flores murchars
FLORES MURCHAR
Era fim de tarde quando Marcela, acabava de fechar a porta do elevador, no prédio da diretoria da fabrica Plastavá, no prédio só estavam ela e o velho faxineiro o Seu Amadeus, de quem ela se despedira a uns 20 minutos, mal chegou no térreo, ela escuta um grito:
- meu Deus o que fizeram?
Ela senti que há algo de errado. Mas o que seria? Irresistivelmente ela volta para a sala da diretoria, os andares pareciam não passar. Mas ao chegar no 15 andar do prédio encontra seu Amadeus com as mãos nos olhos, recostado em uma cadeira:
- o que foi? – pergunta ela- me diga o que foi?
- veja dona Marcela seu Carlos! Ele ta morto na sala dele.
Imediatamente ela chama a policia que surpreendentemente chega rapidamente, as luzes são todas acesas, os portões fechados, e o to que de ninguém entra ninguém sai começa. O investigador Toni começa as perguntas:
- o que o senhor viu seu Amadeus? Conte tudo não esconda nada!
- quando eu entrei, na sala como de costume. Como faço a mais de 20 anos. Cumprimentei seu Carlos, ele não me respondeu, perguntei se estava tudo bem, ele não me respondeu nada, quando andei em direção há ele, que coloquei a mão no ombro dele, ele não se virou, pensei que ele estivesse passando mal, eu puxei a cadeira foi quando eu vi que ele tava morto com a boca aberta. Foi quando eu gritei e a dona Marcela voltou.
- mas como ela ouviu?
- a janela da sal está aberta, e o som da voz do seu Amadeus ecoou por lá.
Respondeu ela com voz suave, sentada em sua mesa de trabalho.
- e a senhora o que ainda fazia aqui?
- eu estava terminando, de pegar o material para preparar uns relatórios, que ele assinaria amanhã. Mas ele não vai assinar.
- não notou nada de errado, ao sair da sala? Não viu ninguém estranho por aqui hoje?
- não só os mesmos membros da diretoria de todos os dias. Ninguém diferente. Por quê?
O inspetor ficou calado com aquele ar de sabe tudo e ficou calado, olhado a cena do crime, uma sala com mesa, computador, parado em um gráfico de produção, um copo no chão com algum liquido... espere um pouco que liquido seria aquele? Mandou que levassem para um laboratório, podia ele ter sido envenenado.
- eu posso ir embora?- quis saber Marcela- moro longe e minha tia é idosa e doente, vivo com ela. Já esta tarde.
- mas não saia da cidade por favor, ainda vou querer falar com a senhora.
Na porta da sala estava um rapaz serio de camisa azul escura calça preta, sapatos gastos e olhar perdido, barba bem feita, cabelos, bem cortados, ar de aristocrata, sereno como uma brisa mansa que entrava pela janela da sala:
- quem é o senhor?
- meu nome é Jesé sou filho dele.
- onde o senhor estava?
- quando?
- na hora do assassinato?!
- na minha casa! Eu vim justamente para buscá-lo, quando chego aqui me deparo com essa sena lamentável!
O investigador fica sem palavras e dá os pêsames ele não poderia suspeitar do filho do homem, morto. Ele pede desculpas a todos e diz que tem que ir pra casa da família contar o que acontecera. A morte do pai seria um choque muito grande para ser dado por telefone para sua mãe. Sai da sala em silencio e desce, Marcela adianta-se e o acompanha no elevador:
- eu sinto muito pelo seu pai! Ele era um bom homem! Sempre tratou a todos com o mesmo respeito e sem fazer diferenças entre o faxineiro ou o diretor de marketing, ou a copeira.
- quanto tempo faz que a senhora conhece meu pai?
- uns 10 anos. Desde quando me formei. Por quê?
- esse que a senhora descreveu não é o meu pai! Ele era mesquinho arrogante, ao ponto de renegar o próprio filho. Jamais teve um gesto de amor, ou carinho com os filhos. Principalmente comigo.
- me desculpe! Mas aqui na empresa ele era muito amável a todos.
- amável?!- ele sorri, deixando aparecer os dentes alvos como cristais- meu pai amável?! Será que falamos da mesma pessoa? É impossível.
Marcela fica em silencio ao abrir-se a porta do elevador, ele faz sinal para que ela saia, ela agradece e caminha em direção, ao portão onde acabava de passar o ultimo ônibus circular na linha que ia para sua casa, irritada ela diz:
- eu mereço! Perder o ultimo ônibus e agora? O que eu faço?
Um carro para a seu lado, era ele, Jesé o filho do seu patrão:
- algum problema?
- perdi o ultimo ônibus! Agora vou ter que ir a pé pra casa.
- onde mora?
- vila Barrosinha.
- é do outro lado da cidade. Quer uma carona? Não é seguro uma mulher andar sozinha por essas estradas, ainda mais que tem que passar por dois viadutos, e a violência urbana... Aceita a minha oferta de carona.
