Bella Grega XIV

Cap. 14 - Novos Rumos

Ainda na Sexta-feira Félix foi a delegacia:

__ Desculpe delegado pela demora mais fiquei ocupado com o velório e enterro do meu tio.

__ Não tem problema, eu entendo. Agora, podemos conversar?

__ Claro, pergunte e o que quiser e o que eu souber, terei um imenso prazer em responder.

__ Muito bem, o senhor sabe em que condições seu tio morreu?

__ Sim, Fígaro me contou. Uma barbaridade!

__ Sim, sim, uma barbaridade, mas o que eu quero saber é sobre a ligação entre seu tio Raul e o dr.Ricardo.

__ Bem, pelo que sei eles eram amigos. Amigos a quase vinte e cinco anos quando meu tio foi contratado pelo dr.Ricardo.

__ Sei, mas e quanto a pessoas em comum. Havia algum amigo em comum? Pois o dr.Raul era muito reservado e não consigo saber de coisas como esta.

__ Pra falar a verdade eu também não conhecia meu tio tanto assim. Eu só sei o que todo mundo sabe. Por que? Acha que algum deles pode ser o assassino?

__ O que eu vou lhe falar é restritamente secreto e só você, o dr.Camilo, dona Helena Monteiro e eu sabemos. Há algumas pistas que me levam a crer que está tudo interligado.

__ Tudo o que?

__ A morte do dr.Ricardo, o desaparecimento de Dario Tiago, a morte de seu tio e daquela jovem.

__ Como assim?

__ Os freios do carro do dr.Ricardo foi cortado por algum tipo de lâmina bem afiada como uma faca ou uma tesoura. Enquanto o carro em que iam Silvia Monteiro e Dario Tiago, o freio foi cortado grosseiramente. Provavelmente por uma pessoa diferente.

__ Espera, está querendo me dizer que há dois assassinos?

__ É o que as evidências me levam a crer, um é profissional e o outro é inexperiente.

__ Quer dizer que pode ser qualquer um?

__ Exato.

__ E quanto a aquele M na testa das duas últimas vitimas, o que significa?

__ Ainda não sei, mas deve ser a letra de seu nome ou sobrenome ou algo próximo a pessoa.

__ E quantos M tem na sua lista?

__ Muitos mais do que eu queria ter: tem os Monteiro (Percival, Clara, Carlos, Silvia e num caso mais distante, dona Helena), os Maia (Cybele, Ivan e Rafael), tem Mia Danglars, Henriqueta Morais, ontem fiquei sabendo que Mia arranjou um namorado inglês que chegou ao Brasil pouco antes das mortes de seu tio e da moça, ele se chama Willian Montgomery. Ao todo são onze M’s, todos relacionados a Bella Grega, todos na cidade no dia do crime e todos com um hálibe frágil e facilmente desmontável.

__ Esqueceu-se de mim, eu sou Félix Montenegro.

__ O seu hálibe na verdade é o único concebível. No momento do primeiro crime você dava uma palestra sobre direitos do consumidor em Riberão Preto e na hora do segundo crime você estava preso dentro de um elevador entre o décimo quarto e o décimo quinto andar do hotel onde ficou hospedado na mesma cidade.

__ Sabe muito sobre mim.

__ Andei pesquisando e o considerei o mais honesto pra uma missão.

__ Missão?

__ Sim, já que parece que todos esses crimes estão de alguma forma ligados a Bella Grega, pedirei a você que se infiltre naquele lugar e procure encontrar qualquer coisa fora do comum que possa nos levar ao assassino.

__ Eu? Um espião?

__ Não é bem isso. Mas sim, um espião.

__ Mas por que eu? E a Cybele Maia?

__ Já pensei nela, não poderia ser. Ela é um pouco submissa ao marido, Ivan a controla. Quando vieram aqui dar depoimento, tive a nítida impressão de que ela estava dizendo exatamente o que ele queria que dissesse. Não confio nele e conseqüentemente também não confio nela. Você tem hálibe e é o único, até agora, que tenho certeza que é inocente.

