A Mansão ACBR - Final

Parte 4 – A verdade

# Tuppence procurava conciliar o sono, sem sucesso. Uma música tocada na porta do seu quarto assustou-a. Aproximou-se do buraco da fechadura com cuidado, assustada. Começou a ouvir uma canção melancólica sobre um idiota que ofendera mortalmente uma bela moça e pedia perdão pelo crime de joelhos. Tuppie reconheceu a voz de Mitáfilo e abriu a porta para falar a ele umas verdades. Mãos fortes seguraram seus braços, imobilizando-a, e, logo depois, ela sentiu-se perdendo o fôlego.

# André começou a escrever um novo livro. Era impressionante o quanto aquela mansão e as temporadas passadas ali lhe davam idéias! De repente, seu rosto endureceu um pouco. Enquanto batia freneticamente as teclas de seu laptop, decidiu que não pediria para Lisa editar aquele livro. Apesar de tímido, ele não era burro.

# Lu Naomi e Lu Bertini jogaram pelo ralo o conteúdo da garrafa de Sirop de Cassis que alteraram mais cedo. Convenceram-se de que a Mansão, decididamente, não precisava daquilo para fazer publicidade.

# Lorde Death não conseguia dormir, apesar de a luz estar apagada. Aquela situação embrulhava seu estômago. Como as coisas podiam ter chegado àquele ponto? Caminhava de um lado para o outro, desassossegado, forçando-se a ver uma solução para aquele problema. Sentou-se na cama de costas para a janela. Naquele instante, estava completamente impotente. Cerrou os punhos com a frustração. “Bem debaixo do meu nariz!”

# Respirou doridamente. O que Strix queria dizer com “Há outro cão na Mansão”? Devia ser importante, já que a informação lhe custara a vida.

# Um ruído vindo da janela o fez virar-se bruscamente. A porta-janela estava aberta e as cortinas se agitavam. Entre elas estava uma figura que fez o sangue dele parar. Estendeu a mão para o abajur, mas a pessoa deu um passo à frente e pediu, suavemente:

# _Por favor, não é preciso, Pete. Nossos olhos já se acostumaram ao escuro, isso só vai nos ofuscar.

# Ele parou o gesto. Sempre se orgulhara de não ser supersticioso nem crer em nada que não pudesse ver ou tocar. Mas tinha que admitir que a visão de Strix a menos de dois metros dele estava minando sua calma.

# _O que você quer? _articulou, com dificuldade.

# _Nada de mais _ela acendeu uma vela que trazia nas mãos, dando um tom ainda mais fantasmagórico à sua presença. _Só conversar um pouco. Posso me sentar?

# Sir Pete fez um gesto vago, ainda de olhos estatelados. Percebendo a tensão dele, Strix riu gostosamente.

# _Relaxe, Sir Pete! _tirou um vidrinho do bolso. _Supersonífero da Strix. Sono cataléptico por três horas garantido ou seu dinheiro de volta.

# Com o elemento sobrenatural dissipado, Lorde Death sentiu-se novamente senhor de si. Olhou para ela muito severamente e disse, irritado:

# _É bom mesmo que conversemos. Que história foi essa de se fingir de morta?

# _Foi o único jeito que encontrei de frustrar um assassino e salvar temporariamente a vida de uma pessoa _respondeu ela, com simplicidade.

# Lorde Death abriu a boca e fechou novamente. A garota avaliou-o por instantes e só então continuou, séria, sem aquela infantilidade que costumava demonstrar:

# _Antes de continuarmos, Lorde Pete Death, quero que me dê sua palavra de cavaleiro de que tudo o que conversarmos aqui será mantido entre essas quatro paredes, a menos que a vida de alguém dependa disso.

# O nobre fez seu próprio exame da expressão dela.

# _Prometo.

# _Ótimo! Por minha vez, também prometo que não irei contar a ninguém que “Pete Death” é apenas o seu título, que seu nome verdadeiro é Daniel Moutinho, ex-diretor da Scotland Yard.

