O cliente de Dave
# O homem calvo e sério anunciou, com o peito inflado, todos os títulos do palestrante. Ítalo Harvey, a pessoa a quem o rosário de conquistas se referia, apenas empurrou o óculos mais para cima no nariz fino e apertou mais a gravata. Odiava a notoriedade.
# Mais alto que a média dos Harveys, era magro e desajeitado, com cabelos em cuia caindo sobre os olhos. Quando decidira entrar na faculdade de Física, seu professor lhe dissera, pessimista, que tudo já havia sido descoberto nessa ciência. O rapaz sugeriu, gentilmente, que a Física ainda não tinha sido usada para explicar a magia e recebeu em resposta uma risada e uma recomendação de deixar essa tarefa para “aqueles bruxos metidos”. Ignorando os sarcasmos, seguiu em frente e fizera incríveis descobertas ligadas à natureza da luz, ainda desconhecida em sua época. A fama viera a galope, pegando de surpresa o moço introspectivo e reservado.
# Tinha acabado de chegar a Hy Brazil, depois de uma longa jornada de palestras e conferências pelo mundo. Conhecera muita gente interessante, admiradores e céticos ferrenhos, surpreendera-se com o quanto um cientista pode se tornar “pop” com um pouco de mídia, divertira-se. A única coisa de que não gostava era a forma como sua imagem era exposta. Uma foto sua, mordendo um enorme pirulito enquanto passava fórmulas num quadro, ficara famosa nos quatro cantos do mundo.
# Subiu ao palco engolindo em seco e explicou pela enésima vez como chegara às suas conclusões e suas respectivas aplicações práticas. O tempo parecia se arrastar, mas ele tinha que cumprir uma hora e meia de qualquer jeito. Respondeu com um pouco mais de prazer as dúvidas finais e, tão logo agradeceram sua presença na Universidade Real de Morros Azuis, escapuliu sem olhar para trás.
# Quando já se imaginava fora do perigo de ser abordado por algum colega cientista, alguém tocou-lhe o ombro. Sobressaltado, virou-se e suspirou de alívio. Era Dave, um amigo de longa data, que lhe cumprimentava.
# _Ítalo! _disse ele, de bom humor _Vem pra Hy Brazil e nem avisa os amigos! Nem deu pra eu comprar um pirulito pra você _acrescentou, maliciosamente.
# _Esquece esse negócio do pirulito, Dave. É bom te ver, é o primeiro amigo que encontro.
# Dave suavizou ligeiramente sua habitual seriedade e sorriu de volta. Era um jovem muito bonito, mas com um aspecto desbotado por ser branco como um papel, ter cabelos loiros muito claros e olhos azuis aguados. Se não fossem suas roupas escuras, sumiria em frente às paredes. Caminharam um pouco em silêncio, quebrado pelo advogado.
# _E então, está com o resto da noite livre?
# _Eu ia jantar... _Ítalo lembrou-se de que era falta de educação convidar quem não podia comer para jantar. _...mas a gente pode passear um pouco, primeiro.
# _Bobagem! O dono do restaurante do Núcleo de Direito me conhece e sempre arranja alguma coisa.
# O Núcleo de Direito ficava no caminho, mesmo, então ele não reclamou. Sentaram-se em uma mesa para dois e foram prontamente atendidos (o dono não se arriscava a demorar com os estudantes de Direito, com medo de ser processado). Ítalo olhou apreensivo para o companheiro e surpreendeu-se quando ele pediu chá. Notando o olhar dele, Dave explicou placidamente:
# _Há certas ervas cujo chá eu posso beber. A gente realmente aprende muita coisa quando tem que se virar na faculdade. E então, o que você fez nesses meses todos?
# O físico explicou muito resumidamente, pois já estava cansado da própria voz. Terminando de contar como fugiu do assédio de umas meninas de moral duvidosa na Gália, resolveu que era hora de devolver a pergunta.
# _E você? Tem pegado muitos casos?
# _Um bocado. Mês passado...
# O garçom chegou com um prato de sopa para Ítalo e um copo cheio de algo vermelho vivo, que entregou para Dave.
# _Mr. Andreas mandou avisar que não tem chá fresco ainda, mas que talvez você prefira isso, Mr. Johnson.
# _Obrigado, Harry. _Passou o copo sob o nariz com ar de degustador de vinhos. _ Abatido hoje. Acho que dá pra encarar. Agradeça o Ted por mim.
