O MATADOR DE CAÇAMBEIROS.

São 3:40 da madrugado do dia 26 de junho de 2004, quando o telefone toca, é o agente Assis:

-Delegado, houve mais um crime e provavelmente tenha sido cometido pelo “nosso homem!”.

Quando o agente Assis fala “nosso homem” se refere ao “serial killer” que mata caçambeiros a pelo menos 4 anos e nunca foi pego.

-Por que você afirma que o foi ele? Questiona o Delegado.

-Simplesmente pelo fato que a vitima é mais um caçambeiro e que o método utilizado é o mesmo dos outros homicídios inclusive faltando apenas o RG da vitima como nos demais casos! Já que os outros documentos estão no local.

-Ok, estou indo, mas me diga onde foi encontrado a vitima?

-No ramal da ponte quebrada.

-Ok, estou indo agora mesmo, a área já está isolada? Caso não esteja, manda isolar logo que estou chegando!

-Não se preocupe, a área Já foi isolada, pois um morador das redondezas foi quem descobriu o corpo e acionou a policia.

-E este morador está por ai?

-Está, falei para ele lhe aguardar, pois precisamos de mais detalhes.

-Ok.

Chegando ao local onde se encontrava o corpo, o delegado de cara já deparou com vários curiosos que logo foram dispersados por ordem dele.

-Assis, me dê logo todos os detalhes, como estava o local, houve retirada de alguma coisa do lugar?

-Não delegado, o local esta preservado!

-Ok, então chame o pessoal da pericia que quero saber de alguns detalhes!

-Ok.

Logo que o pessoal da pericia se apresentou, o delegado Pedroso começou a fazer algumas perguntas e ao mesmo tempo dar-lhes algumas orientações.

Por favor, quero que tirem fotos do local e façam uma varredura em até 100 m do entorno, preste bem atenção na vegetação e também se tem algum vestígio, tipo resto de cigarro, pegada, algum pedaço de roupa ou qualquer coisa que possa parecer suspeita, tenham muita atenção, pois este criminoso já atua a pelo menos 4 anos e nunca deixou vestígio que nos levasse a sua captura.

Pode deixar doutor, vamos ter o máximo de atenção, se ele tiver deixado algum vestígio o encontraremos!

Nisso o delegado Pedroso juntamente com o agente Assis se afastam do local e ficam apenas observando de longe o trabalho dos peritos.

-Assis, imagino que desta vez estamos perto de pegar este criminoso! Sinto que já deu pra ele, não vai ter escapatória. Faz favor me chama lá o morador que encontrou o corpo, quero saber se ele viu algo estranho por estas bandas.

Logo o morador está de frente ao delegado Pedroso.

-boa noite doutor.

Boa noite, como o senhor se chama?

Me chamo Alcides dos Santos.

Senhor Alcides, precisamos que o senhor nos dê maiores detalhes a respeito do ocorrido, o senhor por acaso viu algum movimento estranho por aqui nesses dias? Algo suspeito?

-Doutor, na verdade ontem por volta das 9 e meia da noite eu vi um carro saindo exatamente deste local, como eu tenho um roçado aqui perto eu tinha ido lá colher algumas mandiocas e quando voltei avistei o tal carro, mas não dei conta que fosse alguma coisa desse tipo.

-E o senhor sabe descrever que tipo de carro era, a cor, marca ou algo que tenha lhe chamado atenção?

-Vi que era um carro preto e parecia um gol daqueles antigos!

-Tente se lembrar se era mesmo um gol ou era outro carro qualquer.

-Era um gol mesmo doutor, tenho certeza, pois alguns anos atrás eu tinha um igual, era mesmo um gol preto!

-ok, então agora vamos nos ater a este carro, um gol preto.

-E o senhor não lembra de nenhum outro detalhe?

-Sim doutor, ele tava com uma das lanternas trazeiras quebrada, era a lanterna do lado do motorista!

-ok, muito importante este detalhe.

-Assis, manda expedir um comunicado para toda corporação! Alerte-os para o detalhe do carro, um gol modelo antigo preto com a lanterna trazeira esquerda quebrada, mande acionar os contatos das oficinas e deixe todos em alerta máximo, não quero perder este cara agora que parece estarmos tão perto.

-ok Doutor, deixa comigo!

O “serial Killer” matador de caçambeiros estava apavorando a comunidade havia quatro anos e até então não havia deixado nenhum tipo de pista que pudesse liga-lo aos crimes, mas desta vez parece que ele pisou na bola e provavelmente será capturado.