# _Como...! _ele sobressaltou-se. _Como descobriu?

# _Suspeitei da verdade na temporada passada, ao ver o quanto o senhor conhece a respeito da polícia e de criminosos, e tive certeza hoje, quando o vi presidindo com tanta autoridade as investigações preliminares da morte de Mr. Pugliesi. O senhor foi sagrado cavaleiro depois de se aposentar, suponho.

# _Hum... _o nobre resmungou, de maneira neutra.

# _E também, o nome do senhor é bastante conhecido entre uns amigos meus... Sou detetive semiprofissional. Não vivo desse trabalho, mas posso ser contratada para investigar casos bizarros, aparentemente impossíveis ou sobrenaturais. O nome Daniel Moutinho é muito conhecido no mundo do crime.

# “Como eu disse ao senhor, Lorde Death, mais cedo precisei me fingir de morta para salvar uma vida. Para entender isso, precisarei voltar um pouco no tempo... Lembra-se do incidente do ano passado?

# _Como esquecer?

# _Na ocasião, fui inocentada pura e exclusivamente por causa do testemunho de Mr. Darcângelo. Mas não escapei de ser censurada por colecionar venenos. Pensando nisso, meu pai e eu estivemos aqui no hotel fora de temporada e, com a autorização de Luky, troquei todos os venenos por sais e líquidos inofensivos cujo aspecto fosse muito parecido com o do veneno. Sais, Sir Pete. Sais. Se não me engano, o senhor reclamou de chá salgado...

# Sir Pete estremeceu. Era verdade. Por duas vezes, tomara um gole de chá e descobrira que ele estava salgado.

# _Alguém pensou que estava me envenenando? _disse ele, incrédulo. _E por quê?

# _Eu até imagino... _ela mordeu os lábios. _Vou lhe contar uma coisa, e é precisamente sobre ela que eu gostaria que o segredo maior fosse mantido. Há alguns anos, estive no Brasil para visitar... uns parentes muito distantes. Minha mãe sugeriu que aproveitássemos que já estávamos na América para passar uns dias na Argentina, em Buenos Aires. Houve uma briga medonha no hotel... Meu pai teria sido liquidado ali mesmo se não fosse a intervenção de um homem. Sou eternamente grata a ele, mesmo sabendo que ele é um bandido procurado. O senhor deve conhecer o nome muito bem, já que ajudou a polícia argentina a expulsá-lo de lá. Lembra-se do Cão Argentino, Lorde Death?

# _É claro que sim _disse ele, soturnamente. _É um dos muitos que adorariam me ver sete palmos abaixo do chão, o que me forçou a não usar meu nome. _Parou para refletir um instante e perguntou, apreensivo: _É este o outro cão que você disse que tem na Mansão? O Cão Argentino está *aqui*?

# _Sim _ela disse, simples. _Não contei antes porque, afinal, meu pai lhe deve a vida. E ele foi tão gentil comigo ao me defender ano passado e esse ano...

# _Mr. Darcângelo _ele comentou, pensativo. _Mas eu me lembro bem do Cão. Os dois são bem diferentes...

# _Cirurgia plástica existe para isso, não? _ela falou, pressurosa. E continuou, com voz sofrida: _Mas eu descobri que, apesar de ele ter salvado meu pai sem interesse nenhum, não estava me defendendo por cavalheirismo. Ele pesquisou sobre a minha família... Descobriu coisas... _a voz dela falhou um pouco. _Deixe eu lhe contar toda a verdade, Lorde Death, desde o incidente, até hoje à noite.

# Ela estivera sentada na cama de Sir Pete e agora se levantara. A vela lançou sombras sobre ela de uma maneira curiosa. Apesar de saber que ela estava bem viva, Lorde Death não pôde deixar de pensar que ainda estava parecendo um fantasma.