# O rapaz se retirou após anotar os pedidos nas comandas. Ítalo evitou olhar para o conteúdo do copo e fez uma careta quando ouviu o amigo dando o primeiro gole. “Bem,” pensou, filosoficamente, “quando se trata de jantar com um vampiro, antes isso que o meu pescoço. Deve ser desagradável também para ele ver os outros mastigando coisas, já que ele não pode comer...”.
# _Você dizia, Dave...
# _Oh, sim, mês passado... _longa explicação a respeito de um processo por calúnia e difamação. _...e hoje mais cedo, assim que abri o escritório, entrou um menino me pedindo para defender o caso dele. Você ouviu falar do assassinato de Mr. Wilson?
# _Wilson, Wilson... Não, cheguei a Hy Brazil hoje e ainda não soube nada do que aconteceu nos últimos meses. Esse nome me é familiar... Mas não ligado a um crime.
# _Você tem boa memória. Ricardo Wilson já era muito conhecido na província do Porto como inventor, mas resolveu tentar a sorte na cidade grande, vindo para Morros Azuis.
# _Bem que senti um bafejo portenho no “Ricardo” _comentou Ítalo. _Sim, creio que ouvi algo sobre ele, quando eu ainda me metia a inventor. Mas faz muito tempo.
# _Mais de dez anos _confirmou o advogado. _Ele andava meio decaído nos últimos tempos. Não produzia grande coisa, pelo menos, nada prático o suficiente para ser vendável. Sobrevivia emprestando dinheiro a juros. Por aí, você faz uma idéia de quantos amigos tinha na vida.
# _E um desses “amigos” resolveu acertar as contas com ele?
# _É o que parece. Há quatro dias, vencia o aluguel de seu apartamento e o dono foi lá cobrar. A porta estava destrancada e esse senhor entrou... Para dar com o cadáver de Wilson com um afundado na parte posterior do crânio. A arma do crime estava jogada no chão, um bastão pesado de ferro que ficava pendurado no teto e tinha sido arrancado de suas cordas. O negócio parecia ser parte de um invento recente. O médico da polícia afirma que o homem morreu mais ou menos meio-dia, uns quinze minutos antes ou depois, no máximo.
# “Não foi difícil procurar um responsável. Cerca de meio-dia, um garoto com seus dezoito anos esteve lá para pedir a prorrogação da dívida de sua família com o homem, coisa que Wilson se recusava terminantemente a conceder já há algum tempo. Esse menino era Devlin Fang... Conhece os Fang?”
# _Intratáveis como seres humanos, bestiais como lobisomens. Quem nunca ouviu falar? E, se não me engano, foram os Fang que quase fizeram você, o Victor e o resto do pessoal de lanchinho quando vocês eram crianças, não foi?
# _Sim, eles mesmos. Você sabe que não é pouco crível que o jovem Mr. Fang tenha tido uma discussão acalorada com Mr. Wilson, posto as mãos na primeira arma que pôde alcançar e quebrado a cabeça do homem. A situação era desesperada. As famílias de lobisomens estão quase sempre na pindaíba por causa desses idiotas que se recusam a dar a eles até empregos diurnos.
# _E ele foi pedir para você defendê-lo? Pensei que os Fang seguissem a velha cartilha de que vampiro bom é vampiro morto.
# _Seguem, de fato. E foi por isso mesmo que não dei uma resposta definitiva a Mr. Fang. Todos os indícios estão contra ele; ele tinha um motivo forte e a oportunidade. Mas simples fato de ele ter vindo a mim protestando inocência me deixou com um pé atrás. Só que, sinceramente, não consegui encontrar outra versão para o assassinato. Mr. Fang foi o único que visitou Mr. Wilson aquele dia, o porteiro do prédio jura, e o próprio rapaz não nega que esteve lá perto do meio-dia. Segundo a versão dele, Wilson já estava morto quando ele chegou lá. Diz que pegou a barra de ferro porque ela atravancava a porta e só percebeu a morte após ter entrado no quarto e se aproximado do homem. Confesso que estou sem saber o que fazer. Vou para a casa de Wilson ver as coisas com meus próprios olhos, quer ir junto? Uma companhia não vai fazer mal.
