Equador

... comprimir – lhe o pescoço em meio aquele azul estonteante , o céu como se fixado por pregos, a brisa marinha hesitando sobre um mar que seria até macio em seu azul sem ondas,perceber a vida esvaindo-se e a entrega do corpo ao próprio destino , ao fim comum e desejado por nós, por ela principalmente, que não mais desejava a angústia medida do saco plástico e meus polegares a constringir - lhe a traquéia . Transfigurada , consoante ao azul maravilhoso que nos protege e envolve de cima a baixo ; o mar , arremate final da pequena morte ensaiada em tantos quartos de hotel dispersos pelo mundo , luxuriante forma adiada de morrer sucumbindo ao orgasmo convulso, á estripulia de sensualidade (o que é um nome?)

Gostosas e tépidas mãos do seu mais louco amante, disposto a ir onde os outros recuaram por não compreender que aquele morrer era um supremo gozo , inigualável porque definitivo em seu impacto de vagalhões de prazer a submergirem o seu corpo, azul da cor do mar, entre aquelas tão pequenas ilhas, onde tudo isso poderia ser um filme (nós e apenas o sol por testemunha) mas o sol não era nada, apenas figurava naquele equador , marco entre a vida pequena e a liquidez que dissolvendo, acrescenta-nos ao todo maior.

Lembrei da primeira vez que me ordenou o suplício,aquela pequena introdução á asfixia, em meio ao gozo, sacudida e inundada por mim , aríete e fonte , a serviço do tesão infinito, multiplicado á cada compressão do pescoço sedoso,luzidio, untado,perfumado e cheirando a sol , minhas mãos deslizando na mesma cadencia em que lhe percutia o interior, a caminho do prazer oceânico , seguido do largo e profundo sono dos amantes .

Então , que o mar te receba , azul em todo resplendor que um veranico poderia nos oferecer ; agora toda inércia e serenidade, atingiste o teu nirvana ; percebo o sangue nos meus braços lanhados por tuas unhas que apenas eu sei resultado do prazer supremo , não do medo nem do tolo apego á vida que sempre censuraste , pois a toda maneira de amar sobrevive a consciência do transitório ; entre nós, a vida tangenciando a morte anos e anos ,em que te completava e seduzia, pelas mãos mais fortes e precisas já vistas nas tuas andanças pelo mundo . Descobri a proximidade entre viver e findar-se , no momento do gozo , onde morremos para nós mesmos e para o mundo na brevidade casual e humana que nunca te satisfez. Escolheste hoje, o gozo supremo , sob este céu sem nuvens e um sol agora meio escorregadio para a curva do horizonte,deslizando,como indo ao teu encontro, no cemitério marinho .

Ligo o barco ,faço- o descrever um adeus em larga e preguiçosa parábola ; sigo sem olhar a esteira do meu caminho , vezo e sina de vida breve .The end, fim, finis, em travelling, da vida enquanto paródia .

andre albuquerque
Enviado por andre albuquerque em 24/05/2013
Código do texto: T4307705
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