# _Quando ajudou meu pai em Buenos Aires, Mr. Darcângelo procurou se informar a respeito dele, para saber exatamente quem tinha salvado. Ele descobriu sobre meu avô... De como ele foi cruel e sanguinário. E de como, desde a morte dele, uma espécie de maldição assola os Van Allen. Nós atraímos desgraças onde quer que estejamos, Sir Pete. No meu caso, essas desgraças são sempre crimes. Não é à toa que em Kansendorf ninguém fala o nome Van Allen sem chamar boa sorte. Aqui na Inglaterra, eu sou, além de tudo, estrangeira. Pode imaginar como um júri iria me condenar por um crime na hora se tivesse a menor sombra de indícios contra mim?

# “Mr. Darcângelo sabia disso. Ele envenenou os biscoitos no Ano Novo, mas não o suficiente para que matasse alguém. As suspeitas caíram sobre mim, mas ele me inocentou. Era só um jeito de fazer com que parecesse ainda mais culpada depois... Depois, quando ele envenenasse o senhor, Lorde Death. Ele prestaria depoimento dizendo que mentira por um motivo qualquer a respeito dos biscoitos, e pronto: eis aí, a culpada perfeita: uma menina esquisita, com uma família que está sempre cercada de desgraças, que coleciona venenos e maneja bem armas brancas. Sem contar que é estrangeira.

# Lorde Death fez um gesto de concordância. Era um plano engenhoso.

# _E a morte do mordomo? _ele perguntou. _Ele descobriu que Mr. Darcângelo era o Cão Argentino?

# Strix chegou perto de Lorde Death e abaixou a cabeça. O sofrimento em seu rosto era maior ainda, quando ela sussurrou:

# _Não. Não teve nada a ver com isso. Entenda, Sir Pete... Quem matou Mr. Pugliesi... Fui eu.

# _Você??!!

# _Sim. Não foi proposital. Ele entrou no meu laboratório e eu pensei que fosse o veterinário. Isso não aconteceu às seis e poucos, mas às sete e meia, mais ou menos. Eu o levei à porta do terraço, onde estava o Basil, mas ele não saiu. Veio pra cima de mim... Ele queria... _soluço _...queria abusar de mim. Me pegou com aquelas mãos... e queria me beijar à força... o meu punhal não fica no meu quarto o tempo todo: eu o levo para o laboratório quando estou lá. Quando eu senti que o punhal estava ao meu alcance, dei um golpe com toda a força nas costas daquele homem. Eu não queria matá-lo, entende, queria que ele me soltasse. Mas ele percebeu que eu ia atingi-lo e tentou desviar, aí acertei um ponto vital... Foi horrível! Ele me olhou totalmente aterrorizado e saiu, com o punhal ainda nas costas. Correu pelo terraço afora e sumiu.

# “Eu não sabia o que fazer. Fiquei sentada no laboratório tentando me acalmar. O homem ia buscar ajuda na Mansão, alguém iria socorrê-lo e ia ficar tudo bem. Mas passou uma eternidade e não ouvi movimentação diferente, e achei estranho. Desci para ver o que estava havendo e, quando vi que ele não aparecera, voltei correndo ao laboratório para não me trair. Nunca vou me esquecer de quando o vi entrar, do alto da escada. Aquele olhar apavorado, aquele punhal... o meu punhal... ensangüentado, e as últimas palavras dele... Minha consciência pesada me fez ouvir o que ninguém mais entendeu... Ele disse, com todas as letras, antes de cair: *A dona do cão*...

# “Por sorte, consegui me dominar antes de descer as escadas. Enquanto estive sozinha no laboratório, decidi-me por não revelar precipitadamente que era eu a culpada. Eu temi, Sir Pete, temi por você. Se eu me confessasse, Mr. Darcângelo poderia acabar decidindo eliminar você na hora e me culpar por dois crimes, ao invés de um. Por isso, quando André começou a colocar meu testemunho em dúvida, me fingi de morta. Samael não só ia ficar sem um bode expiatório, como precisaria rever todo o seu plano. Com isso, achei que deixaria o senhor em paz por essa noite...

# Ela calou-se. Os olhos estavam vermelhos, mas ela não chorava. Seu ar infantil realçara-se novamente, fazendo-a parecer tão vulnerável, tão assustada...