# Ítalo refletiu por uns instantes. No fim de semana, estava marcada uma pequena reunião de família com seus primos e tios. Lídia também iria e ele sabia que ela teria muito que contar. Seria legal se ele tivesse uma experiência criminal para expor, para variar um pouco e para não se ater muito ao inevitável tema de Ciência.
# _Bem, não custa. De meia-noite às seis da manhã não faço nada, mesmo.
***
# Ricardo Wilson morava em um apartamento pouco luxuoso em um prédio de dois andares. Os apartamentos só tinham basculantes redondos. Isso punha por terra qualquer hipótese de que alguém pudesse ter pulado o muro baixo entre o prédio do infeliz e o vizinho e entrado no apartamento sem o porteiro ter visto.
# Dave e Ítalo entraram, depois de trocar algumas palavras com o porteiro. Certificaram-se de que só havia uma porta de acesso ao apartamento e que havia um bocado de trancas que não pareciam ser muito usadas. Entraram no três-cômodos e a primeira constatação é a de que Wilson não era organizado. O cômodo principal servia como sala, cozinha e gabinete. Estava cheio de barras de metal penduradas pelas duas pontas, algumas bem compridas, uma das quais tinha sido a arma do crime. Uma mesa feita de escrivaninha estava cheia de papéis, lápis e objetos diversos. O corpo estivera na cadeira de rodinhas em frente a ela.
# A arma do crime tinha sido uma barra pendurada como as outras. Ítalo observou com interesse as cordas finas que prendiam as barras. Ou ele estava muito enganado, ou era um material novo. Parecia feita de fios de náilon enrolados. Havia dessa corda por todo o cômodo, esticada, pendurando coisas, esmagada por pregadores de metal... Logo, Ítalo entendeu: Wilson devia estar testando a resistência dela, para ver se era aproveitável comercialmente.
# Dave estava examinando a cadeira em que Wilson estava sentado e as fotos do ferimento da cabeça dele.
# _É estranho... Estou dando tratos à bola e não consigo pensar em uma posição de mãos que produza um afundado na cabeça como esse das fotos. Devlin reclamou que a porta não se abria toda por causa da barra de ferro. Ela pode ter rolado, a casa tem caída para o lado da porta e uma barra no chão rolaria naturalmente para lá _reparou que Ítalo estava embevecido na contemplação da prateleira de invenções e girou nos calcanhares para protestar. _Ítalo, você nem está...
# Um agudo barulho metálico chamou a atenção do físico, que se virou a tempo de ver a careta de dor de Dave: ao se virar, ele tinha batido a cabeça em uma das barras que ainda estava pendurada no teto.
# _Tudo bem, Dave?
# _Nada que não suma logo _massageou a testa. _Wilson devia ser baixinho. Essas barras são um perigo! Ele tinha um senso de decoração bem esquisito...
# _Não era decoração, ele estava testando isso _pegou um carretel com vários metros da corda e desenrolou um pouco. _Pode partir um pedaço de dois palmos para mim?
O advogado mediu e tentou partir com as mãos. A corda esticou muito, mas não partiu. Aborrecido, usou seus dentes afiados para cortá-la. Ítalo agradeceu e examinou o pedaço mais de perto.
# _O que você quer com isso? _perguntou Dave, curioso.
# _É estranho, meu amigo... Você é forte como vinte homens e não conseguiu partir isso facilmente. Fico imaginando como Mr. Fang, que fora da Lua cheia é um rapaz normal, conseguiu arrebentar as duas cordas que sustinham a barra.
# Dave fez que ia assobiar e examinou as cordas partidas.
# _Você tem razão. Quem ou o que partiu isso aqui, fez sem puxar. Ou puxou com muito mais força que um moço normal. Se eu usar toda a minha força e puxar com um arranco, creio que posso partir isso sem esticar, mas garanto que um ser humano não faria isso, nem mesmo se fosse o mais forte do mundo.
# Ítalo pegou uma banqueta e subiu para examinar as pontas também. Estava de costas para a escrivaninha, onde Dave examinava os papéis de Wilson referentes à tal corda. Interrompeu-se ao ouvir uma exclamação do amigo.
