Bella Grega IV
Cap. 4 - A Tempestade
Silvia acordou cedo naquela Sexta-feira e foi falar com Dario no apartamento da Mia, onde soube que estava hospedado. A campainha tocou no apartamento do Leblon por voltas sete e meia da manhã e Dario foi atender:
__ Strª.Silvia?!
__ Olá Dario! Posso entrar?
__ Mas é claro que sim, entre, sente-se.
__ Obrigado! O que me traz aqui é muito sério. Aquela mulher está?
__ Não fale da Mia assim, por favor, eu lhe peço. No momento em que o Dr.Ricardo me expulsou da mansão, ela foi à única que me estendeu a mão.
__ Perdoe-me, não quis te ofender. Mas nunca gostei dela.
__ O que a traz aqui senhorita?
__ Meu pai quer falar com você.
__ O Dr.Ricardo quer falar comigo?
__ Sim, ele decidiu te dar uma oportunidade de defesa. Vai ouvir tudo o que tem pra dizer e só depois pretende julga-lo. Naquela noite ele estava fora de si e não pensou nas conseqüências. Na falta que fez a ele. É por isso que quer reconsiderar.
__ É verdade o que está me dizendo?
__ É claro que é, senão eu não teria vindo aqui.
__ E quando vamos nos encontrar?
__ Hoje à noite, em Angra dos Reis.
__ Angra dos Reis? Por que lá?
__ Por que lá não tem nenhum parente ou conhecido que possam incomoda-los.
__ Sei, e quando vamos?
__ Não vão, eu te levarei.
__ Você?
__ Ele só quer conversar lá, assim se um dos dois se zangar será mais difícil quererem voltar do que simplesmente retornar com o carro no meio do caminho.
__ Então a conversa que ele quer ter é séria e longa?
__ Exatamente, vim falar com você pra ver se aceita. Então, aceita?
__ Aceito claro, quando vamos?
__ Se preferir agora mesmo, é claro, se não houver nenhum problema de deixar a Mia aqui.
__ Não acredito que haja, não somos amigos nem nada. Só aceitei uma ajuda nem momento de dificuldade. Vou arrumar minha mala, espere aqui que eu já volto.
__ Eu espero.
Silvia ligou pro pai e contou que estavam saindo naquele mesmo momento pra Angra, o Dr.Ricardo gostou da notícia saiu em seguida, minutos depois Dario e Silvia também já estavam na estrada em direção a Angra.
Quando Mia chegou em casa pro almoço, não encontrou mais Dario, apenas um bilhete:
“Mia, vou lhe ajudar a me esquecer. Dr.Ricardo me ofereceu a oportunidade de me defender, estou indo pra Angra dos Reis. Esqueça também à noite de ontem, você estava bêbada, não conta. Você com certeza nem se lembra direito do que aconteceu, é melhor assim. Serei sempre seu amigo, Dario”.
__ Como ele pode ir embora assim? Sem se despedir. Acho que fiz por merecer, a cena de ontem não foi boa pra ele. Ele deve me odiar agora, o problema, é que só agora descobri que o amo também. Já não tem mais volta, não posso te esquecer.
Chovia muito, quase não se via nada pela tempestade. Raios e trovões rasgavam os céus obscurecidos pelas nuvens negras de chuva. Dr.Ricardo foi sozinho no seu próprio carro até Angra, porém quando virava numa curva, percebeu que estava sem freios. A velocidade só aumentava, a pista estava escorregadia e numa curva a frente perdeu o controle do carro e saiu da pista. O carro capotou varias e varias vezes antes parar de cabeça pra baixo. O cinto de segurança o manteve dentro do carro, manteve seu corpo ensangüentado dentro do veículo. A chuva, como se tivesse que lavar alma do mundo, ficou mais forte. Quase não se via por ela. Silvia dirigia e Dario estava no banco do passageiro.
À tarde, uma patrulha da polícia foi chamada para averiguar um acidente de carro que moradores da região viram. Quando estavam quase chegando no local dito pelos moradores, os policiais viram uma mulher estirada no asfalto, sobre uma ponte cuja mureta de proteção foi destruída. As marcas dos pneus denunciavam um outro acidente de carro, neste outro o automóvel tinha caído no caudaloso rio que passava e que tinha sua correnteza aumentada pelo nível de chuvas que caiu e pelo fino chuvisqueiro que ainda caía. Duas ambulâncias foram chamadas, um guincho também para levar o carro do Dr.Ricardo. No hospital a mulher foi identificada, era Silvia Monteiro. O homem tinha morrido, mas identificado como Ricardo Monteiro. Uma equipe de busca foi formada para encontrar o carro e o rapaz que viaja com a Silvia.
