MINICONTO
MINICONTO
Pegaram-no roubando eletrônico no carro. Por azar, presenciei o ato. Testemunha na delegacia. Quando chegava em casa, o ladrão passou em frente e fez-me um aceno, com o indicador apontando em minha direção e batendo na cintura. A camisa estava fora da calça, como escondesse uma arma. Essa cena se repetiria diversas vezes. Estava me deixando incomodado.
De volta de uma pescaria, parando num boteco logo na entrada da cidade, bebíamos alguma coisa e distribuíamos os peixes para os moradores da vila. E contei essa história para o dono do bar, um patrício. Um homem franzino, uns 1,60 m, aloirado, de chinelos de dedo, barbudinho, ouvindo o relato, chegou a mim e perguntou:
-Quantas cervejas está disposto a pagar para se ver livre desse cara?
-Quantas você quiser.
-Pague vinte para o japonês aí (o dono do bar) e deixe por minha conta.
Paguei. Nunca mais vi o sujeito que me ameaçava. Até que me custou pouco, pensei. Semanas depois encontrei o loiro no boteco da vila. Vendo-me fez um sinal de positivo, erguendo o polegar. Correspondi, com um gesto de gratidão e com a consciência bem tranqüila.