ESCLARECIMENTO VII: A MORTE DO "TIZIL"

- Doutor Cris, posso falar com o senhor?

- Claro Cidão! Sente ai e fale.

- O senhor lembra do Tizil?

- Aquele moleque negão, grandão, forte que bateu nuns tiras? Homicida, ladrão e estuprador?

- Este mesmo...

- Ele esta guardado, não esta?

- Fugiu nesta rebelião! Matou dois internos de outra gangue, o guarda e uma mãe que estava na visita.

- Ele não estava na penitenciaria?

- Não! Ele ainda é menor.

- Puta que o pariu! O que nos temos com isso Cidão?

- Eu queria que o senhor me liberasse para ir atrás dele...

- Nem fudendo Cidão! Não estamos dando conta das nossas zicas, vamos limpar merda dos outros? Não é da nossa área, nem da nossa competência. Eles que se fodam com este moleque, que chamem os direitos humanos...

- Mas doutor...

- Cidão! Os caras da Administração Penitenciaria tem equipe própria e especializada para estes fugitivos, a PM tem batalhão especifico, a Civil tem Delegacia Especializada e não tem como eu passar por cima deles.

- Doutor isto é pessoal...

- O que? Que porra é essa? O que você tem a ver com isso?

Distraidamente, Cidão tirou do bolso da camisa uma carteira de cigarros e o isqueiro, eu olhando, pegou um cigarro e o levou ate a boca.

- Na minha sala não!

- Desculpe doutor! Me distrai.

- Me conte!

Cidão narrou que recentemente em uma audiência de relaxamento de pena, sua filha negou os pedidos do menor alegando que o mesmo ainda continuava sendo perigoso para a sociedade. Ela levou em conta as informações de seu pai. Na ultima apreensão, na audiência com a psicóloga, o guarda relaxou e a moça foi estuprada dentro da unidade. Por esta e por outras, ela negou os pedidos e o manteve internado.

- Doutor, ele ameaçou: “Que neguinha mais gostosa! Vou sair em breve e vou te comer antes de te matar”.

Preciso achá-lo o mais rápido possível.

- Cidão! Você vai me arrumar uma zica muito grande... Sabemos que na maioria dos casos estas ameaças não se concretizam. Eu mesmo tenho uma fila grande de desafetos querendo minha morte.

Mas este bandido era muito perigoso eu pensei! Merecia um pouco mais de atenção, fiquei muito preocupado, esperendo pelo pior.

- Vou não doutor! Vou trazê-lo rapidamente e ficaremos mais tranqüilos.

- Tire folga e leve o Artur com você. Ele tem as manhas e...

- Não doutor! Eu fiz a merda e preciso resolver sozinho.

- Ok vá! E me chame o Artur, ele vai ficar no teu lugar. Traga-me um atestado medico.

- Obrigado doutor! Espero que quando eu voltar Artur não tenha matado todos os presos.

- Eu também! Agora vá e tome cuidado.

- Obrigado!

Artur! Venha à sala do Delegado, gritou Cidão já na porta.

Alem de ser o pai, Cidão se sentia responsável pela decisão da filha. Mesmo fazendo a coisa certa, achava que deveria cuidar dela mesmo sabendo que esta ameaça é inerente à sua função.

Dois dias depois Cidão me aparece e disse que tudo estava resolvido. Nada nos noticiários, nem nos comunicados internos. Peguei o atestado de “uma virose” e o reintegrei.

Numa diligencia me contou que em breve “botaria” em um pomar no interior do Estado, um “pássaro preto”.

Alguns dias depois assistindo televisão, vi que que um homem afro-descendente não identificado apareceu morto em adiantado estado de decomposição, em uma fazenda no interior, com um tiro de arma de grosso calibre.

Cidão parecia menos tenso, à espera da aposentadoria, que eu não estava disposto em conceder.

Cesão
Enviado por Cesão em 11/11/2013
Reeditado em 11/11/2013
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