Contos de um polícia do interior- O Grande Maças.

A polícia como tudo na vida tem coisas boas e ruins, mas normalmente as boas são muitos boas e as ruins péssimas, estamos dia a dia de cara com a miséria humana, como digo, dentro de uma delegacia dificilmente tu vai ver gente bonita, cheirosa e interessante. Nossa clientela são os desassistidos pela sociedade. Mas apesar de tudo como dizia um instrutor da acadêmia de polícia, a policia é uma cachaça, depois de um tempo vira vicio. E a gente acaba conhecendo colegas que dignificam esta profissão. Felizmente tive sorte de trabalhar com pessoas boas, e um que outro excepcional, e dentre estes “O Grande Maças”. Foi num reforço destes, que se faz para ganhar uns trocos a mais. Eram três meses para lidar com homicídios “encravados”, coisa não resolvida de dez anos atrás, aquele tipo de caso que demanda tempo, o que normalmente em uma cidade grande não se encontra, nem um nem outro. Maioria disputa de trafico, troca de tiros em via publica, coisas que nem foram investigadas, sem suspeitos e em alguns casos nem a vitima tinha sido identificada. Eramos uma equipe de 6, todos policias velhos, e eu nem tão velho assim com 4 anos de casa, e com experiencia de cidade pequena, com 1 homicídio por ano, tinha pela frente uma carga de inquéritos que daria uns 10 anos de trabalho na minha delegacia. Realmente fiz boas amizades, e depois do primeiro mês, iam trocar dois colegas, e viria um tal de Maças, que diziam ser especialista naquele tipo de caso, um sujeito fuçador diziam os colegas. O Maças era um véinho, baixinho e careca, que não botava medo em ninguém (com todo respeito), de fala mansa, inquieto e de risada fácil. Aquele era o famoso Maças. Gente buena como se diz no sul. Nos dias de trabalho junto com outros colegas aprendi muito, e ouvi muitas histórias, e principalmente observava o Maças, o que era impressionante como ver um truque de mágica. Eu e os colegas ficávamos admirados, ele com aquela fala mansa, chamando as mulheres de “vizinha”, falando em resolver uma “bronquinha”, tratando os piores crimes como coisa normal da vida. Ganhava a simpatia das vitimas, e por incrível que pareça até dos acusados. Acabava enrolando as criaturas, que acabavam falando, como que num passe de mágica. Coisa difícil nessa profissão é fazer alguém falar, ninguém tem medo de policia. Mentem na nossa fuça, com a maior cara de pau, e já que existem os direitos humanos, vai da perspicácia de cada um tirar o serviço da parte. E nisso o Maças era craque, não sei como, mas quase sempre ele conseguia o que queria. E dizia ele, olha nunca precisei bater em ninguém pra conseguir uma informação. Isso contrariando aqueles que acham que vagabundo só fala abaixo de pau. E assim foi um caso, em que um usuário de crack foi encontrado morto em casa, deitado no sofá com uma facada no peito. A mulher chamou a policia, e disse que encontrou ele assim. Caso antigo, de uns 7 anos atrás, varias pessoas foram ouvidas na época e não se chegou a lugar nenhum. E assim o Maças foi ouvindo a família da vitima, ouviu todo mundo, uns 10, disseram pouco saber além da versão da viúva, que a vitima estava em um bar, chegou esfaqueado em casa, e morreu no sofá. O Maçãs conseguiu identificar e ouvir uns 5 bebuns que estavam no bar no dia do crime, imagina tanto tempo depois, coisa difícil, fuçou e achou. Ouviu uma historia de que a filha de 4 anos do cara, tinha dito a uma da conselheira tutelar na época, que a mamãe fez dodói no papai. Bom ai ele já sabia, que a mulher que tinha matado o cara, mas como provar isso sem testemunhas? O testemunho de uma criança de 4 anos, não ia ajudar muito. Ele foi atrás da conselheira, que já estava, trabalhando em outro lugar, foi difícil achar, mas acabou confirmando a historia. Mas aí seria a palavra dela contra a da suspeita, pois improvável que a criança confirmasse a versão. O Maças então foi atrás da família da Marilu (suspeita). Ouviu a mãe dela que disse que também tinha ouvido aquela historia, e que a filha era coisa ruim, e até tinha posto fogo na casa com a filha dentro, pra que ela não contasse o que viu a polícia. Matou o marido e depois tentou matar a filha pondo fogo na casa, “uma santa essa Marilu. Mas claro que eram só boatos, nada concreto. Então o velho Maças foi dar sua ultima cartada, na verdade ele só tinha disque disque, ninguém viu o fato, apesar das circunstancia apontarem Marilu como autora, nada provava. Chamou a Marilu, uma negra retinta, com cara de espantalho, quando vi aquela mulher esperando no corredor até levei um susto. Toda pretinha, com os olhos arregalados e cabelo rastafari, uma figura marcante. Maças a chama pra oitiva: - Oi Vizinha, pode passa. E começa ele com aquele papinho mole, Marilu durona, dizendo não saber de nada. E assim ele foi. Vizinha eu sei que ele lhe batia, era usuário de crack, tinha varias passagens pela policia. E ela concorda, dizendo que ele lhe batia, xingava, batia nos filhos, não prestava. É vizinha eu sei dizia ele. A senhora deve ter sofrido muito na mão dele, mas naquele dia ele lhe bateu? Ela disse que sim: - Antes de sair para o bar ele me bateu. Bom... Vizinha então eu sei o que aconteceu, mas a senhora pode ficar tranquila, isso é coisa velha, não vai da em nada, só to lhe ouvindo pra arquiva o caso, a senhora pode fica despreocupada, não vai acontece nada com a senhora. E Marilu, parece se tranquilizar. Vizinha, sei que ele estava drogado, lhe bateu, a senhora foi se defender, e acabou acontecendo o pior, a senhora se apavorou e disse que ele tinha chegado ferido da rua, mas foi a senhora que meteu a faca nele não foi? A mulher arregalou aqueles grandes, naquela cara preta, e engoliu seco. Maças repetiu a conversa, e a mulher foi se abrindo, e por fim disse: - É ele me bateu, chegou em casa com a faca, em ameaço, e eu peguei a faca pra me defende e acabei acertando ele. No final satisfeito Maças da adeus a “vizinha” diz pra ficar tranquila, e que vá com deus. Ela sai da sala aliviada. Ele da risada, diz que sabia que era ela, e sentencia:- Essa vai pega uns 10 anos com certeza. Um golpe de sorte? Mas ser excepcional é fazer da sorte seu oficio. Esse fui um dos vários casos que tive o privilégio ver esse mestre solucionar, além de ouvir outros tantos contados por ele, e por colegas que o conhecem. Forte abraço, grande amigo.

FSantana
Enviado por FSantana em 10/08/2012
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