ESCLARECIMENTO IV: O CHEQUE!
Sabadão dos brabos! Ninguém quis pegar o plantão noturno, sobrou pra mim...
Cheguei à delegacia, dois menores em ato infracional de porte de entorpecente, um Maria da Penha, dois trânsitos e uma desinteligência, só porcaria.
Meu sábado tinha sido dos bons! Churrasco na casa de um irmão medico, nada de assuntos policiais, cerveja gelada e Picanha mal passada com alho, piscina, sol quente, uma delicia!
O telefone tocou e o escrivão PC me deu a noticia que não teria Delegado à noite, acabou com meu dia! Fui tirar uma soneca e depois fui pra delegacia.
Uma ressaca das menores, dor de cabeça, mau humor e aquela porcariada na recepção...
Mandei o PC cuidar do Maria da Penha, mandei os da desinteligência embora e cada um dos investigadores cuidarem dos trânsitos e levei os bandidinhos pra cela dos fundos. Dei um cacete em cada um, não perguntei nada e mandei embora. Não ia dar em nada mesmo, pelo menos melhorei o humor.
Sem mais nada pra fazer peguei os dois investigadores e sai pra dar uma volta. Passando perto da zona resolvemos dar uma incerta... Que merda fizemos, arrumamos prá cabeça!
Apreensão de drogas, menores infratores, menores se prostituindo, um procurado fugitivo, trabalho escravo, receptação etc. Pedimos apoio da PM e levamos todos e tudo pra delegacia.
No começo da manhã terminando o flagrante, encontramos com uma das menores prostituta, um cheque de bom valor, emitido por um comerciante de renome na cidade. Mandei o PC (mais articulado no trato com as palavras do que os investigadores) ir ate a casa do comerciante verificar a procedência do cheque.
Estava tentando dar uma cochilada esperando o retorno, quando adentra minha sala o PC, o comerciante, sua esposa e mais um monte de gente. Perguntei:
- PC o que significa isto? Mandei apenas verificar a procedência do cheque, não era pra trazer a família, os vizinhos, parentes e amigos e cachorrinhos...
Pensei:
Agora fodeu! Só saio daqui no final do mês.
- Ô doutor, num é nada disto, ele vai explicar!
- Então fala!
- Doutor, é o seguinte: sexta-feira à tarde o pedreiro me pediu dinheiro depois que tinha ido ao banco. Como não tinha, dei-lhe um cheque meu.
- Tá bom, era só isso...
- Não Doutor, tem mais!
- Tem mais o que? Já irritado querendo dormir.
- O pedreiro descontou o cheque no mercado e o dono do mercado passou o cheque para o entregador de gás que levou o cheque para a empresa deste senhor aqui, disse-me o PC.
- Eu como tinha pouco dinheiro em caixa e tinha que pagar a folha de pagamento, paguei meu funcionário com o cheque e um pouco de dinheiro...
- E finalmente seu funcionário foi pro puteiro! Disse eu já bastante irritado.
- Fui não sor! Sou casado, passei o cheque na padaria e fui embora pra casa.
- Então o padeiro foi pro puteiro?
- Também não fui não Doutor. Dei o cheque como pagamento do salário do meu funcionário com a promessa que assim que entrasse dinheiro eu trocaria pra ele.
- Eu dei o cheque pro meu filho levar pra mãe dele e o coitadinho chegou em casa só á noite, todo machucado dizendo que tinha sido assaltado.
- Cadê o moleque?
- Tô aqui doto!
Quando vi o moleque, quase tive um troço! Era o Noinha em que eu tinha batido no começo do plantão.
- Foi você quem comprou as drogas com o cheque?
- Foi sim doto!
- Comprou de quem?
- Ô doto, num lembro, tava noiado...
Chamei um dos investigadores e mandei:
- Veja se arranca o nome do traficante com a putinha. E a senhora que faz aqui? Perguntei pra esposa do comerciante.
- Bom Doutor! Um cheque do meu marido com uma putinha... Fiquei muito preocupada!
- Bom Doutor, com uma historia dessa o senhor acha ela iria acreditar em mim? De jeito nenhum, então eu trousse ela pra saber de toda a verdade dita pelo senhor.
Tenha um bom dia Doutor! E a partir de hoje vou rasgar todos meus talões de cheque!
Cai na gargalhada, enquanto todos saiam de minha sala.
Quanto transtorno por causa de uma folha de cheque ou uma incerta no puteiro...