio apontaram para as 22h45min, o seu único filho abre a porta da sala e a dona de casa, com um tom de desespero, fala: – Robualdo Júnior, o seu pai ainda não chegou. Estou com medo de que algo sério tenha acontecido com ele.
– Calma mãe, nada sério deve ter acontecido com o papai. Ele era muito bem relacionado. Se alguma coisa de ruim tivesse acontecido, já teriam ligado para a gente. Esqueceu-se que notícia ruim aparece rápido – disse o filho. Este guardou o caderno e dois livros que ainda estavam em suas mãos, foi até a farmácia de sua residência, pegou um Rivotril, um copo de água e deu para a sua mãe beber. – Tente ficar calma mamãe, vou ligar para um amigo meu. Tenho certeza que ele vai nos ajudar a descobrir o que aconteceu com papai. Tente dormir que eu resolvo esse problema – falou Robualdo Júnior, com um semblante de preocupação, que tentava disfarçar.
Assim que terminou de conversar com a mãe, Robualdo Júnior ligou para um amigo, que era policial federal e se chamava Roberto Carlos. Este sofreu muito bullyng na infância por causa do nome que lhe foi dado em homenagem ao rei da música brasileira. Creio que foi por isso que ele se tornou policial. Os xingamentos e brincadeiras chatas que sofreu quando moleque fizeram com que crescesse dentro dele uma vontade de fazer justiça e proteger os mais fracos.
O policial rei, apelido dado a Roberto Carlos por alguns colegas de profissão, quando ouviu o pedido de ajuda do amigo, imediatamente se prontificou a ajudar e disse: – Juninho, fique na sua casa, que eu passo aí daqui a dez minutos e nós vamos juntos ao escritório do seu pai. A partir de lá nós começaremos a investigação do paradeiro dele. Mas, por enquanto não conte nada a ninguém. Seu pai é uma pessoa muito famosa e corremos sério risco da mídia atrapalhar nossa investigação. Desligou o telefone, trocou de roupa, pegou a chave do carro, que estava sobre a mesa da sala de jantar, sua arma, que ficava abaixo do colchão, colocou-a sob a meia do pé direito, disse para a esposa que ia ajudar um amigo e que voltava logo. Dito isso, pegou o seu carro, um espetacular Mustang 1964, e foi para a casa de Robualdo Júnior.
Enquanto o amigo policial não chegava, a mãe de Juninho sentiu os efeitos do calmante, adormeceu e foi levada pelo filho até a cama. Este pegou uma maçã na cozinha, tomou uma xícara de café e foi para a frente da sua residência esperar o policial rei chegar.
Roberto Carlos chegou no tempo prometido, pegou seu amigo, que estava bastante aflito e juntos partiram rumo ao escritório de Robualdo Grana Grande.
Os dois chegaram ao local desejado em 25 minutos, subiram apressadamente as escadas para o escritório, que ficava localizado no segundo andar do prédio empresarial Place of Money.
Ao andar apressadamente pelo corredor, os amigos acharam estranho o fato da porta do escritório está entreaberta. Policial rei saca a arma, termina de abrir a porta com extrema rapidez e adentra no recinto rolando pelo chão, apontando a arma para diversas direções. Robualdo Júnior entra logo em seguida e não acredita no que vê. Põe as duas mãos na cabeça, os olhos se enchem de lágrimas, as pernas fraquejam; ele tenta falar, mas não consegue. O pai dele estava sentado no sofá, de uma maneira como estivesse sido arremessado, um copo de uísque estava jogado no carpete persiano, alguns livros da estante e o telefone fixo estavam jogados no chão.
O amigo policial, depois de ter vasculhado o escritório à procura de alguém, volta-se para o Robualdo Júnior e percebe o choque emocional dele. Com uma mão amiga, ele passa o braço sobre o seu ombro, puxa-o para sua direção e, lhe dando um abraço forte, fala: – não se preocupe Juninho, nós vamos descobrir o que aconteceu de fato com o seu pai. Agora beba esse copo de água e tente se acalmar – finalizou as palavras, após pegar um copo de água em um “Gelagua” que ficava ao lado da porta de entrada e dá para o amigo.
Logo após ajudar Robualdo Júnior a se conter emocionalmente, policial rei começa a procurar pistas que o ajudassem a desvendar o mistério da morte do pai de Robualdo Grana Grande e pensa: – Será que ele foi envenenado? Será que ele se matou?
Roberto Carlos começou sua investigação vasculhando a estante, depois olhou embaixo do tapete; com uma lanterna especial procurou impressões digitais e marcas de calçados; foi até o banheiro, abriu todas as gavetas do birô do falecido, mas não conseguiu encontrar nada que o levasse a crer que o caso era de assassinato, e já começou a pensar na hipótese de suicídio.
Antes de ir embora e avisar a polícia sobre o ocorrido, Roberto Carlos, que era um “tremendão” policial, decide levantar o sofá onde estava o falecido e encontra um papel com os dizeres: na cueca do defunto descobrirás o motivo do justo assassinato desse canalha.
Assim que termina de ler o bilhete, policial rei abre a calça do empreiteiro morto. Robualdo Júnior acha estranho o fato do amigo estar metendo a mão nas partes íntimas do pai, mas prefere nada comentar; só observa. Roberto Carlos fica surpreso ao sentir uma protuberância abaixo da cueca do finado. Quando ele tira a mão direita da cueca, se surpreende com um grande volume de cédulas de R$ 100,00, que juntas totalizavam um valor de R$ 10.700,00.
Olhando para o amigo, policial rei afirma: – olha, já descobri a morte do seu pai. Ele morreu de um grande problema que hoje afeta a sociedade mundial e brasileira. Ele morreu por causa do É BOLA. O amigo não entendendo o que o policial diz, pergunta: – como é? Ele morreu de quê? É bola? Como pode ter sido por isso se esse vírus ainda não chegou aqui? O policial responde: – você que se engana meu nobre amigo. Esse vírus já chegou aqui faz tempo. Veio junto com os portugueses quando descobriram o Brasil. Esse vírus da corrupção, do desvio de verba, do roubo e, carinhosamente, apelidado por mim de É BOLA, tem como nome científico "corruputus ebolis" e causa a morte de milhares de pessoas inocentes por dia. Mas, de vez em quando, os seus hospedeiros também falecem, pois estes parasitas são canibais e podem tranquilamente matar e se alimentar de seus semelhantes. Seu pai era um deles e foi envenenado por outro vírus "corruputus ebolis".