- não posso. Mal o conheço.
- garanto que não sou nenhum tarado, ou seqüestrador ou assassinos, se é o que está pensando. Façamos um trato, eu a deixo em casa sã e salva e a senhorita me diz seu nome!
- ta bom. Quando chegar à minha casa eu digo.
Ele abre a porta ela entra e senta-se, ele sorri e mostra a ela, onde colocar suas coisas, ela as deposita no banco de trás, sorri e diz:
- meu nome é Jesé Brito sou o filho mais novo do seu Carlos. Você é a secretaria dele?
- sou, quer dizer era. Não sei agora.
- vou dar um jeito de garantir seu emprego. Fique tranqüila, eu garanto, nada mudará na fabrica. Mas quando cheguei na sala onde estava... falavas de um relatório! Que relatório era esse?
- seu pai todos os meses me pedia que fizesse um relatório apontando todos os avanços e retrocessos da empresa, e eu hoje fui justamente pegar, esses dados no setor econômico para fazer o relatório, o diretor geral Dr. Marcondes oferecia sempre pra ele ver os gráficos, mas ele não gostava muito de gráficos, então eu tinha que avaliar os dados e apresentar os resultados encontrados.
- notou algo de diferente, nos gráficos? Alguma divergência de dados?
- não! Sempre em ascensão! Apenas nos meses de costume é que as barras caem um pouco, mas nada de alarmante! O senhor é formado em que?
- eu sou administrador de empresas. Mas nunca exerci o cargo me formei porque meu pai queria que eu fosse como ele, mas eu nunca quis isso, sempre gostei mais de ver o mundo, admirar paisagens, trabalho como fotografo profissional. Tenho um estúdio, no centro da cidade. E o senhor era meu pai. Nos dois temos quase a mesma idade. Pode me chamar de Jesé. E a senhora é formada?
- sou! Eu sou economista! E senhora é a sua mãe... Desculpa não foi minha intenção...
Ele riu como se ela tivesse dito que ele era lindo o que não deixava de ser verdade. Aqueles olhos castanhos claros, muito bem contornados pela cor morena de sua pele, a boca bem desenhada, os lábios finos e o nariz, tão bem afilado, o cabelo, tão negro que parecia reluzir, cada vez que um feixe de luz entrava pela janela do carro, e quando sorria ficava ainda mais lindo, era alto, co um porte atlético, esguio é verdade, mas atlético, mãos grandes e dedos longos, muito bem cuidados, ombros largos e os braços, bem torneados, nada de músculos aparecendo, mas saudável, ele realmente era lindo.
- não se preocupe, eu entendi a sua forma expressão. Eu gostaria de avaliar os gráficos. Acho que já notou que eu e meu pai não éramos o que se pode chamar de amigos.
- desculpe, mas foi impossível, deixar de notar. Eu só não sei se devo. São confidenciais.
- digamos que dos filhos dele eu sou o único que pode assumir a empresa. Façamos outro trato?!
- está bem!
- depois do enterro do meu pai eu a procuro e a senhorita me deixa ver os relatórios, está bem?
- feito Jesé!
O sinal fecha e é então que ele consegue olhar o rosto de Marcela, ela era muito bonita, cabelos bem curtos, pescoço longo, olhos amendoados, castanhos mais escuros, boca rosada como dois botões de rosas vermelhas, pele branca, um narizinho arrebitado, um pequeno sinal, próximo ao nariz que a deixava ainda mais charmosa. Ombros um tanto largos, braços fortes, mas mãos delicadas, dedos longos, é quando ele percebe que em sua mão não existe aliança é quando ele então começa a se perguntar será que ela é casada? Noiva? Tem namorado? Ela sorri para ele com educação, ele nota como seu sorriso é franco, e a deixa com um que anjo, em meio a sua contemplação, ele é surpreendido por uma buzina impertinente, que o faz acelerar o carro.
Andam alguns quarteirões e chegam a casa.
- é aquela de porta branca! A da arvore na frente!
Ele para o carro e com uma voz calma diz:
- chegamos! Agora pode me dizer seu nome?
Ela sorri ajeita o cabelo para traz da orelha e diz baixinho:
- Marcela Avalar.
Ele sorri de volta e diz:
- posso lhe fazer uma pergunta indiscreta?
- depende do que se trata?
Nesse instante os olhos doces apresentavam medo:
- Marcela você tem namorado?
Então era isso que ele queria saber, se ela tinha namorado? Ela sorri e diz mais baixo ainda:
- não! E eu posso fazer uma pergunta?
- faça! Sou um livro aberto!
- é casado?
- não
-E essa aliança em sua mão?
- não é bem uma aliança! É desses anéis que a gente usa pra espantar moças interesseiras nos salões da sociedade. Mas para as que não são...
- então você tem namorada?
