Mimi e Zizi - Madrasta e Pai Assassinos
Naquela noite os corações pulsavam à escuridão da maldade. O apartamento não tinha luxo, mas se localizava numa das áreas mais nobres da cidade- a rua da Graça, ali morava a família do ex-governador da Bahia e do prefeito da cidade, os seus vizinhos.
Mimi e Zizi eram órfãs de mãe, oito e sete anos de idade -, a mãe das meninas tivera uma morte envolta em mistérios. Desaparecera sem deixar vestígios. Os familiares acreditavam que estava viva, outros que estava morta, e que o marido, pais das meninas era o assassino. Viviam brigando, era um casamento infeliz,conflitante. " Sem corpo não há crime- e sem vestígios, pior ainda." Dizia Juliano, o pai das meninas. Os familiares lutavam pela guarda das irmãs. A lentidão e as avaliações da justiça atrapalhavam, haja visto que nada desabonava a figura do pai diante da sociedade. Era bom pai, mantinha as crianças numa boa escola e não haviam relatos de maus tratos.
Mimi e Zizi estavam no quarto que dividiam, dormiam o sono dos justos.
- Tem que ser hoje, você precisa ter coragem. Faça como eu disse, e tudo vai dar certo.
Soou a voz de Daniela, a atual madrasta das meninas e atual mulher de Juliano. A voz surgiu na sala, de forma sussurrada, rouca, de timbre maléfico.
- Você as odeia por que não são suas filhas, não é?
Manuela, então, fez um discurso maquiavélico, convincente, até para um pai que se deixava manipular, obsedado por uma personalidade mais forte, dominadora. As frases soavam com frieza e torpor de embrulhar o estômago daqueles que adoram, amam os pequeninos. Até o Mestre Jesus os respeitava, quando disse aos apóstolos para que os deixassem se aproximar: "porque é do Reino dos Céus, também, os pequeninos- pois, os mesmos possuem mais pureza no coração do que o mais puro dos homens."
- Elas nos dão trabalho, e filhos custam caro. Imagine quanta grana irá sobrar, quando estivermos economizando os valores dos livros, do transporte escolar, das mensalidades da escola. Roupas, calçados e diversão. Filhos custam caro, quanto mais crescem, mais despesas. E, poderá ter um meio fenomenal para ferir os familiares da mãe delas, que odeiam e tentam te pôr na cadeia.
- Mas, querida, são minhas filhas...
Manuela, sabia do seu potencial de mulher, e conhecia o ponto fraco do companheiro. Emendou assim:
- Você vai ter que escolher, ou elas ou eu.
- Como assim?
- Eu vou embora.
- Não, Manuela, por favor, não me ameace desta forma. Eu não posso viver sem você, sabe que representa tudo para mim.
Manuela era do subúrbio ferroviário, de família pobre. Cresceu dizendo para as amigas e familiares, que um dia iria morar na Graça, ali, juntinho do prédio do governador. Teria boa vida e seria invejada por todos. " Fuleiros." Dizia, em bom tom para os seus vizinhos do subúrbio.
- Eu vou fazer, por você, eu vou fazer.
Disse o pai das meninas, enquanto deixava o seu celular no encosto do sofá. Percebeu que a porta do quarto das meninas estava meio aberta. Deu três passos e conferiu olhando para as camas. Os anjinhos dormiam o sono dos justos. As bonecas lhes faziam companhia. Eram fãs da Barbie. Possuíam uma coleção de mais de três dezenas de bonecas.
Mimi e Zizi eram carne e unha. Unidas, de chamar a atenção de todos na escola. Dividiam as amiguinhas, os coleguinhas. Mimi era loirinha, de olhos verdes.Nada tímida e muito amorosa. Zizi era ruiva, também, ostentava um par maravilhoso de olhos verdes. Mimi era falante e peralta. Zizi era tímida, vivia á sombra da personalidade da irmã - esta sempre a defendia, quando esta precisava ou a incentivava a agir com energia nas coisas que a travavam-, como o dia que desejou beijar o rosto de um coleguinha, queria que fosse o seu namoradinho de escola.
A voz da madrasta se fazia ouvir no ambiente, dando instruções maquiavélicas. Use a moto, faça parecer um acidente, entendeu? Ali na área do Dique do Tororó, um lugar perfeito.
" Eu vou fazer." Disse o pai, em silêncio.
Manuela era uma morena linda, um monumento de mulher. Cabelos longos encaracolados. Estatura mediana alta. Curvas fatais. Bumbum de mulher negra, farto, empinado. Coxas grossas e roliças. Um par de seios maravilhosos, durinhos, medianos. Os olhos eram amendoados, um tanto orientais. A boca era de lábios fartos. O seu sorriso revelava uma dentição cristalina, de desenho harmonioso. Era uma deusa de sensualidade. Sabia do seu potencial, então, vestia-se de forma sensual, usando roupas coladas ao corpo que revelassem tudo de bom que poderia oferecer a um homem. Calças colantes, saias curtinhas, calças jeans justas, vestidinhos. Blusinhas que revelassem o maravilhoso par de seios - muitas vezes sem o sutien, deixando os bicos empinados sobrepondo-se ao tecido.