# _Obrigado pela preocupação _Lorde Death disse, o mais suavemente que pôde. _Mas isso não pode ficar assim. Amanhã, a polícia terá que saber a verdade sobre a morte de Pugliesi. Além disso, o Cão Argentino é um bandido perigoso. Não posso manter em segredo tudo o que me contou.

# _Por favor, milorde _pediu ela, com uma voz estrangulada. _Apesar de tudo, apesar de querer me usar, meu pai ainda deve a vida a Mr. Darcângelo. E minha família são as pessoas mais importantes pra mim. Eu tenho uma dívida de gratidão com ele. Assim que sair do seu quarto, Sir Pete, vou ao quarto dele expor a situação. A menos que ele atente contra a vida do senhor novamente, não conte nada a ninguém! Amanhã de manhã, vou revelar a todos como matei o mordomo num momento de desespero e tentei me suicidar com um sonífero fortíssimo depois... Por favor...

# Lorde Death ficou olhando para ela em dúvida. Seu instinto profissional lhe dizia que lugar de bandido é atrás das grades, mas ele reconhecia as motivações da garota. Meneou a cabeça e ponderou:

# _Por enquanto, não falarei nada. Mas não posso prometer que não agirei quando a temporada na Mansão acabar. Quanto a você, acho melhor que não se exponha a um tipo tão perigoso. Eu falo com ele.

# _Nem pensar _ela balançou a cabeça com força. _Ele tem um facão e não duvido que saiba usá-lo. E pode ter um revólver. Deixe comigo. A gente se entende.

# Sorriu para ele, apagou a vela que trazia na mão e foi em direção à sacada. Antes que Lorde Death a alcançasse, ela saltou a grade. Ele perdeu o fôlego: a queda era muito grande para ela sair inteira. Quando a procurou no chão escuro lá embaixo, porém, Lorde Death não viu ninguém.

# _Boa noite, Sam.

# Samael ficou petrificado ao ver Strix parada na frente da porta-janela. Ela acendeu a vela novamente e sentou-se com desembaraço na cadeira da escrivaninha.

# _Não faça essa cara... Não quando eu voltei do mundo dos mortos só pra ter uma conversinha com você... e com o Lorde Death.

# O rosto dele ensombreceu-se. Ela continuou, animadamente.

# _Já falei com ele. Sabe, ele ficou muito aliviado em saber que no vidrinho rotulado arsênico tem só um inofensivo sal... _Abriu a gaveta do criado-mudo e retirou um vidro. _Nesse aqui, então, tem o sal mais trivial do mundo, o cloreto de sódio. Eu fico com isso.

# Mr. Darcângelo rangeu os dentes. Pegou o seu facão e deu um passo, mas Strix tornou, em um tom mais brando:

# Pedi a Lorde Death que, em respeito à dívida do meu pai com você, não o prendesse imediatamente, Sam. E ele concordou, desde que você não atente contra a vida dele. Por favor, faça isso e, amanhã, quando a polícia vier, não acontecerá nada a você. E não tente fugir. Sua presença aqui é muito importante. Pode parecer loucura, mas a Mansão precisa de você. Estou falando sério: o Basil já melhorou da indisposição, e você sabe como os convalescentes sentem fome... Soltei-o na propriedade para ele fazer um pouco de exercício.

# Ao acabar de falar, Strix virou-se e se encaminhou à porta do quarto. Ela pensava em como não conseguia desgostar de Samael, mesmo depois de tudo o que soubera a respeito dele. Era algo com ele? Algum charme inexplicável? Ou com ela? Ele lembrava a ela seu irmão mais velho. Devia ser isso. Samael deu um passo à frente, incerto quanto ao que fazer com ela. Não deu mais que outro passo: a garota pegou um vidro de adoçante e exclamou:

# _Ah, então é aqui que veio parar o vidro de conta-gotas que enchi de fenolftaleína!

# Samael estacou. Com a voz trêmula de raiva, espumou:

# _Sua diaba! Você sabe que só eu uso adoçante na Mansão! Você me envenenou!

# _Ora, vamos, Sam, não seja tão dramático. Fenolftaleína não é veneno. É um inocente indicador ácido-base. Seu uso prolongado pode causar câncer, mas a fenolftaleína já foi até princípio ativo de remédio...

