O FILHO DAS TREVAS

O FILHO DAS TREVAS

Luiz Pádua

(Editado de um capitulo do livro de m/autoria "Enfrentar o Medo Cara a Cara")

O primeiro impulso de Reed Lewis foi apanhar a arma expulsar à bala o policial (ou policiais) de sua garage. Policial é imbecil, todos são imbecis. Vira e mexe estavam a importuná-lo, portanto que fossem para o inferno.

O policial que batia à sua porta era Jack Lloyd, uma espécie de “olheiro” das cadeias e perseguidor implacável dos fora da lei. Não importava a ele quem era o perseguido; zombava deles e sentia prazer em vê-lo engaiolado na solitária berrando; faria tudo para que isso acontecesse.

Reed destrancou a garage e abriu a porta.

_Que é? Gritou, olhando furioso para o policial, um sujeito grande metido num jaquetão riscado de branco; _ Que diabo quer você?

_Você, respondeu o “tira”, que entrou sem convite empunhando a arma de serviço.

O policial contou, sem muita delicadeza, que era por um pequeno furto, o de bujão de tanque de gasolina. Por esse furto seria levado à delegacia de polícia. O tira falou aos policiais quem era o fora da lei, e que o acompanhassem. Isso magoou Reed.

Fez uma revista minuciosa em Reed e depois passou a olhar os papéis em cima da mesa um por um, jogando-os por todo lado.

_Você tem Mandado de busca? Perguntou.

Ele deu uma risada e fez um gesto com a arma; ”não preciso de mandado”. Deu as costas e abriu as gavetas da escrivaninha e jogava no chão tudo o que se encontrava dentro delas.

Reed pegou o revolver sob o travesseiro e puxou furiosamente o gatilho; ia mostrar a esse mestiço filho de uma cadela se ele precisava de um Mandado, ou não. Puxou o gatilho e ouviu um track, puxou novamente e nada. No mesmo instante enfiou novamente o revolver sob o travesseiro.

Alertado, o policial virou-se rapidamente. Pensou que ele estivesse procurando alguma coisa: era uma oportunidade. Avançou para o travesseiro e agarrou a arma.

_Então você tem desses brinquedos, hein? Reed sorriu amavelmente...

_Muito bem, disse o policial; vamos andando.

Na Delegacia o policial tinha idéias próprias sobre o que Reed Lewis andara fazendo, mas suas idéias eram desencontradas e não enquadrava na descrição do furto a que ele denunciava. Disse que Reed se identificava com um dos bandidos suspeitos dos roubos na região. O policial foi obrigado a se apegar na única prova que ele tinha; o bujão de gasolina do carro roubado que valia não mais de 02 dólares.

O Delegado ouviu tudo que ele dizia com paciência e balançou a cabeça.

Reed, que não era nada bobo sabia que furto dessa natureza ele não pegaria nem cinco dias de prisão e não teve nenhuma dúvida em confessar o crime.

II

O xadrez estava repleto, principalmente de velhos bêbados que cumpriam alguns dias de prisão.

Reed, posteriormente foi transferido para Gendale, numa cadeia nas proximidades de Los Angeles alojado num xadrez destinado aos culpados de pequenos crimes.

O vigilante de Reed falou com ele:

_Não pense que vai ser solto quando terminar de cumprir seus 10 dias de prisão Reed, porque não vai. Você é uma ameaça à sociedade.

_Obrigado, disse Reed.

_Não me agradeça: agradeça a si mesmo. Eu o avisei e você não quis ajudar.

_Ah! Sim. Está certo. “Eu não quis ajudar”. _ Isso faz de mim um inimigo da sociedade, mas um inimigo franco e sincero. Mas há coisa que me preocupa: Em que isso transforma você?

Reed não esperou pela resposta, levantou e saiu da sala de advogados, que era onde aconteciam as entrevistas.

Reed Lewis era ainda um adolescente de 1,90 de altura, corpo musculoso; seus olhos azuis é que chamavam mais atenção. As garotas nunca deixavam de admirá-lo. Seus pais haviam morrido quando ainda tinha nove anos de idade e não conhecia nenhum parente a quem ele pudesse se valer. Entretanto, ele estava vivo e precisava manter a vida da melhor maneira possível. Terminou o primeiro e segundo grau, Deus sabe como.., Foi com muito sacrifício. Dormia na casa de Jimmy seu melhor amigo, e se alimentava à custa de pequenos furtos na redondeza para sobreviver, mas não era um sujeito mau, as circunstâncias é que não lhe eram favoráveis.

As noites na prisão eram longas e barulhentas. Beberrões formavam uma turma mal cheirosa; seus inquilinos coçavam e roncavam com gosto; expectoravam a noite toda. Ele tinha que arranjar qualquer maneira de dar o fora dali. A cabeça martelava, enquanto ele andava para cá e para lá sem parar.

