PSICOPATA FOI LONGE DEMAIS II

Ainda que admitisse, mesmo remotamente, alguma possibilidade de suspender o plano de ataque preventivo à psicopata, ELE teria mudado de ideia ao receber uma mensagem de texto enviada por ELA pelo telefone celular. O tom do escrito era "amistoso", recheado de elogios ao destinatário. Para este, não se tratava apenas de uma afronta. Naquelas palavras, via expresso o escárnio, o exercício do prazer sádico elevado à infinita potência, de que só uma personalidade sociopata é capaz: experimentar com antecipação o prazer da maldade extrema que já estava a ponto de colocar em prática. Era, sem margem para qualquer dúvida, uma das últimas etapas a cumprir antes do golpe fatal. Uma forma de deixá-lo tranquilo, livre de qualquer desconfiança e, por conseguinte, de evitar que ELE pusesse em ação qualquer atitude preventiva. Enquanto lia aquelas palavras que lhe soavam diabólicas e o deixava ainda mais em pânico, imaginava o riso debochado da autora, enquanto, por certo, ELA repetia, para si própria, frases do tipo: "- Bobalhão idiota ... não és capaz de imaginar o que te espera! Te enganei direitinho...MINHA competência é infalível ... pessoas boazinhas como tu só merecem mesmo é o sofrimento mais atroz, doído, cortando a carne, mas no teu caso, ferindo bem fundo o coraçãozinho de coelho pateta. RáRáRá...O mundo é dos fortes, ficou para os dominadores ... É a Lei da Evolução Natural, Meu beeem ! Tu conheces as teses de Darwim, mas só na teoria. Eu, NÃO! RaRaRaRaRa...kekekekeke!
SOU PRATICANTE DEDICADA E INCANSÁVEL! Quero sentir orgasmo quando estiver te consolando pela grande perda de tua vida. Vou te dizer palavrinhas de conforto espiritual, RaRaRaRaRa ... tu acreditas em Deus, eu sei ... pois é nessa linha que vou fingir amenizar tua dor ... e enquanto estiver falando, vou passar as mãos por teu rostinho, teu cabelo ... e fazer mais carinhos daqueles que te agradam. "
Como se voltasse à realidade, ELE trincou os dentes, fechou as mãos com força e deixou escapar um forte grito de raiva. Mais precisamente: de ódio. Chamou um táxi por telefone. Não se sentia em condições psicológicas para dirigir. Tinha medo de atropelar alguém ou causar algum dano material a outras pessoas. Desceu do veículo a três quarteirões de onde fica o edifício para onde estava se dirigindo. Cauteloso, mesmo sabendo que o rapaz desconhecia a razão de sua ida àquele lugar, tinha seus motivos. Como especialista no conhecimento de mentes criminosas, sua presença ali não chegava a ser uma raridade e, nunca é demais pensar, certos psicopatas identificados com base em suas análises já andavam à solta. Os que estão presos, logo estarão livres, pois as leis do país são complacentes e colocar-se em risco de ser alcançado por um deles, é o que mais procurava evitar. Prestava consultoria aos órgãos de segurança, mas atuando sempre de maneira reservada. Quando o motorista lhe estendeu o dinheiro do troco, disse-lhe que ficasse com o valor. Era costume seu. Pagava sempre a mais do que lhe era cobrado. Aprendera a ter compaixão pelos menos afortunados do que ele.
