Ele está vivo

Como o cara de fuinha havia informado, o negro velho, agora tido como malfeitor, assassino, estava morto.Deixaram-no ali e foram para seus afazeres incluindo o velório e enterro de seu Nonô e de sua mulher.Quando, lá pelo final da tarde o coveiro viu-se liberado, lembrou-se de ir enterrar o negro Elautério.Chegando ao local não viu ninguém, procurou em todos os cantos próximos.Já estava escuro e ele pensou que talvez alguém tenha encontrado o corpo e o levado dali, um amigo talvez.Haviam lhe dito que estava morto, então se não estava ali é porque alguém havia dado um jeito no corpo.Foi embora já meio com medo, avisou o Delegado e retirou-se. A autoridade policial nem fez causo daquilo,morto estava, morto ficaria.O dia fora longo e cansativo, iria descansar e no dia seguinte daria mais uma olhada, afinal era um assassino e não importava que ficasse estendido por aí.O negro velho também não tinha ninguém. No dia seguinte, lá pela metade da manhã, chamou Joaquim, seu auxiliar e mandou dar mais uma olhada na casa de Elautério.O policial voltou informando que nada havia lá, a não ser os pertences do morador.Então o chefe o mandou voltar lá e queimar a cabana. E foram tratar da vida , nada mais fizeram a respeito.Ocorreu que no dia dos fatos, o cara de fuinha notou que Elautério estava vivo, mas optou por informar que não havia sinais vitais.Não se sabe porque o fez.Elautério levou tanta bordoada que de fato desmaiou. Foi a sua sorte. Acordou horas depois, estava completamente ferido, sem forças, pensava que tinha os ossos todos quebrados, mas não era para tanto.Desmaiou de novo.

-Onde estou? Perguntou com voz ainda fraca.

-Estás entre amigos, respondeu-lhe uma suave voz feminina.

-Não se esforce,pois o senhor esteve à beira da morte por muitos dias.

Elautério optou por ficar quieto e observar melhor a situação.Dormiu e quando novamente acordou, agora sentindo-se um pouco melhor notou um homem de cabelos pretos e uma mulher loira, ambos sorriram e lhe trouxeram comida e água. Observaram-no enquanto comia e somente depois o homem falou.

-Eu o recolhi perto de uma cabana, distante daqui uns dez quilômetros,Maria que é enfermeira o ajudou com os ferimentos.Somente aí Elautério notou que não vestia mais os seus velhos trapos e ficou envergonhado, aquela moça o vira nu. Mas não disse nada, procurou levantar-se, pensava ir embora, mas caiu e foi erguido pelo homem e desta vez o colocaram sentado num banco. O casal observou-lhe a fisionomia de medo, angústia e tristeza.Nada mais disseram, mas Elautério sim:

-Digam-me o que é preciso para que eu pague o que fizeram por mim, e o farei.

O homem o olhou nos olhos e respondeu:

-O Senhor nada nos deve, agora é melhor dormir mais um pouco.

No dia seguinte, quando o casal acordou não o viram na cama e nem nos arredores da casa, passou o dia e o negro velho não retornou.O tempo foi passando, vários dias, várias noites.Uma noite o Delegado roncava em sua confortável cama, depois de ter ingerido metade de um garrafa de uísque,quando alguém o puxou pelos pés, isso fez com quer acordasse assustado e viu alguém vestido de branco, um rosto inconfundível, era Elautério, tinha certeza. Um vulto pulou pela janela e se perdeu na noite. Na manhã seguinte o coveiro chegou na Delegacia e entregou ao Delegado um uniforme branco que ele disse ter achado na entrada do cemitério.

-Ele está vivo!Foi só o que disse ao coveiro.

Confuso o Delegado passou o resto do dia pensativo e quando anoiteceu fez uma carta de renúncia a seus superiores, pegou o carro e foi embora.Nunca mais foi visto.

drmoura
Enviado por drmoura em 15/05/2014
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