O vigilante Jack Lloyd havia se esquecido de preencher uma ordem formal de prisão, mas não fora por acaso, sua intenção era esperar o momento em que ele fosse solto para então registrá-lo novamente como violador da liberdade sob palavra.

A sorte foi sua companheira; conseguiu ser solto mais cedo e já estava longe quando ele apareceu.

A primeira parada de Reed foi à casa de armas de fogo de um amigo, onde adquiriu um novo revolver que não falhava. Pretendia firmemente resistir à todas maneiras de voltar à prisão, tinha outras pretensões.

Jack Loyd não tendo encontrado Reed, foi correndo à sua casa; viera só e o encontrou no quintal. Não deixou de fazer aquela algazarra, berrou, ameaçou e disse que ele não podia ter saído da prisão sem sua permissão.

_Mas já saí; disse ele.

_Eu devia levá-lo de volta, agora!

`Não faça isso, respondeu Reed com muita calma. É um favor que você presta a nós dois. Não faça isso.

Diante da resposta firme do moço, o vigilante deu meia volta e se mandou dizendo:

_ Vou te aguardar e quando voltar, nós discutiremos isso.

III

O tempo passou e a casualidade levou Reed conhecer Linda e seu namorado Edward em uma loja de um Shopping, e passaram a conversar como fossem velhos amigos. Ao final, Linda falou com seu namorado: "porque não o convidamos para jantar em casa"? O namorado concordou com a ideia de seu amor; Reed aceitou o convite.

Antonny, irmão de linda também foi atraído pela simpatia do rapaz e a amizade entre eles tornou-se inabalável; passaram a sair sempre juntos.

Foi numa noite em que Antonny convidou Reed e Edward namorado de Linda, para dar umas voltas e tomar alguma bebida. Depois de alguns goles e muitas conversas entre eles, Edward disse que precisava sair porque tinha prova de Direito Penal no dia seguinte; cursava ainda o primeiro ano de Direito e precisava ter boas notas para passar para o segundo ano. Ao mesmo tempo disse à Reed:

_Porque não aventura também fazer o curso de Direito, assim nós poderíamos estudar juntos.

_Reed ponderou: olha, gostaria muito, mas não tenho condições financeiras para pagar o curso.

Foi a vez de Antonny intervir dizendo:

_ Se for só por esse motivo, não precisa se preocupar. Eu tenho boas relações de amizade com o Diretor da Faculdade e não vai ser difícil conseguir para você uma bolsa de estudo.

_ Nessas condições é claro que aceitarei, pois há tempos que eu alimento a idéia de fazer o Direito, só que sempre me falta recursos para concretizar esse sonho. Caso você consiga, aceitarei de pronto e ficarei lhe devendo esse favor, do qual será difícil pagar.

No dia seguinte Antonny cumpriu sua promessa; ligou para seu amigo Diretor da Faculdade J. Cummings, para falar sobre o assunto.

Reed e Antonny seguiram juntos para a Faculdade. Na sala do Diretor, Antonny o cumprimentou e apresentou-lhe o amigo. Depois de conversarem sobre a possibilidade de obtenção da bolsa, Reed lhe entregou o currículo escolar. O diretor examinou o documento demonstrando ares de satisfação, e ao final disse:

_ Seu currículo é dos melhores, portanto não vejo nenhum inconveniente para a concessão da bolsa. No mesmo instante pegou o telefone e ligou para uma das secretárias para apresentar o futuro aluno e dar ordens a ela para providenciar toda a papelada necessária e entregar a ele para ser preenchida. Depois disso falou com Reed: - Olhe, temos uma vaga na secretaria da Escola para serviços burocráticos, se você interessar trabalhar aqui o lugar será seu.

_Claro que me interessa senhor Diretor; posso começar a trabalhar de imediato.

IV

Seis anos depois

Reed Lewis terminou o curso na Faculdade. Depois de receber o diploma procurou por em prática uma idéia que já vinha de longo tempo martelando sua mente. Entrar para a Academia de Quântico para ser um agente federal do FBI. Convidou seu amigo Edward para lhe acompanhar no curso; foi mais uma ordem do que propriamente um convite. O amigo respondeu afirmativamente, mas pediu um tempo para comunicar à sua esposa Linda e saber dela o que pensava sobre o assunto.

O amigo Edward havia se casado com a namorada Linda e já era pai de lindo garoto de cinco anos e uma garotinha de três aninhos. Portanto, era seu dever escutar de sua esposa a sua opinião sobre o convite de seu amigo.

V

Três anos depois:

O Diretor da Academia de Quântico abriu a solenidade dizendo: “Senhoras e senhores, tenho a honra e prazer de lhes apresentar a nova turma de agentes federais que acabam de completar o curso aqui em Quântico”. Em seguida leu os nomes de todos os agentes diplomados. “Com muito orgulho faço a entrega de seus diplomas”.

Foi uma solenidade simples para a entrega dos diplomas aos formandos da Polícia Federal dos Estados Unidos da América FBI.