# _Qual remédio? _perguntou Samael, desconfiado.

# _Lactopurga.

# Ele praguejou, enquanto sentia uma dor abdominal que prenunciava uma noite difícil em uma mansão com o encanamento problemático.

***

# O inquérito da morte de Diego Pugliesi estava terminado. Strix havia conseguido provar que agira por legítima defesa, ainda mais quando se descobrira que Pugliesi era procurado por estupros e pedofilia. Um particular de Sir Pete com a polícia local acelerara ainda mais aquele feliz resultado.

# Os habitantes da Mansão estavam passando pela ponte consertada, naquele momento. Zaira adiantara-se para preparar o almoço, mas um uivar prolongado de Basil (que estava saudável e solto pela propriedade por motivos de conhecimento só dos leitores) fez com que moderasse seus ímpetos de chef. Os novatos conversavam alegremente. Tiago tentava contar uma piada de tribunal para Tuppie, mas essa nem prestava atenção, corando ocasionalmente.

# Mais à frente, Mitáfilo cantarolava distraído, sem perceber que André o estava usando habilmente como um escudo humano contra Lisa. A moça foi ficando indignada. Em um determinado momento, empurrou Mitáfilo com força para trás (ele caiu sobre uma indignada Tuppence, cujo rosto passou por todas as cores do arco-íris num instante) e forçou André a ficar de frente para ela.

# _Que moda é essa, agora, posso saber?

# O escritor, muito corado, não respondeu e continuou andando. Lisa barrou-o novamente e continuou, ainda mais raivosa:

# _Você não vai conseguir nada me pressionando desse jeito! Está se comportando de uma maneira horrenda e egoísta!

# Incapaz de responder aos capciosos argumentos, ele saiu de sua posição de superior indiferença e recaiu em balbuciantes desculpas. Lisa sorriu interiormente, satisfeita. Ficava aliviada de ver que tudo voltava ao normal.

# Samael andava com as mãos no bolso do longo sobretudo preto e ar taciturno. Em determinado momento, aproximou-se de Strix e Flávio, que conversavam (ele tinha agido com advogado dela e pretendia cobrar uma taxa que beirava a extorsão) e sussurrou para a garota:

# _Você me paga por tudo isso! Vai ver, no próximo conto meu, vou te colocar como a empregadinha desmiolada ou como a primeira vítima, daquele tipo que nem fala tem...

# _Você sabe como são irmãos mais novos... Esperarei ansiosamente! _ela sorriu.

# _Pode me aguardar. EU VOLTAREI!

# Foi se deixando ficar para trás, até que desapareceu por trás de um conveniente aglomerado de árvores. Quando Flávio quis falar algo a ele e olhou sobre o ombro, só viu um rolo de capim passando pela ponte.

# Luky, em um mundo de números e contratos, assustou-se ao ser abordada por Lorde Death. Ele parecia preocupado.

# _Com licença, Luky. Gostaria de fazer um pedido a você, como amigo do seu tio e hóspede fiel desse hotel.

# _D-Diga _ela concedeu, surpresa.

# _Quero que, na próxima temporada, transfira meu quarto para o sótão!

# _O sótão? Mas Pete, o sótão não tem banheiro, nem janelas...

# _Precisamente! Ele é espaçoso, é o que basta.

# Afastou-se, lembrando-se, perturbado, de como Strix entrara em seu quarto por uma sacada que estava a uns três metros e meio do chão, sobre uma parede lisa e escorregadia. Luky ficou abobada. Cada vez entendia menos os hóspedes! Apressou-se para se emparelhar com suas primas. Mal havia conseguido, foi abordada de novo, dessa vez por Strix.