O Delegado Pedroso retorna ao seu gabinete e com muita atenção começa a rever os arquivos referentes aos crimes anteriores ao de hoje, nisso fica bem atento aos detalhes, (datas, nomes das vitimas e principalmente o que era comum a todos, ou seja, a profissão, todos eram caçambeiros), dai o titulo de matador de caçambeiros.

Então o Delegado Pedroso coloca os papeis na ordem cronológica dos acontecimentos.

1ª Vitima: João de Deus Matoso, casado e pai de três filhos ainda crianças, foi morto com uma estocada direta na região do tórax, pelo lado esquerdo, chegando a atingir o coração. Dia do crime: 12/04/2001

2ª Vitima: Leonardo Ferreira de Macedo, casado, sem filhos, foi morto com uma estocada no coração. Dia do crime: 26/06/2001

3ª Vitima: Geraldo dos Santos Barroso, casado, dois filhos, foi morto com duas estocadas no peito, somente uma atingiu o coração a outra não atingiu nenhum órgão fatal. Dia do crime: 14/08/2001.

4ª Vitima: Manoel do Espirito Santo, divorciado, quatro filhos e foi morto com uma estocada no coração. Dia do crime: 15/11/2001

Deste ponto em diante, o delegado Pedroso verifica que há coincidências, pois todos os outros crimes ocorreram na mesma data, no entanto, nos anos seguintes, totalizando 14 vítimas que morreram nas mesmas circunstâncias, sendo que apenas nesta ultima vítima é que o assassino deu bobeira e deixou algum vestígio que pode levar a sua captura.

Então o delegado começa a sua estratégia para descobrir quem é o assassino cruel. Ele pesquisa nos jornais do ano que começaram os crimes, no entanto nada descobre que lhe possa parecer levar a alguma conclusão plausível.

Resolve então buscar nos anos anteriores ao crime, e para sua surpresa ele descobre que quatro anos antes do primeiro crime houve um acidente de trânsito supostamente causado por um caçambeiro, onde foram vitimas fatais duas pessoas da mesma família (mãe e filha), sendo que o pai que dirigia o veículo atingido pela caçamba sobreviveu, no entanto teve que ficar hospitalizado por 18 meses, já que se encontrava em coma, e ao acordar do trauma não suportou tamanha perda e acabou surtando, assim, teve que ser internado em clinica de repouso psiquiátrico.

Então o delegado resolveu procurar a tal clinica a fim de obter informações a respeito deste paciente, que talvez tivesse algo a ver com os crimes.

Ao chegar a clinica, foi recebido pela diretora que lhe disse que o paciente que ele procurava já havia tido alta pelo final do ano 2000.

-A senhora sabe me dizer o dia exato que ele teve alta?

-Sim, ele teve alta no dia 15 de novembro de 2000!

-Poderia por favor, pegar o prontuário dele para que eu possa fazer uma ligeira analise?

-Sim, pego num instante, por favor, me aguarde.

Logo a diretora da clinica retorna com o prontuário do paciente e entrega ao delegado Pedroso dizendo:

-Aqui está delegado, o paciente chama-se Gustavo Pereira de Avis, ele foi vitima de acidente de transito e ficou em coma por quase dois anos até que veio para esta clinica por problemas psicológicos.

-Seria possível conseguir uma cópia deste prontuário? Lhe prometo que se após minuciosa leitura nada for encontrado que o ligue aos crimes, lhe devolvo ou os destruo!

-Sim, caso se proceda desta forma abrirei uma exceção para o senhor.

-Desde já lhe sou grato pela colaboração.

Após alguns minutos a diretora retorna com as cópias do prontuário do paciente Gustavo.

-Obrigado, com certeza a senhora será lembrada ao final destas investigações.

Chegando a seu gabinete o delegado Pedroso começa a ler atentamente o prontuário do paciente, observa então que em algumas vezes há relatos de delírios onde este falava “caçambeiro maldito, matou minha família, ainda vou vingar-me de todos” tais relatos são frequentes, haja visto, que ficou internado por quase um ano, até que depois de passar por uma avaliação psicológica criteriosa com a Drª Gisele Freitas, que o atendia desde sua internação este recebeu alta. O parecer da Drª Gisele foi fundamental para sua alta, pois atesta que o mesmo se encontra em condições de tomar conta de si.