- não eu estou solteiro a uns 6 anos. Terminei um relacionamento com uma filha de um amigo de meu pai e foi quando eu notei que as pessoas nem sempre aquilo que mostram ser. O que não é o seu caso!
- como sabe?
- faro de fotografo!
Ele sorri mais uma vez, da porta da casa uma mulher observa com cuidado aquele carro estranho na porta de sua casa:
- aquela é minha tia! Toda Salomé. Ela deve estar preocupada. Demorei a chegar. É sempre assim ela fica de olho na parada do ônibus.
- são só vocês duas?
- e minha prima, ela é casada, mas o marido dela não vale nada, bate nela e nas crianças. Vira e mexe ela vem ficar conosco. Eu tenho que ir! Obrigada! E mais uma vez meus pêsames.
- espero que vá amanhã para o velório!
- irei!
Ele levanta o braço para abraçá-la e ela estende a mão para cumprimentá-lo, ela abaixa a mão e o abraça de leve, abre a porta e sai. Ao chegar em casa olha para tia que a inquire quem é o rapaz? Após narrar todo o pesadelo do final do dia a tia entende a situação e diz que quer ir com ela ao velório no dia seguinte. Marcela, vai tomar seu banho faz um lanche rápido, senta-se em sua mesa de trabalho e começa a preparar o relatório, é quando ela nota que alguns dados não batem. Ela vira a noite refazendo os cálculo e confirma tem algo de podre no reino da Plastavá. Ela deita ao acordar encontra no jornal já a noticia da morte e do velório. Ao confirmar o endereço com a secretaria do setor financeiro, ela sai com a tia e ao chegarem no lugar indicado a primeira pessoa que ela encontra é ele Jesé os olhos fixos na porta:
- que bom que veio! Essa é a sua tia? Como vai dona Salomé?
- meus pêsames! Eu estou como Deus quer! E você?
- andando! Também como Deus quer!
Eles entram e ele apresente Marcela a sua mãe dona Malvina uma mulher muito elegante e seria, com um ar de aristocrata como o filho, mas muito triste com a morte do marido, sua irmã Eva uma mulher forte e com os olhos perdidos no vazio, sempre inundados de lagrimas, Eudes o mais velho com o filho no braço o pequeno Heitor, e sua esposa Michele uma mulher simples e suave como o vento. Todos a trataram com respeito e educação, ela sentiu-se muito a vontade com aquelas pessoas, estranho é que seu Carlos jamais falara de neto, filha, nora... Ninguém!
- sei que aqui não é o lugar mas encontrei uma discrepância nos gráficos!
- como assim uma discrepância?
- as contas não fecham simples assim! Refiz as contas e elas não batem!
- quero ver os números! Meu pai gostaria que e fizesse isso. Já falei com meus irmãos, minha irmã volta amanhã para Zurique, meu irmão viaja pra Natal, ele tem uma tecelagem lá. Sobrou eu e minha mãe. Ela disse que não entende nada de números ou de gráficos ou de empresas então sobrei eu. Eu filho rejeitado.
- então será o novo presidente da empresa?
- serei seu novo chefe! Se quiser ser minha secretaria é claro?
- preciso desse emprego! Não tenho porque me negar a trabalhar com o senhor.
- senhor era meu pai já falei!
- desculpe é um costume antigo sempre tratei seu pai assim, então terá que ter um pouco de paciência comigo.
- está bem. Terei! Mas ainda quero ver os gráficos, ou melhor o relatório pode ser depois do enterro?
- pode! Vamos para a empresa?
- sim! Deixamos dona Salomé em casa e vamos pra lá acho que deve ter alguém na fabrica hoje.
Após o enterro, Jesse deixou dona Salomé em casa e foi com Marcela para a fabrica, o lugar estava deserto, poucas pessoas andavam pelos corredores, a maioria estiveram presentes no ato fúnebre de logo cedo. Jesse andava serio no caminha do gabinete da presidência, ao chegar lá encontra uma surpresa:
- mas o que é isso aqui? – perguntou Jesse aborrecido, com ar de poucos amigos- vamos responda! Que palhaçada é essa? Quem mandou o senhor sentar-se nesta cadeira?
O homem de ar soberbo aboletado, na cadeira da presidência era Valdemar Sanches, um dos diretores administrativos da fabrica:
- bem eu sou o mais cotado, para assumir este posto depois da morte do Dr. Carlos Brito. Era seu homem de confiança. Os herdeiros com certeza irão concordar.
- pois eu lhe garanto que não!
- e quem é você pra garantir alguma coisa?
- eu sou Jesse Brito filho do Carlos Brito. E vim para assumir o lugar de meu pai. Então eu ordeno que saia desta cadeira e conheça as suas limitações. Até onde eu sei, o senhor não é sócio ou muito menos, teria poder em qualquer decisão então cuide do que é seu lugar, a diretoria administrativa, isso se eu concordar em deixá-lo lá.