# _Garotas... Estou desolada por tudo o que fiz... Agora é que a ACBR não vai conseguir mordomos, mesmo.

# _Não se preocupe, Strix _Luky disse, gentilmente. _Não foi culpa sua. Devíamos ter verificado os antecedentes desse homem antes de contratá-lo.

# _Mesmo assim, sinto-me responsável. Posso criar um homúnculo no laboratório, se quiserem, ou invocar um zumbi. Zumbis não são cadáveres podres, como muita gente acha, eles são como gente normal, só não têm vontade própria. Obediência total e nenhuma necessidade de salário e seguro-desemprego.

# _Hã... Obrigada, Strix, mas acho que ainda preferimos um mordomo tradicional.

# _Bem, se é assim, acho que posso conseguir outro Diego para vocês. Diego Mercier é um doce, só é meio esquentadinho. É estudante de música, e vai se casar esse ano, por isso está juntando dinheiro para comprar um apartamento. É claro, há Albert, que já mora aqui na Inglaterra, mesmo. É meio convencido, mas tem um perfeccionismo doente. Vai ser o mordomo mais correto que puderem imaginar.

# _Olha _Luky, disse, tentando ser gentil _não se preocupe, mesmo. Deixe isso com a gente. Você não precisa se sentir responsável pelo novo mordomo, mesmo-mesmo. Diga para seus amigos se apresentarem para uma entrevista, aí, quem sabe?

# _Certo. Falando nisso, tem uma amiga que quer fazer uma reserva. Chama-se Camila Souza, e quer um quarto perto da cozinha, se for possível. Olhem o caso dela com carinho, tá?

# Sorrindo, Strix adiantou-se, salvando Tiago da falta de atenção às suas interessantes anedotas. As três Lucianas se entreolharam e, sem nenhuma combinação prévia, fizeram uma cruz com os dedos e cuspiram no chão.

Notas da autora

[1] O site da ACBR é http://acbr.luky.com.br A Área Restrita é uma das áreas desse site. O site é mantido pela Luky, e, por isso, ela foi a única que ganhou um personagem de destaque sem ser por contagem de número de e-mails.

[2] "Cão Argentino" é um dos muitos epítetos do leonino Samael, que incluem "Sam", "Sama", "Lobângelo Mau", "Donald" e "Maldito! Você vai ver quando eu te pegar!". "Não posso ser mais, não ouso ser menos" e o rolo de capim também são marcas registradas da Darcângelo Inc.

[3] Para quem não conhece a lista, os personagens citados que não fazem parte dos moradores são: Alexander Van Allen - o pai de Strix -, Diego Mercier e Albert. Os dois primeiros aparecem em “O Conservatório”, um folhetim pelo qual tenho o máximo carinho, e Albert... É melhor não falar sobre ele, ou o ego dele pode inflar e começar a disputar espaço com o do Sama... Os demais parentes de Strix também são fictícios.

[4] Kansendorf, ou, pelo menos, a Kansendorf do conto, é uma cidade fictícia. Se houver uma cidade com esse nome, espero que seus moradores não se sintam ofendidos com as palavras pouco lisonjeiras de Strix.

[5] Essa nota é para o seleto grupo de cinco pessoas que visitava com freqüência o Diário do Esquisito, um fotolog ultimamente abandonado. A Strix desse conto não é simplesmente uma referência a meu pseudônimo: é a mesma garota loirinha e meio amalucada que tinha o diário publicado alternadamente com as “Bizarras Aventuras de Dri-chan”. A descrição física, psicológica, bem como as especialidades e ocupações da garota são rigorosamente as mesmas, tirando pelo fato de que a Strix “original” mora no Brasil e não na Alemanha. D e Derek, as duas “sombras” dela ficaram de fora porque já tinha personagens demais nesse conto. Além disso, D teria quebrado a cara mordomo antes que ele se aproximasse um metro de Strix, e a história não teria ido para frente.

Strix Van Allen
Enviado por Strix Van Allen em 16/03/2007
Código do texto: T415199
Classificação de conteúdo: seguro