# _O que foi?
# _Por que Wilson trocou o vidro de sua janela?
Ítalo desceu da banqueta e levou-a até o basculante. Lá, deu um soco nele, que mostrou que ele era feito de um vidro grosso, convexo, dificílimo de ser quebrado. Era o tipo de vidro que não se encontrava todo dia. As janelas de outros andares, por exemplo, eram feitas de um vidro simples, com uma camada de reflexivo, como andava na moda.
# _Boa pergunta... O basculante é pequeno o suficiente para que ninguém consiga entrar. Talvez ele quisesse se prevenir contra balas. Veja _abriu o basculante. _Se a pessoa atirar no ângulo certo, dá pra acertá-lo enquanto ele estiver aqui onde estamos.
# _É verdade _disse Ítalo, com um acento de voz esquisito. _O ângulo certo... As janelas...
# Saiu do quarto sem aviso e examinou detidamente o prédio de Wilson e o prédio ao lado. Quando Dave o alcançou, Ítalo pediu, sem desviar o olhar:
# _Você pode pegar uma fita métrica para mim?
# Surpreso, o advogado pegou a fita e voltou à rua. Ítalo começou a medir a distância entre os prédios, a altura das janelas e até pulou o muro para o prédio ao lado para fazer novas medidas. Sempre murmurando, entrou novamente no apartamento de Wilson e se sentou à mesa. Empurrou os óculos mais para cima, abanou a cabeça para afastar os cabelos dos olhos e começou a fazer cálculos frenéticos. Com uma exclamação satisfeita, levantou-se da mesa e virou-se para o amigo.
# _Acho que eu já sei quem é o assassino, Dave, mas receio que não possamos prendê-lo.
# _Pode parar! Não estou entendendo bulhufas.
# _Física elementar _explicou Ítalo, placidamente. _Se você pudesse estar aqui amanhã de manhã, onze horas, digamos, poderei mostrar o assassino atacando novamente. Eu sei que é difícil pra você... Precisarei de alguns preparativos. Só que deverei mexer em algumas provas do crime, por isso seria bom um policial estar aqui também.
# _Posso conseguir isso. Tem que ser de manhã?
# _É absolutamente necessário.
# _Certo. Estaremos aqui amanhã, às onze horas.
***
# Às onze horas do dia seguinte, Dave, Ítalo e o inspetor Longfellow chegaram ao apartamento de Wilson. Dave entrou rapidamente, com um capuz sombreando seu rosto, ansioso por retirar toda a roupa que o protegia do Sol. O dia estava quente e a caminhada fizera com que ele se esquentasse ainda mais. Darren o seguiu, mas Ítalo deixou-se ficar do lado de fora, observando os prédios. Vários minutos depois entrou e se juntou aos amigos.
# _E então, Ítalo? _o inspetor perguntou, sorrindo. _Vai nos dizer o que pretende fazer?
# _Acho melhor não. Em certas coisas a gente só acredita vendo. O que eu quero é reconstituir a cena, tal como estava antes de Mr. Wilson morrer. Vocês podem me ajudar? Primeiro, vamos desamarrar do teto as cordas onde estava a barra que matou o homem. Agora, amarraremos outras, do mesmo tamanho que as originais. Acho que aquela barra naquele canto é praticamente do tamanho da que estava aqui, pegue-a pra mim, Dave. Agora, eu amarro ela aqui, exatamente como a arma do crime estava amarrada. Pronto! Só precisamos de algo para representar a cabeça de Wilson... Que altura ele tinha?
# _Era baixo... Do seu tamanho mais ou menos _respondeu Darren.
# _Então vamos ver... Meça a altura do topo da minha cabeça ao assento, por favor.
Com a medida em mãos, Ítalo pegou um monte de tranqueiras e construiu uma espécie de cabide improvisado. Fincou um busto de gesso no topo, mais ou menos onde a cabeça de alguém sentado estaria. Tirou o relógio do bolso, consultou e fechou-o, decidido.
# _Quase na hora! _abriu um pouco o basculante. _Vamos ficar ali perto da pia. O assassino de entrar em cena logo.
# _Ele vai voltar aqui?! _perguntou Dave, espantado. _Mas por quê?
# _Porque não pode evitar de voltar... Vejam!
# Estendeu o dedo para a barra. No início, os companheiros não viram nada anormal, mas logo ficou claro o que Ítalo mostrava: o basculante redondo estava funcionando como uma enorme lente de aumento, focalizando os raios de sol que o atingiam sobre a corda que prendia a barra. Na medida em que os minutos passavam, a luz se tornou mais intensa e os fios da corda começaram a derreter e arrebentar um a um. Logo, os restantes não suportaram o peso da barra e sua ponta se soltou. Atingiu com um estrépito o busto de gesso, fazendo um buraco enorme nele, que caiu do suporte em seguida.