Conheceram-se na praia do Farol da Barra. Era uma segunda-feira ensolarada. Os moradores da Barra, Graça e adjacências não vão à praia do Farol no fim der semana. Preferem os dias normais, pois, a praia fica vazia-como se fosse só dos moradores dos bairros nobres no início ou meio da semana.
Mimi foi taxativa: - não gostei dela, papai, é muito" introna". Zizi não comentou, mas o seu estado emocional exposto na face e nas atiuides falavam por si. Uma semana depois, aquela mulher que era o avesso do avesso da mãe das meninas estava morando no apartamento, na Graça.
Juliano era de pele branca, pálida-parecia ser um eterno doente. Ostentava uma barriguinha de cerveja. Tinha a coluna meio encurvada, por erro de postura. O rosto conservava uma barba rala que revelava desleixo com a aparência. Era cerca de dez centímetros mais baixo do que a morena do Subúrbio Ferroviário. Os traços do seu rosto não eram harmônicos. Tinha o nariz pequeno demais, e a testa proeminente. Os dentes eram tortos e encardidos. O rosto era redondo, de cabeça grande. Os ombros miúdos. Havia uma ligeira curvatura nos joelhos para dentro. Quando havia sido tragado pela morena, inocentemente, acreditava ter sido uma conquista." Obrigado Deus." Dizia, pois, ter aquela mulher como esposa, para ele foi mais do que ganhar na Mega Sena. Quando a tinha na cama, despida - muitas vezes chegou ao orgasmo sem ter tocado no corpo monumental daquela beldade. As suas curvas expostas sem o tecido, os seios, a barriguinha durinha-um delírio.
- O meu celular?
Perguntou Juliano, com o capacete numa das mãos.
- Anda homem, adianta o processo. na volta você procura o celular.
As duas meninas foram acordadas, e ordenadas para que se vestissem, com pressa. Obedeceram. Zizi ostentava um olhar de preocupação extremada, quase lagrimando. Mimi tinha um brilho inexplicável nos olhos. Mantinha um dos braços sobre os ombros da irmã.
- Ela quer fazer alguma coisa...
Disse, Mimi para a irmã.
- Vamos, queridas. O papai vai dar um passeio de moto. Vão comigo.
- Eu não quero ir papai, estou com sono, quero dormir.
Falou Zizi.
- Não comecem, vamos, vamos.
Disse, com reclames a madrasta, com voz alterada, agressiva.
As meninas se calaram e montaram na moto.
" Coloquem as duas montadas no tanque, então sabe o que fazer."
Sim, ele sabia como fazer. Seguria á risca as recomendações.
- Anda, homem, vai,vai. Não fraqueje.
Bradava a mulher, ansiosa.
Juliano já estava na quarta cerveja. Sorvia o liquido com um frenesi impressionante.
O Dique do Tororó é uma das áreas mais lindas da capital baiana. Uma lagoa imensa o circunda, com muito verde. As pistas dão volta em torno da grande lagoa. Ali, tem em bronze as estátuas dos Orixás mais populares. Um cartão postal da Bahia. É muito comum acidentes acontecerem, volta e meia um carro derrapa e cai dentro das águas escuras.
- Ele bebeu Mimi.
Dizia, enquanto o pai tentava dar a partida na moto, na garagem.
- A gente podia fugir, vamos tentar. O papai ta dominado por essa mulher má, eles querem nos fazer algum mal.
Enquanto o pai tentava ligar a moto, as duas tentavam abrir uma das portas da garagem, sem o devido sucesso. Não conseguiam girar a chave na fechadura.
- Ei, vamos, a moto já ta ligada.
Chamou o pai das meninas. Os corações dispararam. Pressentiam que algo de ruim estava dirigido para os seus destinos.
Seguiam os três na moto, veloz. Seguiram pelo largo Campo Grande,desceram pela Avenida do Contorno, Comércio. A moto seguia veloz para o seu destino. Após sair do túnel Américo Simas, repetinamente, estancou. O pai das meninas estava com a bexiga cheia. Precisava urinar.
- Esperem aqui.
Escondeu-se atrás de uma árvore. Longos segundos com um filete de urina molhando a grama. Recompô-se e se dirigiu para a moto.
Zizi e Mimi haviam saltado da moto, correram e se esconderam nos arbustos que ficavam á beira da pista.
- Fica abaixada, Zizi. Ele não pode ver a gente...
- Mas, eu quero voltar para casa, a gente vai ficar aqui na rua, perdida, é de noite, tenho medo.
- Mimi...Zizi...onde vocês estão? parem com essa brincadeira, apareçam.
As meninas subiram uma grande escadaria que fica ao lado do ginásio de esportes do Sesi. O local estava escuro, amedrontador.
- Aqui, Mimi, tem uma fenda na parede do muro.
- Mas, é pequeno, s dar pra uma...
-Vem...
Ficaram encolhidas dentro da fenda, no escuro. Ouviram quando soaram os passos na escadaria, lentos.
- Zizi...Mimi...apareçam. Parem com essa brincadeira.
( Continua)