O Delegado Pedroso buscou informações a respeito da Drª Gisele e para sua surpresa descobriu que esta era tia da esposa do paciente Gustavo, foi quando o Delegado Pedroso resolveu investigar a relação dela com o suposto criminoso.

O delegado acabou descobrindo que o dia do acidente que vitimou a família de Gustavo se deu no mesmo dia em que foi assassinada a primeira vitima do matador de caçambeiro, no entanto em anos distintos, ou seja, o acidente se deu no ano de 1997, exatamente no dia 12 de abril, ele achou que poderia ser apenas uma infeliz coincidência, mas, não era, pois o segundo assassinato ocorreu na data do aniversario da esposa de Gustavo, que também foi vitima fatal do acidente de 1997, ou seja, os crimes tinham relação direta com as vitimas do acidente em que Gustavo perdeu a família.

O delegado então começa a fazer as comparações de datas relacionadas com as das vitimas do acidente e com as dos crimes.

Descobriu que a esposa de Gustavo fazia aniversario no dia 14 de agosto e que sua filha fazia no dia 26 de junho e que o dia 15 de novembro era a data de seu casamento, ou seja, para cada data importante no ponto de vista de Gustavo, um caçambeiro aparecia morto, sendo que os crimes se deram nos anos seguintes à sua saída da clinica psiquiátrica.

No prontuário que o delegado pegou na clinica havia exatamente a data da alta de Gustavo, que foi dia 15 de novembro de 2000, alguns meses antes de ser encontrada a primeira vitima do matador de caçambeiros.

Partindo desta linha de investigação o delegado armou um esquema para flagrar o criminoso em ação.

Os agentes começaram a fazer tocaia, claro que tudo devidamente autorizado pela justiça competente.

Até que um belo dia eles flagram o suspeito entrando num imóvel localizado em bairro nobre da cidade, a visita não demorou mais que dez minutos.

Ao fim da visita do suspeito, o delegado foi acionado e ele mesmo fez uma visita ao morador do referido imóvel, para sua surpresa descobriu que neste endereço mora a mãe de Gustavo.

-Boa noite! Como a senhora se chama?

-Mercedes!

-A senhora teria algum tempo para me receber, sou o delegado Pedroso e o assunto pode ser do seu interesse!

-Pois não delegado, o senhor pode entrar!

-O assunto diz respeito ao senhor Gustavo, que acabou de sair daqui!

-E do que se trata? Meu filho cometeu algum crime?

-Quer dizer que o senhor Gustavo é seu filho?

-Sim

-Na verdade é o que estamos investigando e para isso precisamos de sua colaboração.

-Ajudarei no que for possível!

Quando o delegado Pedroso relata os últimos acontecimentos e diz que seu filho Gustavo pode estar envolvido e que até o momento é o principal suspeito, a senhora Mercedes chora copiosamente, pois ela sabe que seu filho não é mais o mesmo, ela sabe que desde o acidente que culminou com avida de sua esposa e filha, ele age de forma estranha e fria, não é mais o mesmo filho carinhoso de outrora, ela, dona Mercedes, confessou ao delegado que seu filho Gustavo ao sair do coma entrou em surto e repetiu varias vezes que se vingaria daquele que matou sua esposa e filha, não descansaria enquanto não desse cabo de todos.

O delegado então pergunta se ela tem conhecimento que seja ele o assassino dos caçambeiros, pois as mortes se dão exatamente nas mesmas datas, datas estas que coincidem com as datas de aniversario de sua esposa e filha e ainda com data de casamento e data do acidente que as vitimou.

Dona Mercedes chora mais ainda, e diz, com todas as letras:

-Sim, ele é o autor de todos estes crimes, já falei pra ele se entregar, mas ele diz que ainda falta punir um culpado pelo acidente e que amanhã tudo se resolverá, tudo estará acabado. Mas delegado, me escute por favor, meu filho é um homem bom, ele apenas foi mais uma vitima da irresponsabilidade de um motorista bêbado, sua esposa e filha, eram tudo para ele, logo ele delegado que sempre foi uma pessoa muito correta e crente em Deus. Meu filho delegado, ele não acredita mais em Deus, ele diz que se Deus realmente existisse não teria deixado acontecer com sua família o que aconteceu, ele se pergunta “por que minha família? Por que eu não pude ir com eles?” meu filho está desesperado, tenho até medo de saber do que ele seria capaz de fazer.

