TERRORISTA

TERRORISTA!

I

Os dois se conheceram na Escola de Polícia. Detetives. Adamastor e Benevides, seus nomes de guerra. Cada um com seu modo de ser. Adamastor era arrojado, gostava de enfrentar as situações quanto mais perigosas, melhor. Bom porte físico, atlético, cabeludo, sempre com o topete armado. Galã. Já Benevides era o oposto. Discreto, não digo mirrado, mas sem qualquer dote físico que chamasse a atenção. Cabelo liso, bem fixado com gel. Nada intrépido. Tímido. Preferia os casos mais intrincados, onde prevalecia a obscuridade, e necessitavam de maiores exercícios da cabeça. Os casos misteriosos!

Os dois prestavam serviço na Polícia Federal, na divisão que tratava de assuntos internacionais, tais como, procurados pela Interpol, criminosos de guerra, foragidos da justiça de seus países, entre outros.

Há muito tempo formavam uma dupla cativa, o que levava ambos a se conhecer profundamente. Em virtude do entrosamento natural proveniente desse convívio, sempre eram convocados para os mais importantes casos a serem desvendados.

Assim foi, no caso dos alemães criminosos de guerra, os quais muitos deles vieram a se fixar em nosso país.

Foram eles, do mesmo modo, por exemplo, que conseguiram localizar e prender um importante banqueiro italiano, que dera grandes golpes, os chamados crimes do colarinho branco, em seu país de origem. E outro, também italiano, que cometera diversos crimes, inclusive homicídios, na sua pátria.

Os dois, de antemão, estudavam as principais características dos procurados. Toda vez que havia necessidade de determinadas buscas em lugares suspeitos, perigosos, Adamastor convocava investigadores, solicitava reforço policial junto a Polícia Militar, para dar cobertura às suas incursões. Na retaguarda, em estudo sobre as características de cada elemento visado, e onde poderiam ser localizados, lá estava Benevides, em seu gabinete, quebrando a cabeça.

Estavam os dois há já algum tempo, praticamente sem qualquer caso a enfrentar, quando foram chamados para comparecer na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília. Ficaram preocupados, pois, jamais houvera isso acontecido. Toda vez que eram convocados para algum serviço, sempre trataram aqui mesmo em São Paulo, perante o delegado regional, onde estavam lotados. Deveriam ir acompanhados por essa autoridade.

Lá chegando, foram logo atendidos pela autoridade máxima da Polícia Federal. Nada havia, de caráter pessoal, contra eles. O assunto era um serviço especial.

- O caso é extremamente sigiloso! De segurança nacional! Há uma informação de fonte segura, que se encontra em nosso território, em

local desconhecido, o mais perigoso terrorista da atualidade! Abdullah Ali Fath! Esse fato não pode, de forma alguma, chegar aos ouvidos da população, sob pena de se estabelecer uma onda de temor incalculável! A imprensa, obviamente, deve ficar, também, em completo desconhecimento! É necessário um trabalho rápido, eficiente, por isso vocês foram chamados! Vocês terão à disposição todo o necessário para a solução do caso! Confiamos em vocês! A Presidência também! Falo em nome dela! Queremos o terrorista árabe vivo ou morto!

Essas foram as palavras da autoridade.

II

- Abdullah Ali Fath! Quem diria! Nosso próximo alvo! Exclamou,

Adamastor.

- Pois é, meu amigo! Temos que dar conta do recado! O adversário é altamente perigoso!

Iniciaram, então, os trabalhos. Benevides começou a acionar sua rede de informantes. A tarefa se apresentava muito difícil, pois a figura do procurado causava grande temor. Ninguém queria se expor. Poderia haver a retaliação contra o delator. Só o fato da presença do árabe, a ameaça de atos terroristas, com a utilização de suicidas, como era de seu feitio, provocava intensa preocupação àqueles que sabiam de sua existência entre nós. Tinham que agir com muita cautela.

E, assim, o tempo foi passando! Adamastor percorreu quase todo território brasileiro, sempre guiado pelas informações recebidas, e após o minucioso exame efetuado por Benevides. O esquema de proteção ao terrorista tratava-se de algo muito organizado, de forma

que, quando a equipe de Adamastor estava próxima de dar cabo à perseguição, algo acontecia de inesperado, voltando tudo à estaca zero. O perseguido sumia. Em pouco tempo, já vinham notícias de que ele se encontrava em outro lugar. Parecia, até, ter o poder da onipresença!

Uma das “caçadas” mais interessantes aconteceu no interior do Ceará, numa cidade de médio porte, na Semana Santa, durante a representação da morte de Cristo. Adamastor foi avisado de que Abdullah se encontrava ali, no teatro. Quando adentrou no recinto, a segurança do árabe logo tomou as medidas necessárias. Na cena seguinte, a representação da Santa Ceia, aproveitando-se de seus trajes, Abdullah aparece entre os atores, como se fizesse parte do elenco. Assim, após a encenação, conseguiu safar-se.

Se alguém tiver a oportunidade de ver a foto daquela Santa Ceia, notará a existência de um comensal a mais...!

III

Quando o desânimo estava se apoderando de Adamastor e Benevides, quando os dois estavam prestes a entregar os pontos, e confessar a impossibilidade de conseguir completar a missão com êxito, foram surpreendidos com a notícia intensamente divulgada na televisão, na internet, e em todas as rádios, de que Abdullah Ali Fath havia sido morto, no Paquistão!

Dias depois, os dois famosos detetives brasileiros ficaram sabendo. Todo o caso foi uma trama armada pela agência de segurança nacional, com a finalidade de treinamento, para uma suposta presença de esquema terrorista no Brasil.