__ Bem, se eu aceitasse ser espião pra você, o que eu procuraria?

__ Eu descobri o nome da moça assassinada perto da prefeitura, se chama Márcia Rodrigues. Trabalhou na Bella Grega até que foi demitida pelo próprio dr.Ricardo cerca de uma semana antes dele morrer. As coincidências terminaram a muito tempo. O caso Bella Grega fica cada vez mais intrigante.

Ivan e Percival trabalharam nos detalhes do plano contra Henriqueta, ou melhor, “a favor do Rafael” como querem pensar. Eles poriam o plano em ação no dia seguinte naquele dia mesmo. Na Sexta-feira ao anoitecer, Percival chamou sua mãe loja com o pretexto de que ela o visse trabalhando. É claro que sua enfermeira particular iria junto. Enquanto as duas não chegavam, Ivan convenceu Cybele a passearem pela loja pra se distraíssem um pouco:

__ Eu não posso Ivan.

__ Por que não? A quanto tempo você não descansa. Olha, pelo menos um passeio pelo lugar que você administra.

__ Não sei, estou cheia de contratos pra ler, de pautas pra organizar. A reunião de diretoria está chegando...

__ Por favor Cybele, são só por alguns minutos. Você faz essa pausa, relaxa cabeça e depois volta pra cá.

__Falando desse jeito, está bem. Mas que seja rápido.

Dona Helena e Henriqueta entram pela porta da frente, atravessam o luxuoso hall e pelos elevadores vão até o terceiro andar. O departamento masculino. Um corredor com inúmeras salas, cada uma com um setor diferente. O setor de roupa masculina fica logo no inicio.

__ Oh, mamãe! Que prazer recebe-la aqui.

__ O prazer é meu em vê-lo trabalhando meu filho.

__ Dona Helena? Que prazer em tê-la em meu setor! __ disse Jordão.

__ Ah Jordão? Você ainda trabalha aqui?

__ Vocês se conhecem? __ perguntou Percival intrigado.

__ É claro que sim, Jordão foi um dos primeiros funcionários que seu irmão contratou depois que construiu este prédio a quase vinte anos.

__ É, e trabalhei tão bem que fui promovido da cidade para cá. Mas com certeza a minha maior alegria foi quando o próprio dr.Ricardo me perguntou onde queria trabalhar. Há quinze anos sou chefe desse setor e não me cansou de dizer que eu mesmo escolhi estar aqui.

__ Eu me lembro, mas pensei que você já tivesse se aposentado. Você já deve estar passando dos setenta.

__ Na verdade dona Helena, eu vou fazer setenta no mês que vem.

__ Que bom que ainda tenha tanta disposição pro trabalho.

__ Realmente é muito bom tudo isso, mas eu queria pedir ao senhor se posso mostrar a loja pra minha mãe. Faz tanto tempo que ela não passeia por aqui.

__ Claro, sem problema algum. Mas volte depressa pro seu posto, não vá abusar heim!

__ Claro que não senhor, eu não sou capaz de uma coisa desta.

Os três saíram andando pelo longo corredor, as vitrines são chamarizes pros olhos. Percival as faz entrar no setor de acessórios. Dona Helena fica encantada com a variedade de artigos do local e por uma “incrível coincidência”, Cybele e Ivan os encontra nesse setor:

__ Dona Helena? Há quanto tempo não nos vemos?

__ Muito tempo Ivan.

__ E a senhora continua tão elegante como sempre!

__ E você tão cavalheiro como sempre.

__ Mas é verdade dona Helena, a senhora sempre se apresenta com toda a classe de seu tempo de glamour.

__ Oh, obrigada! Mas você também não fica atrás Cybele, está sempre bem vestida.

__ É a profissão, ser vice-presidente exige muito de mim.

Enquanto isso Henriqueta prestava atenção na conversa e os dois canalhas seguiam com o plano. Percival se aproximou devagar de um dos balcões sem que a vendedora percebe-se e pegou um dos Roléx expostos. Entregou-o ao Ivan que continuou. Ele se pôs perto da esposa e é claro, também de Henriqueta. Discretamente ele colocou o relógio na bolsa da vitima e se afastou. Percival e Ivan foram pra um dos cantos e fingiram estar vendo alguns cintos de couro e prendedores de gravata.