-Lamento muito pela senhora e seu filho, mas ele deve ser detido, já houve muitas mortes, muitas famílias estão tristes pela perda de seus entes queridos, pais de família foram mortos em nome de uma vingança pessoal, será que todos que morreram mereciam morrer por conta de outro que causou um acidente? Será que se os filhos destas pessoas que morreram nas mãos de seu filho resolvessem matar em nome de vingança, eles também não matariam outras pessoas inocentes? E como seria se todos resolvessem se vingar? Não haveria ordem, voltaríamos à barbárie! Sinto muito, seu filho deve ser detido o quanto antes.

Então o delegado sai da casa de dona Mercedes e vai até o fórum da cidade pedir ao juiz de plantão que expeça um mandado de prisão em desfavor de Gustavo Pereira de Avis, pois de acordo com as investigações existem fortes indícios de que seja ele o matador de caçambeiros, de posse do mandado expedido pelo juiz o delegado Pedroso se dirige até o endereço de Gustavo, acompanhado de mais oito agentes e duas viaturas eles cercam o local e de posse de megafone dão ordem para que Gustavo saia com as mãos para cima, no entanto não obtém êxito, dão novamente a ordem mas nada acontece, então resolveu invadir o local arrombando a porta, para surpresa do delegado e de sua equipe ao entrar no imóvel encontram o suspeito sentado em uma cadeira de balanço com uma corda envolta do pescoço e uma perfuração de projetil de arma de fogo na nuca.

O delegado observa minuciosamente o estado em que se encontra o corpo e descobre que pode ter sido o próprio Gustavo quem preparou a arma para que ao se balançar na cadeira, disparasse fazendo o projetil lhe penetrar na altura da nuca, ou seja, ele cometeu suicídio, observou o delegado também, que Gustavo deixou um bilhete com os seguintes dizeres:

“Lamento muito por tudo que aconteceu nos últimos anos, principalmente pela perda de minha família, perda esta, que foi o estopim para tudo se suceder, o caçambeiro que invadiu o canteiro e bateu em meu carro matando minha família, este eu não consegui matar, mas quero que ele tenha conhecimento que tudo isso só se deu por sua falta de respeito com a vida alheia, pois ele se encontrava bêbado quando causou o acidente que vitimou tanto minha família quanto tantas outras, estas outras a que me refiro, são as famílias que sofreram por conta dos crimes que cometi, elas, também foram vitimas dele, mesmo que indiretamente, pois se ele não tivesse matado minha família, eu jamais teria matado tantos caçambeiros, não quero aqui, me isentar de qualquer culpa, mas quero que saibam que tanto eu, como todos os que matei, foram vitimas de um pessoa irresponsável que não valoriza a vida do próximo. Que ele sofra até o fim de seus dias se sentido culpado pelas mortes dos caçambeiros que foram minhas vitimas, quero ainda que aquele que ler esta carta quebre a parede por trás do meu guarda roupas, pois lá se encontrará uma lista com o nome de todos que matei e o documento de identidade de cada um deles, e mais, o método como agi para atrai-los para morte, pois os guardei para uma futura investigação. Guardei ainda três livros, neles conto a historia de minha vida, como tudo começou e por que tudo aconteceu, qual era minha intenção e quais meus objetivos. Quero que saibam, que tive motivos de sobra para fazer o que fiz, mas reconheço que fui longe demais, e que apesar de não crer mais em Deus, peço à minha mãe que me perdoe por fazê-la sofrer, peço ao pais, filhos e esposas das minhas vítimas que me perdoem, pois só eu sei o quanto sofri quando perdi a mulher e a filha que tanto amei. Quero que todos saibam, que hoje morre mais um culpado pelo acidente que vitimou minha esposa e filha, este sou eu, pois não deveria ter vindo por aquela rua, minha esposa havia dito que estava com mal pressentimento, que alguma coisa aconteceria, só que não lhe dei ouvidos, imaginei que fosse bobagem de mulher, mas ela estava certa e só agora me dei conta que o maior culpado por tudo fui eu mesmo, por não ter escutado a voz da razão. Hoje serei severamente punido pelos meus crimes.

São José do Rio Preto, 14 de agosto de 2004.

*Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes ou fatos reais terá sido mera coincidência.

Macapá-AP, 07 de Julho de 2013

Bert Noleto

Bert Noleto
Enviado por Bert Noleto em 21/06/2013
Reeditado em 21/06/2013
Código do texto: T4351581
Classificação de conteúdo: seguro