Em todos os noticiários era a mesma coisa, o terrível acidente do milionário Dr.Ricardo, o acidente quase simultâneo com o do pai, Silvia Monteiro e o desaparecimento de Dario Tiago. Foi assim que os Monteiro ficaram sabendo dos acidentes. Percival, Clara e Carlos correram ao hospital e levaram Silvia pra uma clínica particular, onde receberia melhor cuidado. O Dr.Antonio D’Andréa estava no quarto da Silvia com uma enfermeira quando os três chegaram:
__ Quem são vocês? São parentes?
__ Somos, eu sou tio.
__ E eu sou tia.
__ E eu sou primo.
__ De qualquer maneira todos não podem ficar aqui. O quadro dela é inspira cuidado. Só um de cada vez.
Clara e Carlos saem deixando Percival com o médico.
__ Como ela está doutor?
__ Fora de perigo, mas vou deixa-la em observação por algumas horas.
__ O que aconteceu?
__ Bem, ela chegou aqui com algumas escoriações no corpo todo. Arranhões na face, e principalmente nos braços e pernas. Isso é normal a quem pulou do carro ainda em movimento. Ela foi lançada com força no chão, mas vai sobreviver. O nome Dario significa alguma coisa?
__ Sim, por que?
__ Quando chegou aqui é tudo que dizia: Dario, Dario, Dario. Quem é ele?
__ Um ex-empregado.
__ ex-Assessor?
__ Sim.
__ Ah, então esse Dario é aquele que dormiu com a namorada do chefe?
__ É, esse mesmo.
De roupa comum mas pose séria, um homem de sobretudo cinza foi na direção deles:
__ Dr. D’Andréa? Dr.Antonio D’Andréa?
__ Sim, sou eu.
__ Sou o delegado Molina, estou no caso Monteiro. Quero falar com a senhorita Silvia Monteiro assim que for possível.
__ Por que? __ perguntou Percival __ algum problema?
__ O senhor a conhece?
__ Sou tio dela.
__ Ah, tio dela __ disse tirando uma caderneta do bolso do sobretudo __ o senhor deve ser Percival Monteiro?
__ Sou eu.
__ O senhor terá sua vez, todos terão.
__ Diga-me delegado, por que a polícia abriu um caso sobre o acidente de minha sobrinha?
__ Não é só sobre sua sobrinha, mas também pelo seu irmão, o Dr.Ricardo.
__ Eu não entendo. Tanto Ricardo quanto Silvia perderam o controle de seus carros durante a tempestade e por isso os acidentes.
__ A perícia não concorda senhor Monteiro. Os freios de ambos os carros foram grosseiramente cortados.
__ Cortados? Quer dizer que...
__ Que foi assassinato, seu irmão foi assassinado e quase que o mesmo acontece com sua sobrinha, que por um milagre não morreu também.
__ Assassinado! Ricardo foi assassinado, por que isso não me admira?
__ Agora sou eu quem não entende.
__ Meu irmão teve muitos desafetos na vida, muitos gente em quem pisou pra subir. Mais recentemente ele até recebeu uma carta em tom de ameaça a sua vida que ele não deu bola.
__ Mesmo? __ disse abrindo um sorriso __ E onde está esta carta?
__ Meu irmão queimou.
__ Mas o senhor não acabou de dizer que ele não tinha dado bola?
__ Disse, mas mesmo assim ele queimou carta pra que ninguém a visse. Principalmente minha mãe que tem uma saúde frágil.
__ Entendo __ disse roçando o vem feito cavanhaque com a ponta dos dedos __ e quanto a Silvia doutor?
__ Ela está inconsciente desde que recebeu a noticia da morte do pai. Tivemos que lhe dar uma injeção tranqüilizante, ela dormirá por algumas horas.
__ Quando ela acordar, me ligue. Eis o meu cartão, ligue a qualquer hora do dia, ou da noite.
Na Bella Grega, no escritório principal:
__ Dona Cybele, dona Cybele. Péssimas notícias.
__ Que foi Adriana? Por que esse nervosismo?
__ O Dr.Ricardo morreu.
__ Como?! Morreu?
__ Está dando em todos os canais, sofreu um acidente de carro há poucas horas e morreu.
__ A Silvia deve estar inconsolável.
__ Pior, também sofreu um acidente.
__ O que? Quando?
__ Parece que estava em outro carro que também derrapou na pista molhada da chuva e caiu dentro de um rio.
__ Minha nossa!
__ Ela está bem, pulou do carro a tempo. Mas pelo que estão noticiando, o homem que ía com ela caiu junto com o carro no rio e morreu.