# Dave e Darren iam falar algo, mas Ítalo suspendeu o braço para impedi-los e apontou para a outra corda que sustentava a barra. Agora, os raios de sol estavam focalizados nela. Mais alguns minutos e essa corda também foi rompida. A barra caiu com um estrépito no chão e rolou até a porta.
***
# _Ufa! _Ítalo secou o suor da testa com o lenço. _Não esperava que a demonstração fosse tão boa.
# _Perfeita _Dave comentou, lacônico.
# _Foi fantástica _disse o inspetor Darren, brandamente. _De onde você tirou essa idéia, meu garoto?
# Ítalo baixou os olhos e empurrou os óculos nariz acima.
# _É que quando eu fui ver as pontas das cordas da barra que matou Wilson, vi que elas tinham a aparência de náilon derretido. Vocês também teriam essa lembrança, se tivessem tentado passar a ferro a meia de náilon da mãe de vocês...
# _Você passou a meia de náilon da sua mãe com ferro? _Dave perguntou, com um meio sorriso.
# _Eu não sabia que era de náilon _sorriu, sem jeito. _Mas como eu dizia, quando estava pensando em como a corda poderia ter sido derretida sem Wilson ver, dei com o basculante. Ele é uma lente biconvexa gigante! Pensem bem: quando somos crianças, usamos essas lentes para queimar papel. É uma brincadeira que quase todo mundo deve ter feito alguma vez na vida. Se eu pudesse provar que luz do Sol atingia a lente e era focalizada sobre as cordas, podia provar que ela causou a morte de Wilson. Fiz cálculos envolvendo distâncias e ângulos. Não imaginam a minha felicidade quando descobri que o horário que o Sol atingia o ângulo adequado era justamente próximo ao meio-dia!
# _Você é um gênio, Ítalo! _Dave disse, com os olhos brilhantes. _Pode afirmar isso sob juramento, no inquérito?
# _Posso _respondeu, firmemente. _Não sou um físico especialista em ótica, mas posso afirmar que é possível a luz do Sol ter derretido as cordas. Basta que os basculantes em que a luz reflete estejam abertos para refletir a luz no ângulo certo. Como os dias têm estado quentes, não houve dificuldades em conseguir isso, as pessoas abrem os basculantes naturalmente.
# _Excelente. É o que preciso. Que me diz, Darren?
# _Acho que podemos fechar o caso como acidente. Claro que precisarei consultar alguns especialistas, mas... Confio no Ítalo. Sei que concordarão com ele _levantou-se. _Preciso ir, ando meio ocupado ultimamente. _Fez uma pausa e suspirou. _Sabem qual a minha maior tristeza? _olhou para eles e sorriu. _Que nenhum de vocês tenha entrado para a força policial de Hy Brazil. Estamos precisando de uma renovação, urgentemente.
# Deu as costas, colocou o chapéu e saiu. Logo que ficaram sozinhos, Dave sorriu maliciosamente para Ítalo.
# _Estive com a Lídia ontem, sabe? Logo depois de deixar você. Ela estava com a Natty e me contou que no fim de semana vai haver uma reunião de família dos Harvey...
# Ítalo corou.
# _É. Acredito que a Lidi tenha convidado você, se não o fez, eu convido.
# _Convidou. É que a Natty me disse umas coisas depois do jantar e estive pensando... É um bocadinho de coincidência a Lidi estar em turnê por aqui bem quando você está chegando da sua “volta ao mundo”, não? E acabei me lembrando que primos são parentes mas não fazem parte da família*. A gente se esquece, mas casamento de primos, mesmo que eles tenham sido como irmãos quando crianças, não é incesto...
# Ítalo corou mais ainda.
* Os britânicos colonizaram a maior parte de Hy Brazil e, na língua inglesa, família (“family”) são só pais e irmãos. Primos e etc. são “relatives”, ou seja, parentes.