O SUBMUNDO.
Sacos de lixos espalhados pelas calçadas,estendidos ao longo dos meio fio desalinhados.
Fiteiros sujos de bancas de bicho atravessados sobre a via de pedestre
No meio do estreito asfalto,bicicletas,cachorros,homens e meninos competem com a passagem irregular de automóveis e motocicletas.
Os fios de telefones sobre as paradas de ônibus,propensos nas cabeças de quem passa.
Pessoas abatidas e cansadas,portando sacolas plásticas,jovens conduzindo outros nos quadros das bicicletas,casais, mulheres quase nuas,pederastas,lesbica ,crentes,viciados atentos nas esquinas.
Homens sobre frágeis coberturas de telhas loudentas de brazilit ,de camisas e bermudas, outros de blusões abertos deixando á amostra os peitos nus.
Cada um se junta ao seu grupo como lobos em bando,velho com velho,jovem com jovem para conversarem da vida alheia e de suas próprias vidas.
A chuva cai e sobre as marquises estiam...
Meninos atravessam correndo, pares encolhem-se sob pequenos guarda-chuvas de aspas á amostra,outros passam com faces arqueadas protegendo as cabeças com toalhas e sacos plásticos.
O ônibus passa com mulheres e homens atentos nas janelas,com braços e cotovelos á vista.
A chuva estanca,os guarda-chuvas desarmam-se os panos e sacolas são retirados da cabeça e postos nas costas.
Retoma-se o tráfego de pessoas
Senhoras sobem dos córregos para chamarem seus netos e saem arrastando-os pelos braços.
Raparigas se cobrem deixando os umbigos com pinces á amostra .
Mocinhas evangélicas com a Bíblia na mão passam Por estas e a repudiam, uma negra de cabelo a escova que arruma a tufa com carinho.
Tenda cobertas por escuras lonas são desarmadas,cadeiras e caixas são recolhidas...
Quando gritos e correrias ouvi-se...
Um sujeito foge a todo vapor enquanto uma multidão o persegue pedido para que o agarre de modo que um sobressaindo-se joga-lhe uma pedra paralelepípedo que trisca-lhe as costas.
As pessoas saem das suas casas,surgem nas esquinas,comentam,sorriem,gesticulam se sentam no meio fio,para verem a multidão retornar estafada.
Manga rosa desperta com o sol deitando atrás do morro,as janelas e portas trancadas,sinal que seu irmão saiu.
Abre uma parte da janela veneziana para vê como estava o tempo.
Salta da cama lerdamente,passa os olhos sobre a casa,quase tudo no seu devido lugar.
Destampa algumas vasilhas sobre o fogão,seu irmão havia preparado o almoço.
Abre a geladeira.pega um ovo e frita,suspende o botijão e balança sem muito esforço o gás esta preste a acabar.
Abre o armário e cata com a mão analiticamente o que ainda tinha;
Meio quilo de arroz,de sal,de macarrão,sementes de quiabo,coentro,sementes de girassol e uma nota surrada de 2 reais,era todo o dinheiro que havia.
Abriu a cédula e a cheirou, tinha cheiro de roupa suja,depois dobrou-a e a pôs no mesmo lugar.
Subiu na cadeira e acendeu a lâmpada da sala enroscando-a com a mão.
Correu para a cozinha e retirou o ovo feito,que começava a queimar.
No lugar colocou o feijão.
Voltou a sala e sentou-se no sofá velho e encardido.
Olhou a sua volta no outro sofá menor, estava seu violão estendido como uma mulher despida.
Ao seu lado sobre uma cadeira uma pequena televisão,que seu irmão tinha comprado a uma vizinha,dava sinal de pouca resistência.
Na sua frente uma estreita estante sustentava uma pequena fileira de livros deixando á vista pela portinhola pendurada,alguns vinis de bolero tangos...
Por um instante estendeu o corpo para baixo esticando as pernas e apoiando a nuca nas costas do assento, suspirando,fechou os olhos e fez um pedido para Deus.
Lembrou-se da comida no fogo e correu para retira-la.
Enquanto esfriava
Pôs um disco de NET KING COLE
O som rouco dos tuites imponentes,desfigurava a beleza do som.
Com um movimento hábil no braço do radiola fez parar o Lang play .
Bulinou aqui e acolá.
“teria que dá um jeito naquelas caixas de som”.
Pensou consigo sábado teria a feira do troca troca .
Retornou a liga-la.
A sonoridade fluiu melhor.
Solfejando sentou-se á mesa da cozinha.
Olhou para o relógio no pulso lembrou-se que os ponteiros da parte superior estavam parados.
Acendeu o mostrativo menor,faltava dois minutos para as 18:00 horas
teria que preparar o corpo para o longo trajeto que ainda iria fazer,
e pensou; “Que o espírito já estava preparado”.
Voltou o fundo da panela para a luz da lâmpada para vê se estava furada.
Colocou um pouco de farinha,jogou o ovo frito que caiu como uma borracha sobre a porção de alimentos.
Encheu a boca...entalou-se.
Levantou-se rapidamente
Pôs a boca debaixo da torneira do filtro, o bolo alimentar desceu rasgando sua goela.
Encheu de água uma garrafa de 560 ml e pôs junto dele para possíveis emergência.
Sorriu de si mesmo.
Engolindo o alimento quase sem mastigar.