Cybele e dona Helena se despediram, ambas tinham coisas a fazer. Cybele e Ivan saíram pro corredor, mas quando Henriqueta passou pela porta com dona Helena, um forte alarme tocou. As duas não sabiam o que estava acontecendo. E Percival explicou:

__ O que é isso meu filho?

__ É o alarme anti-roubo.

Cybele e o marido voltaram imediatamente e um segurança ao lado da porta intimou Henriqueta:

__ Poderia abrir a bolsa senhorita?

__ O que está insinuando? Que eu roubei alguma coisa?

__ Somente abra a bolsa e vamos ver o que tem dentro.

__ Pode abrir você mesmo, eu não tenho nada a esconder.

Henriqueta tirou a bolsa e a entregou ao segurança.

__ O que está havendo aqui? __ disse Cybele.

__ Eu não sei dona Cybele, mas já estou investigando. Olha só o que temos aqui __ disse o segurança tirando o relógio roubado de dentro da bolsa __ a senhorita está presa por roubo.

__ O que? Mas eu não roubei nada, nunca vi isso em toda a minha vida.

__ Deve haver algum engano, Henriqueta é minha enfermeira particular. É de minha total confiança. Jamais roubaria qualquer coisa.

__ É melhor sairmos daqui. Vamos até minha sala, lá resolveremos este caso.

Saem os seis dali em direção a presidência. Cybele, Ivan, Percival, Henriqueta, dona Helena e o segurança.

__ Muito bem, agora me diga exatamente o que aconteceu Regis.

__ Muito bem senhora, eu estava em meu posto na porta do setor de acessórios masculinos quando ouvi o alarme de roubo. Na porta estavam dona Helena e Henriqueta. Como só Henriqueta estava de bolsa, pedi a ela que a abrisse pra que eu pudesse verificar o conteúdo e lá dentro encontrei o produto roubado, um relógio de ouro cravejado de diamantes da marca Roléx.

__ Mentira! Eu não roubei nada!

__ Então como explica o relógio em sua bolsa garota __ perguntou Ivan.

__ Eu não sei __ respondeu.

__ Bem que eu avisei ao Rafael que você era uma plebéia baixa e desonesta.

__ Não acuse, Ivan __ disse Cybele.

__ Mas não sou eu quem a está acusando, são as provas. O relógio foi encontrado em sua bolsa.

__ Isso é!

__ Você acredita nisso dona Cybele? __ perguntou Henriqueta.

__ Eu não conheço você bem, mas dona Helena sim. O que diz dona Helena? __ perguntou Cybele.

__ Henriqueta sempre foi honesta, sempre foi de minha total confiança e continua sendo. Se ela diz que não roubou, eu acredito.

__ Então eu também acredito __ disse Cybele __ a Bella Grega não abrirá queixa contra você e caso encerrado.

Dona Helena e Henriqueta voltaram imediatamente pra mansão enquanto o grupinho se desfez. Percival voltou pro seu setor, Ivan tentou convencer a esposa por mais alguns minutos e o segurança voltou pro seu posto. A tentativa de incrimina-la tinha falhado, mas Ivan soube tirar proveito da situação pra ter o efeito desejado. Ligou pro filho em São Paulo e contou da pior maneira possível o acontecido. Rafael transtornado desligou o telefone na cara do pai já em prantos. Ivan ficou feliz com a reação do filho, demonstrava que ele havia acreditado no golpe.

