Gladíolos Vermelhos

- São rosas vermelhas.

- Gladíolos, são gladíolos vermelhos.

- É?! E desde quando você entende alguma coisa de flores?

- Eu entendo! Minha avó tinha uma banquinha de flores quando eu era criança, passei muitas tardes depois da escola lá ajudando ela a arrumar, vender e cuidar das flores.

- Ahn... Gladíolos, hein? – disse ele coçando a cabeça como sempre fazia quando alguma coisa o intrigava.

- Gladíolos.

- Porcaria de gente metida à besta, não podiam inventar um nome mais ‘normal’ não? É só a porcaria de uma flor. Gladíolos. – repetiu ele com desdém.

- Agora que a aula de floricultura já terminou, será que as duas comadres aí poderiam voltar ao trabalho e me dizer o que temos aqui?

- Botânica, chefe!

- Como?

- O senhor disse aula de floricultura, mas o certo seria botânica. Floricultura são as lojas onde são vendidas as flores. Se bem que, agora que o senhor falou, talvez não esteja completamente errado e...

- Me faça um favor Gomes, pare com essa conversa fiada e me traga aqui a médica-legista. Agora!

- Sim, senhor.

- E então Medeiros?! Estou esperando. – disse o mais velho dos dois homens.

- Ahn?! Ah sim, claro senhor. – respondeu o outro se apressando em abrir um caderninho que trazia junto ao bolso e ler o que havia escrito em voz alta. – Madalena Silva Ventura, 27 anos, solteira, trabalhava nesta e em mais duas boates como stripper, segundo nos contou uma de suas colegas. Eventualmente a dona da boate a deixava cantar, parece que era o que ela realmente queria fazer da vida e pelo que nos disseram era muito boa.

- Se era tão boa assim o que fazia cantando em um bordel de quinta como este? – disse o Chefe mais para sim mesmo do que para o homem ao seu lado. – Continue, Medeiros, continue.

- Foi encontrada esta manhã pela faxineira por volta das 7:20hrs... Ahn... – fez uma pequena pausa enquanto folheava o caderninho em suas mãos, notando a crescente irritação de seu superior. – O local onde o corpo foi encontrado era usado por ela e por duas amigas como um camarim improvisado, de fácil acesso, qualquer um podia entrar e sair sem qualquer problema.

- E a origem de todos esses ramalhetes de flores, sabe me dizer?

- Parece que ela tinha um admirador, senhor. Um cliente assíduo talvez, mas pelo que consta toda noite ela recebia buquês de rosas, quer dizer, gladíolos vermelhos. Ninguém sabe ao certo quem as mandava, nem ela mesma sabia.

- Aqui está a médica-legista, senhor. – disse Gomes retornando ao local.

- Muito bem doutora, o que pode nos dizer?

- Por enquanto não posso lhes dizer muita coisa, preciso examinar melhor o corpo. Causa da morte: asfixia; hora: entre 05h30min e 06h30min; arma do crime: o laço dourado usado para enfeitar o buquê de flores.

- Ainda estava no pescoço da vítima quando chegamos, chefe. – apressou em dizer, Medeiros.

- Algum sinal de violência sexual? – perguntou o chefe.

- Aparentemente não. Não encontrei nenhum resíduo que indicasse qualquer prática sexual nas últimas 24hrs.

- Muito bem, obrigado doutora.

- E então rapazes, alguma idéia de quem possa ter feito isso?

Os dois se entreolharam por alguns segundos deixando claro um para o outro que não sabiam ao certo o que responder. Um dos dois ensaiou uma resposta, mas já era tarde. O chefe já lhes tinha dado as costas e falava efusivamente ao celular.

- Bom, rapazes, caso encerrado.

- Mas como assim, senhor? – indagou Gomes.

- Acabo de saber que prenderam o homem responsável pelo crime. Denúncia anônima. Foram encontradas na casa dele várias fotos da vítima, além de recibos de uma floricultura, e de algumas boates do gênero, inclusive desta aqui. Não deu outra, preso em flagrante. Claro que ele tentou negar, mas acabou confessando tudo pra conseguir uma pena mais leve. Deve ser mais um desses drogados.

- Se é assim... – disse Medeiros coçando a cabeça de seu jeito peculiar.

- Bom trabalho, rapazes. – disse o chefe se despedindo – Encontro com vocês na delegacia, tenho uma coisa importante pra fazer agora. Um caso novo, logo, logo vocês saberão.

- Boa tarde, senhor. Posso ajudá-lo? – disse a mulher ruiva e franzina.

- Eu quero comprar uma dúzia de...

- Rosas vermelhas. – disse ela interrompendo-o.

-Rosas não. Gladíolos, uma dúzia de gladíolos vermelhos.

William Schmahl Barros
Enviado por William Schmahl Barros em 17/05/2014
Código do texto: T4809637
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