__ Era o Cássio?
__ Não, era o Dario.
__ Não, que tragédia! Espera, o que o Dario fazia no carro que a Silvia?
__ É mesmo, não tinha percebido. Isto não divulgaram.
Na mansão as coisas não estavam melhores, todos tentavam esconder da dona Helena a morte de seu filho:
__ Henriqueta! Onde você foi?
__ Buscar um copo d’água senhora.
__ E precisava demorar tanto por um copo d’água?
__ A cozinha estava vazia, demorei até encontrar um copo.
__ Como vazia, Ágata nunca sai de lá. O que tanto vocês conversaram?
__ Nada senhora, está imaginando coisas.
__ Eu sei que aconteceu algo e vocês não querem me contar. Diga-me agora, vamos.
__ Senhora, não aconteceu nada. Está tudo bem.
__ E meu filho? Onde está?
__ Em Angra dos Reis, ele não ía pra lá hoje?
__ É verdade, esqueci-me. Traga-me esse copo d’água, estou com sede.
__ Sim senhora.
Já estava quase anoitecendo quando numa fazenda a quilômetros dali, duas amigas conversavam enquanto caminhavam por uma estrada de terra:
__ O sol está se pondo!
__ Ah não Diana, não me diga que vai fazer aquilo?
__ Tem que ser na última lua cheia do mês, é hoje.
__ Sabe Diana, às vezes penso que você é maluca.
__ Sabe Regina, só agora que percebeu? Vai lá em casa hoje?
__ Vou, mas só pra saber se deu certo.
As duas amigas se despediram e enquanto Regina seguiu a estrada de terra, Diana atravessou o matagal e foi até o rio. Lá esperou pacientemente até o sol se por completamente e a lua surgir no horizonte. Quando isso aconteceu, ela se despiu, nadou um pouco e começou:
__ Oh lua de prata que brilha no céu escuro, ouça meu clamor e dê-me um marido por favor. Oh lua dos amantes, dos enamorados e dos apaixonados, ouça-me e traga-me o meu homem amado.
Mesmo que fosse uma simples simpatia de revista de astrologia, boiando sobre um tronco de madeira veio um homem.
__ Ai! O que é isso? Um homem? Deve ser a simpatia, deu certo.
Diana pediu ajuda a pessoas conhecidas que passavam pra levar Dario pra sua fazenda, perto dali. Desmaiado, ele só acordou na manhã seguinte.
Mia desesperada foi a clinica procurar Silvia. Perto do quarto viu dois homens conversando e disse ao de jaleco branco:
__ Você, quero saber em que quarto está Silvia Monteiro?
__ É parente dela?
__ Não, só quero saber da pessoa que viajava com ela e não fala em canal nenhum.
__ Quem é a senhora?
__ Senhorita, srta. Mia Danglars. Agora, e a Silvia?
__ Sra. Danglars, eu sou o delegado Modesto Molina. Estou chefiando o caso Monteiro e a senhorita está na minha lista de suspeitos.
__ Que lista? Que suspeitos?
__ Não sabia __ interviu o medico __ alguém sabotou o carro do Dr.Ricardo e o que estavam Silvia e Dario.
__ Isso, o Dario. O que eu quero perguntar a Silvia é, o que aconteceu com o Dario?
__ Conhecia o rapaz?
__ Mais ou menos.
__ Estou em dúvida, é sim ou não?
__ Mais pra não que pra sim, mas conhecia. Não fujam do assunto, onde ele está?
__ Senhorita, como delegado acho que sou a melhor pessoa pra lhe dizer isso, o carro foi encontrado, mas estava vazio.
__ O que?
__ Srta.Danglars, Dario Tiago está desaparecido.
A vida dela já não estava fácil nos últimos dias e ela tinha que receber mais esta bomba. Coisas do destino! Quando ele decide que alguém vai sofrer pra aprender, é melhor ser uma pessoa forte por que vai sofrer muito.
Na fazenda, na manhã seguinte, o homem misterioso acorda com muita dor de cabeça. O médico de plantão, Dr.Gonçalo, disse que aconteceria pela forte pancada na cabeça que se demonstrava pelo enorme galo:
__ Onde estou? Quem são vocês?
__ Não se preocupe, somos amigos __ respondeu Diana.
__ E quem sou eu? __ perguntou intrigado.
continua...