Na mansão e trancadas no quarto de dona Helena, a matriarca e sua enfermeira conversaram:

__ Agora me conte o que aconteceu.

__ A senhora precisa acreditar em mim, não roubei aquele relógio.

__ Eu acredito, agora me conte o que aconteceu. do que se lembra?

__ De muito pouco. Nós duas entramos juntas com o Percival, logo depois chegaram dona Cybele e o sr.Ivan. Além disso é muito pouco, por que depois a senhora e dona Cybele começaram a conversar e eu fiquei prestando atenção na conversa.

__ Até aí eu também me lembro, mas e depois?

__ Depois ambas se despediram, tinham coisas a fazer e fomos saindo quando ao passarmos pela porta o alarme soou.

__ Não se lembra de mais nada?

__ Só de ter visto o sr.Percival e o sr.Ivan perto de alguns cintos de couro num canto.

__ Mais nada?

__ Não senhora.

__ Não sei o que dizer.

__ Eu sou inocente dona Helena, eu juro. Juro por Nossa Senhora Aparecida que é minha santa protetora.

__ E eu acredito em você, a quanto tempo nos conhecemos?

__ A mais de três anos quando a dr.D’Andréa nos apresentou.

__ Isso mesmo. Eu te conheço, sei que não seria capaz. E você é tão ingênua, nem sabe o que aconteceu, não é?

__ Do que está falando?

__ De Ivan Maia.

__ O sr.Ivan? Por que?

__ Por que ele é um moralista hipócrita! Eu conheço o tipo, se diz dono da moral e um legítimo nobre, mas é capaz das piores coisas.

__ Como sabe que foi ele?

__ Vou te contar algo que não quero conte a ninguém.

__ Eu já guardo um segredo da senhora, sabe que comigo ele estará seguro.

__ Uma semana antes da morte do meu filho, dizem que o Ricardo o encontrou ele com outra mulher.

__ O que? Outra mulher alem de dona Cybele?

__ Exatamente.

__ E por que ela não soube?

__ Por que o Ricardo encobriu, ele demitiu a moça e lhe deu uma gorda gratificação. Deu uma semana pro Ivan contar a esposa sobre o caso, senão ele mesmo contaria.

__ E aí?

__ O Ricardo morreu justo no dia em que o prazo venceu.

__ E por a senhora não contou?

__ Com que provas? E depois, eu não sou tão amiga da Cybele assim pra dar motivos pra ela acreditar em mim. Tenho certeza que se alguém pôs aquele relógio em sua bolsa, esse alguém foi Ivan Maia.

__ Mas por que?

__ Não ouviu o comentário que ele fez de você, “uma plebéia baixa e desonesta”. Com certeza fez isso pra separa-la do Rafael, pro Ivan nenhuma mulher que não tenha milhões no banco é digna de seu filho.

No final da tarde o dr.Camilo foi ao apartamento de Mia:

__ Espero que sejam boas noticias, estou cheia de más noticias.

__ Não se preocupe são ótimas, alias excelentes! O juiz deferiu a seu favor, a tutoria é sua.

__ Tutoria? Que tutoria?

__ Dos bens do Dario, se esqueceu que havia me pedido que apressasse sua posse? Então, o juiz julgou o numero de provas e testemunhas suficientes já que escândalo publico faz de qualquer pessoa nesta cidade uma testemunha que você e Dario tinham um caso e que o filho é realmente dele.

__ E é permanente?

__ Não, é provisório. O processo serve apenas pra que você proteja o patrimônio de seu filho, ainda terá que fazer aquele teste de DNA assim que o bebê nascer.

__ Mesmo assim eu poderei entrar na mansão como dona?

__ Claro que sim, a decisão é provisória mas é total. Apartir de agora você é a dona da mansão Monteiro e representante de 51% das ações da bella Grega.

__ Maravilha!

continua...

Thiago A Almeida
Enviado por Thiago A Almeida em 30/03/2007
Código do texto: T430992
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