Edward e Reed Lewis faziam parte dessa turma de formandos em Quântico. Depois de concluído o curso de agente do FBI, os dois amigos passaram a trabalhar juntos, tendo colocado na cadeia muitas quadrilhas de bandidos perigosos. Eram incansáveis defensores da lei. Reed conhecia como ninguém o mundo do crime, pois em outras eras havia sido um fora da lei.

Os agentes Reed e Edward foram chamados para desbaratar uma quadrilha que desviava a maior parte dos alimentos destinados aos presos da penitenciária Federal da Califórnia, cujo volume ultrapassava a casa de 200 milhões de dólares.

“Deixa com nós, chefe”.

Reed e se amigo examinaram toda a papelada referente aos desvios de alimentos. O agente Reed deu um assobio... Pôcha... Essa gente não tem limites para embolsar o dinheiro do governo hein?

Depois de várias investigações, os agentes chegaram à conclusão que tudo passava pelo Diretor da Penitenciária. Reed disse ao amigo:

_Vamos fazer uma visitinha ao Diretor da Penitenciária e tentar descobrir qualquer coisa que nos levem aos bandidos.

Na Penitenciária foram atendidos por um guarda que impediu a passagem dos agentes. Reed deu um pequeno empurrão no guarda e disse:

_Não brinca garoto, mostrou a insígnia; FBI.

_Mas o Diretor deu ordens para não entrar ninguém.

_Nós não somos “ninguém” somos do FBI. Agora diga onde podemos encontrar o Diretor.

_Vá por essa porta e chegará a um corredor. Lá vão encontrar dois guardas,

_Como é o nome do Diretor?

_ Não sei.

_Está bem, se mentir você vai ter que ver com nós.

Reed falou a seu colega: “Isto não me cheira bem, tudo leva a crer que vamos ter boas notícias”.

Os agentes seguiram o caminho indicado e chegaram ao corredor. Dois guardas vieram ao seu encontro e perguntaram o que desejavam.

_Queremos falar com o diretor.

_Sinto muito, o Diretor não atende sem hora marcada.

Reed puxou o distintivo e disse:

_FBI. A hora já está marcada.

Nesse meio tempo surgiram dois gorilas e pegaram os agentes pela gola do paletó. A reação dos agentes foi uma joelhada nos testículos de um, enquanto o outro era jogado no chão com um terrível golpe de jiu-jítsu. Antes dos gorilas se levantarem, os agentes já estavam com a suas “Magnus” apontadas para eles.

`Levem-nos ao Diretor. Agora!

Seguiram pelo corredor e bateram numa porta de vidro. Um secretário veio abrir. Os agentes não esperaram a tradicional pergunta: “tem hora marcada”? Puxaram do bolso suas insígnias e esfregou na cara do secretário. Reed deu um leve empurrão no atendente e caminhou em direção à mesa do Diretor do Presídio; sem ter sido convidado, puxou uma cadeira e sentou-se de frente para ele.

_O que querem comigo? Perguntou o diretor.

_Ora, ora, ora, veja quem é o diretor: Nada mais que o perseguidor de encarcerados, Frank Lloyd. Lembra de mim? - Perguntou Reed. A perseguição aos detentos lhe valeu o cargo de Diretor, não é isso?

_Não me lembro de nada, disse o diretor.

_Da última vez que nos encontramos você disse que ia me aguardar na prisão para conversar, lembra disso?

_Você????? Como se atreve...

_Sim sou eu mesmo. Somos do FBI. Não se mova conserve no seu lugar enquanto fazemos uma busca nessa papelada toda.

_Você tem mandado de busca?

_Veja quem está pedindo Mandado de busca...

No mesmo instante Reed e seu companheiro Edward passaram a revistar a papelada sobre a mesa. Edward encontrou um documento que lhe chamou atenção.

_Hei Reed, veja isto aqui. Parece ser uma lista de pessoas que recebem pagamentos mensais. Era exatamente esse documento que nos faltava...

Reed deu uma olhada e assoviou... Fiiiu... - Vamos atrás de todos eles. Em seguida deu um telefonema; ao final disse: “Quero-os aqui em dez minutos”. Empunhou o revolver e um par de algemas, olhou direto na cara do diretor, com leve sorriso de malícia, disse:

_Estique os punhos! Já!

“Frank Lloyd você está preso”. “Tem o direito de ficar calado, tudo o que disser poderá ser usado contra você. Tem direito a um advogado e dois telefonemas”...

_Você não tem esse direito... Disse o diretor.

_Queixe-se ao Juiz!

Logo depois cinco carros do FBI chegaram à prisão. Onze agentes entraram no presídio empunhando suas armas, indo em direção ao escritório do Diretor.

FIM

Luiz Pádua
Enviado por Luiz Pádua em 31/07/2013
Reeditado em 12/08/2013
Código do texto: T4412638
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