O vinho mais caro da terra(terceira parte)
__O que você acha?
Sentado na varanda do apartamento,Roberto acabara de expôr os detalhes do caso ao seu mestre e amigo Manolo,que ganhara no passado a alcunha de detetive dos casos milionários.
Se atuasse hoje em dia,ele certamente transformaria-se no detetive das celebridades.
Com setenta e cinco anos bem vividos,porém,a única coisa que investigava atualmente eram as contas do condomínio onde morava com Letícia,sua esposa.Como quase todos nós,não confiava no síndico.
Depois de um curto silêncio,Manolo vaticinou:
__Acho que,sem uma boa dose de sorte,será quase impossível encontrar essa garrafa.
__Eu vim aqui para você me encorajar...
__Hum...__Manolo fitou Roberto como se fosse um médico analisando o facies do paciente__Brigou com a namorada?
__Eu terminei um relacionamento há pouco tempo sim,mas...
__Não misture as estações gafanhoto!__brincou o ex detetive__Vida particular é uma coisa,vida profissional é outra.
Roberto tomou mais um pouco do uísque sem falar nada.Manolo continuou:
__Você não veio aqui por causa do caso;já tem estrada suficiente para saber o que fazer,veio é chorar as pitangas..
__Não seja grosso com o menino!__disse Letícia ao entrar na varanda trazendo petiscos numa bandeja de prata.Apesar da idade,a esposa de Manolo conservara um sorriso jovial.
__Obrigado pela defesa Tia.Eu estava na lanterninha aqui.
__Você devia ir para casa descansar!__a mulher acariciou o rosto do jovem detetive,penalizada__ Esse olho está horrível!
__Voltei para a lanterninha...__Roberto fez uma expressão de desânimo enquanto pegava um salaminho
__São coisas da profissão,Letícia.Ele aguenta.__Manolo sempre simplificava tudo.
__Mas você acha isso realmente?__perguntou Roberto,na esperança que a resposta desta vez lhe fosse mais agradável__Só resolvo o caso na base da sorte?
Depois de comer um pedaço de queijo provolone,o velho detetive explicou seu ponto de vista:
__Em primeiro lugar,apesar de ter mencionado a sua experiência,acho que você não está fazendo as coisas certas.
__Por que?
__O que você foi fazer no atelier do costureiro?Ele e o sommelier não se falam há quantos anos?
__Há uns quatro...mas o senhor wallace mencionou o nome dele e ...
__E nada!São mundos diferentes!Você tem,na minha opinião,que se concentrar nos empregados.Um já morreu.Vai esperar que matem a mulher?
__Ela está sendo monitorada pelo Randhir
__Aquele indiano que só pensa em casamento?Você confia nele?!
__Até hoje,ele sempre deu conta do recado...
__Tudo bem.E o seu contato na polícia?
__O Murilo continua meu parceiro.
__Isso é bom.Na minha época trabalhei muito em parceria;só não esqueça de recompensar o cara se ele ajudar a resolver o caso.Nada é de graça nesse mundo,lembre-se sempre disso .
Roberto ficou em silêncio.Concordava com Manolo em tudo e,tinha de admitir,não estava totalmente focado no caso.Permitira que sua vida pessoal interferisse no seu trabalho.Assumira o caso sem a gana necessária para resolvê-lo.Agora,entretanto,depois da sessão de terapia com seu mestre,faria as coisas certas.
__Vou dar um jeito nisso Manolo!E depois tomaremos um bom vinho juntos.Combinado?
__Vou cobrar.
Ficou mais meia hora para colocar a conversa em dia e depois foi embora.Logo depois estava sentado no banco do seu carro ligando para Randhir:
__Randhir!Me encontre na taverna em uma hora.
A taverna era um restaurante que fora adotada por Roberto como um lugar de reunião alternativo.Ao chegar lá seu escudeiro já estava sentado numa das mesas.
__Você demor...Nossa!O que aconteceu com sahib?!__disse Randhir ao vê-lo,sem tirar os olhos do seu rosto.O indiano estava mais bronzeado que o normal,constatou o detetive.A campana,provavelmente,havia sido feita debaixo de sol.
__Tive uma briga,nada de mais..O outro cara ficou pior__mentiu__Mas vamos ao que interessa:precisamos de alguma pista nova Randhir,senão adeus caso.
O indiano não respondeu,apenas entregou sua máquina fotográfica para Roberto e pediu que ele olhasse no visor do aparelho.
__Quem é esse?__perguntou o detetive após alguns segundos examinando as fotos.
__Apareceu hoje de manhã na casa da Salustiana.Chegou num carrão,ficou cerca de quarenta minutos e saiu escurraçado pela mulher.
__Deu pra ouvir alguma coisa?
__Não muito.O lugar é meio deserto,um fim de mundo.Eu precisei ficar longe pra não dar na pinta;mas parecia coisa feia.A mulher chegou até a jogar praga.Disse que ele era um maldito.
__Sério?
__É.E deu pra ver que ela estava o tempo todo com uma bíblia debaixo do braço
Roberto examinou cuidadosamente as imagens do homem alto e negro de óculos espelhados.Um garçon chegou na mesa trazendo uma garrafa de coca cola de 2,25 litros,que fora pedida por Randhir,e logo depois perguntou o que eles iriam comer.Apesar de não estar com muita fome,o detetive tinha que forrar o estômago com mais alguma coisa além dos petiscos da casa de Manolo.A tarde já passava da metade e ele não aguentaria ficar sem comer até a hora do jantar.Randhir resolveu acompanhar seu chefe.
Assim que chegaram os pedidos,ambos avançaram sobre os pratos.
Menos de dois minutos depois,trajando a mesma roupa de horas atrás,o sobrinho so sommelier,Mauro Antunes,entra no restaurante.Ao reconhecer Roberto entre os frequentadores,o marombeiro vai em direção a ele com o olhar vidrado.
__Eu falei pra você não me seguir!__gritou,descontrolado,avançando como um trator por entre as mesas.
Com rapidez surpreendente,Roberto tomou a garrafa de coca das mãos de Randhir,que preparava-se para abrí-la, e a usou como um porrete,desferindo um golpe certeiro no nariz do agressor,jogando-o no chão.Tonto,o marombeiro ainda levou dois chutes na barriga.
__Vamos Randhir!__gritou Roberto,pegando a máquina fotográfica e puxando o indiano pela camisa
Ao passarem pelo garçon,que era seu conhecido,Roberto sinalizou com as mãos que voltaria depois para acertar a conta e qualquer prejuízo.Ele tinha crédito na casa pois, no passado,livrara o dono do local de uma chantagem .
Randhir deixara sua moto na oficina e precisou ir no carro do detetive.
Enquanto ajeitava o cinto de segurança,sem conseguir disfarçar a preocupação com a velocidade do carro,o indiano perguntou:
__Aquele cara era o..
__O boçal do Mauro Antunes!__respondeu o detetive,deixando escapar um gemido de dor.O golpe desferido com a garrafa e os chutes causaram quase tanta dor nele quanto no seu algoz,tinha quase certeza disso,mas estava feliz por ter se vingado.
O indiano deixou escapar um pensamento pelos lábios:
__Eu nunca tinha visto alguém usar uma garrafa de refrigerante daquele jeito!
__Já que eu não tinha uma barra de ferro...__disse o detetive,exibindo um brilho diferente no olhar.
Randhir decidiu não perguntar mais nada durante a viagem.
Roberto,apesar das dores,finalmente estava mais confiante.
Agora ele possuía uma pista,e isso era tudo de que precisava.
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OBS)Semana que vem publicarei a conclusão da história.
Um abraço!