O prédio apresentava poucos dispositivos de segurança ostensiva. Apenas uma dupla de guardas armados e número igual de viaturas junto à calçada. Uma discreta placa na fachada informava que ali funcionava uma seção do órgão estadual de segurança, mas não era o edifício principal da instituição, seja da área de comando ou operacional. Destinava-se a certas funções burocráticas para atendimento direto ao chamado público externo. E serve também de sede informal a um núcleo especial de operações de inteligência e de caça a certo tipo de criminoso. Entrar ali não é problema. Identificação eletrônica através das digitais e da iris, por exemplo, não é exigida. Quem chega mostra um documento de identidade impresso e ao cruzar a porta que comunica a recepção geral com o corredor de acesso aos compartimentos internos, passa por baixo de um sensor eletrônico quase invisível que detecta a existência de armas porventura conduzidas. Já no interior do edifício, ia respondendo da mesma forma respeitosa os cumprimentos dirigidos por funcionários que o conhecem. Vizinhos e parentes, pessoas que o conheciam fora dali seriam incapazes de imaginar tamanha familiaridade. Repetiu a praxe de aguardar o Delegado-chefe na saleta reservada, à qual somente uns poucos tinham acesso. A ante-sala oficial era local de recepção destinada a pessoas sem maiores intimidades com a organização e seus responsáveis de mais hierarquia. Tirou do bolso da calça algumas folhas de papel e passou a examiná-las enquanto aguardou sentado em uma das duas únicas poltronas ali existentes. Os olhos se alternavam entre os papéis e o vazio. Quem o visse não perceberia, mas estava a ponto de deixar fios de baba escorrendo pelos cantos da boca, tamanho o seu ÓDIO. Nem se deu conta de que a porta que comunica a saleta com o gabinete do Delegado se abriu. Ouviu a saudação que se acostumara a receber daquela autoridade: -"Meu amigo, Não, NOSSO AMIGO E BENFEITOR SOCIAL ", palavras pronunciadas em tom propositadamente baixo mas carregadas de sinceridade. Viu-se então desperto das divagações. Já de pé, retribuiu o caloroso abraço recebido e acompanhou o velho e dileto amigo,  ocupando uma das cadeiras dispostas em torno da pequena mesa de reunião.
- E então, posso expedir a voz de comando para o Imediato?
Familiarizado com aquele jargão corporativo, sabia que o interlocutor se referia a um funcionário que recebe ordens para repassar adiante, até chegar ao executor de fato da ação final. Funciona assim. Os de escalão mais baixo nunca sabem de onde partiu a determinação.
- Agora mesmo, se for possível.
- Nas próximas horas, para que sua presença aqui não seja relacionada ao fato
- Ótimo! Eu sei que funciona assim e...
- E logo que o assunto esteja resolvido, você terá fotos e filme do cadáver. Vai poder, finalmente, ficar tranquilo.
- Cadáver?
- Claro, a ação será eficaz e definitiva!
- Mas eu não estou pensando em matá-la.
- COMO!? Mas, não é para dar cabo da psicopata?
- Sim, Claro, Mas não matando, quero TORTURA!
- Tor-tu-ra?
- Sim, isso mesmo, tortura!
- Mas essa prática deixou de existir, ou melhor, diminuiu muito com os avanços dos meios de investigação ... a tecnologia, por exemplo, é um instrumento eficientíssimo. A eletrônica, a química avançada, os estudos de tipologia mental como os que você faz, por exemplo...
- Sei, eu sei, meu amigo, mas é o que eu quero: TOR-TU-RA!
- Vejamos se eu entendi. Você quer tirar de circulação uma psicopata que está prestes a cometer um crime hediondo contra um ente queridíssimo seu e...
- Um conjunto de crimes, ou UM CARDÁPIO, para ser mais preciso!
- Certo! A palavra cardápio é adequada, afinal, esses psicopatas impiedosos, desumanos e sem alma se comportam como se fossem canibais. E alguns comem  mesmo os restos de suas vítimas, ESSES PORCOS!
- Sabia mesmo que podia contar com sua ajuda e compreensão.
- Só não entendo como vai impedir que ELA continue agindo, barbarizando, sem matá-la.
- TOR-TU-RA! TOR-TU-RA! Esta é a solução, eficaz, definitiva e PRAZEROSA sob o ponto de vista das vítimas, concretas ou potenciais.
- Tenho ouvido você afirmar de forma contundente que um psicopata não se redime, é incorrigível, e agora...!
- Aí é que está! No caso, como em outros, vai resolver, sim. Não como um método oficial, claro, mas ...que seja Tortura CIENTÍFICA! Científica e mais do que cruel. CRUEeeeL. CRUDELÍSSIMA! E SEM POSSIBILIDADE DE ALÍVIO, NEM QUE NÓS QUEIRAMOS!
Toque de telefone interrompe a conversa.



Cont
inua no próximo capítulo.
Alfredo Duarte de Alencar
Enviado por Alfredo Duarte de Alencar em 24/10/2012
Reeditado em 20/11/2012
Código do texto: T3950598
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