O Urubu quando é Azarado...

O URUBU QUANDO É AZARADO...

Orozimbo Fernandes, homem honesto, trabalhador, de boa paz, jamais discutia com alguém. Porém, por um capricho do destino, vivia numa “pindaíba” danada. O fato de estar desempregado e sem dinheiro, o deixava meio maluco. Passava quase todas as noites sem dormir, só pensando em como seria o seu futuro.

Foi numa noite dessas, que ele elaborou um plano para assaltar o banco. Afinal, a maior parte dos assaltantes sempre leva a melhor, mas o erro deles é voltar ao crime.

O seu plano era mais inteligente, todos os detalhes foram minuciosamente revistos e aperfeiçoados. Tudo estava correto, nada poderia dar errado. Depois... Bem, depois passaria o resto da vida na tranqüilidade. Nada de voltar a assaltar, porque é justamente aí que os assaltantes “comuns” levam a pior. Com ele isso não vai acontecer, contentaria com o que conseguisse. Não era muito ambicioso.

Tudo pronto. Chegou o dia da sua única e grande proeza. Foi até o espelho, colocou uma barba, um cavanhaque e um bigode postiço e para completar, um par de óculos escuros. Abriu uma gaveta, pegou um revólver calibre 38, mas sem munição e colocou dentro de uma pasta. Deu uma última olhada no espelho, dando-se por satisfeito com a sua performance.

Calmamente, saiu em direção ao Banco previamente escolhido. Nesse dia, o Banco tinha pouco movimento. Até esse detalhe fora previsto, isso porque em dia movimentado, a vigilância nos Bancos, sempre é redobrada.

Lá se foi o Orozimbo. Chegou à agência bancária bastante calmo, demonstrando firmeza no olhar. Passou pela porta giratória, bem no nariz do segurança, que nem olhou para sua cara. Enfrentou uma pequena fila no caixa, até chegar sua vez. Hoje em dia, quem aguarda a vez não se aproxima do caixa, a fila de espera é a uma distância considerável. Ao chegar lá, disfarçadamente, abriu a pasta, retirou alguns papéis sem valor e ao mesmo tempo mostrou ao caixa o revólver ao alcance de sua mão. Com voz firme e ameaçadora disse:

“Coloque aqui em cima todo o dinheiro do caixa, e nada de apertar o botão de alarme, senão estouro seus miolos com um tiro na testa. Não faça nenhuma gracinha. Toque o alarme somente após dez minutos da minha saída do banco. Tenho um parceiro que vai ficar de olho até terminar o tempo. Entendido”? O funcionário, com os olhos esbugalhados, tremendo que nem vara verde foi colocando os pacotes de cédulas de cem, cinqüenta e dez reais em cima do balcão, enquanto Orozimbo ia despejando na pasta.

Pelos seus cálculos, a quantia recolhida passava de um milhão e meio de reais. Fechou a pasta, agradeceu ao caixa e se despediu. Saiu com a mesma calma que havia entrado. Passou pelo segurança na porta giratória, despedindo com um leve meneio de cabeça, como se tivesse agradecendo-o pela gentileza.

Daí pra frente, misturou-se à multidão da rua e, aos poucos, sem chamar a atenção passou a retirar a barba, o bigode e o cavanhaque, guardando-os na pasta junto ao dinheiro. Tudo correu conforme o planejado.

Enquanto caminhava, fazia seus planos de investimento do dinheiro e sua conseqüente multiplicação. Passaria o resto da vida tranqüilo e feliz, longe daquela cidade.

Já distante do Banco, dois sujeitos com cara de poucos amigos, encostaram-se ao lado do Orozimbo. Um deles lhe mostrou um “trinta e oito” e, sem falar nada, arrancou a pasta de suas mãos. Depois de mais alguns passos, o outro lhe ordenou que entrasse num carro estacionado mais à frente. Percorreram um bom trecho da cidade até alcançar uma estrada vicinal, em direção a alguma Fazenda existente por ali.

Após três quilômetros, pararam o carro ordenando-o a descer. Um deles tirou do bolso uma nota de dez reais e entregou-lhe:

_”É o pagamento pelo eficiente serviço prestado. Caminhe em direção à cidade e não olhe para trás”.

Enquanto caminhava, avistou um carro de polícia que parou ao seu lado. Um policial colocou a cabeça para fora e perguntou a Orozimbo:

_ Por acaso o senhor viu algum carro nesta estrada, cujo motorista era barbudo?

_ Não! – foi a rápida resposta de Orozimbo.

_ Nestas alturas, já deve estar muito longe daqui, ou talvez tenha ido por outra estrada, vamos voltar.

_ Vai para a cidade? – perguntou o policial.

_ Sim. – respondeu.

_ Então aproveite a carona.

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Luiz Pádua
Enviado por Luiz Pádua em 29/04/2007
Código do texto: T468141