OS CINCO AMIGOS
OS CINCO AMIGOS
A idade deles varia de 18 a 24 anos. Dois são irmãos. Todos da classe média, moradores em Franca. Amigos desde a infância. Como todos jovens da idade, eram muito chegados no esporte, nas baladas, e outros divertimentos.
Rodrigo, um deles, de 22 anos, desde os tempos de escola primária possuía o péssimo costume de mexer nas coisas dos coleguinhas de classe. Uma vez era na lancheira, outra no estojo, ou nos próprios cadernos, sempre ele achava alguma coisa para se apoderar. Já com mais idade, no clube, procurava ficar sozinho nos vestiários, e quando assim se via, as roupas dos outros eram reviradas, à procura de dinheiro, ou de outro qualquer objeto de valor. Sem dúvida, era um caso de cleptomania.
A par disso, Rodrigo era um líder entre os amigos. Sua liderança se expressava em todas as manifestações. Perante as meninas, era o mais desejado, sendo assediado por inúmeras. Nos esportes se sobressaia, sendo o capitão do time de futebol. No de basquete seu principal jogador. Aliás, como é muito sabido, Franca sempre foi um grande centro do basquete masculino brasileiro. Os cinco amigos chegaram a participar das equipes de base do clube local, porém, mais pela estatura exigida, não progrediram no esporte.
- Rodrigo, como você conseguiu esse notebook?
A resposta para a mãe ou o pai sempre era evasiva.
Sempre aparecia com uma novidade. Ora um relógio, ora um tênis, só produtos de marca.
- Ganhei!
Franca, apesar de uma cidade de porte médio, tinha características bem interioranas. Não oferecia grandes opções de lazer para a mocidade.
Os outros componentes do grupo, os irmãos Ricardo e Alexandre, 22 e 20 anos, respectivamente, Rogério, 18 anos, o mais novo, e Marcelo 24 anos, todos sem grandes vícios, a não ser uma bebidinha nos fins de semana.
Insuflados por Rodrigo, conseguiram de seus pais, a compra de motos, e, formaram uma gang, que logo se tornou inimiga de outra, formada por jovens que se equivaliam em idade.
Essa rivalidade só contribuiu para transformar o grupo dos cinco amigos em não bem visto perante a sociedade francana, inclusive, serviu para os rapazes andarem as voltas com a polícia. Passaram a ser frequentes as desordens e brigas que as duas facções promoviam na cidade. Daí para entrar na trilha, vamos dizer, da marginalidade, foi um passo.
Liderado por Rodrigo, sempre ele, o quinteto que, apesar de tudo, era bem visto pelas meninas, começou a agir formando um verdadeiro bando de marginais.
Como todos possuíam atrativos de beleza, fácil para eles a conquista das garotas. Após adquirirem a confiança delas, e as iludirem com falsas promessas, começavam a frequentar suas residências. Os pais das moças aprovavam e até ficavam satisfeitos com o namoro, pois sabiam da boa procedência dos rapazes. Volta e meia o namorado era convidado para um almoço no domingo, ou um jantar. Tanto a menina quanto sua família estavam sendo conquistados.
Num descuido, o namorado conseguia uma chave da residência, e, geralmente, fazia uma cópia da mesma. Assim, passava despercebida sua falta. Algum tempo depois, quando surgia a oportunidade de uma viagem da família, deixando o lar completamente abandonado, aí entrava em ação a quadrilha. Eles invadiam a moradia da moça, levando objetos de valor, jóias, dinheiro, quadros, roupas, e tudo o que podiam transportar. Muitas vezes, o rapaz acompanhava a família nessas viagens, de modo que, jamais recaia sobre ele a suspeita do ato criminoso.
A ação dos marginais não se restringia apenas em Franca. Eles agiam em toda a região.
Os casos de assaltos foram aumentando, com um grande número de queixas feitas à polícia. Esta, então, iniciou as investigações. Um dos primeiros indícios, pois nada escapa da argúcia de investigador tarimbado, foi que, em todos os casos, sempre os assaltos aconteciam em casa onde havia uma jovem, geralmente bonita.
Um famoso detetive, de nome Marcondes, vindo da capital especialmente para tratar do caso, contratado pelas vítimas, atentando para esse fato, não teve dúvida. Pai de uma moça de 20 anos, bonita, atraente, orientou-a no sentido de se introduzir no meio de rapazes de sua idade.
Valéria, então, entrou na história. Mudou-se para Franca. Sem ser conhecida, pois morava em São Paulo, estudante da PUC, transferiu-se para a Faculdade de Direito de Franca. A ninguém confidenciou sua origem.
Primeiro, ficou sócia do clube da elite. Tornou-se ela a sensação do mesmo. Simpática, foi muito fácil granjear a amizade da mocidade frequentadora do clube. Depois, começou a ir aos bares, e outros lugares de divertimento noturno. Passou a ser muito assediada pelos jovens. Todavia, não se deixava levar pelos gracejos e investidas. Ganhou a amizade e confiança de todos.
Certo dia, foi convidada para um jantar na casa de uma colega, Mariana, que ia apresentar seu namorado aos pais. Então, conheceu Marcelo. Muito falante, além de bonito, impressionou Valéria. Conversaram muito. No fim, ele propôs uma saída, no final de semana, ocasião em que a apresentaria para um amigo. Assim, estariam em dois casais.
- Esse é o Rodrigo, o amigo de quem lhe falei.
- Ah! Muito prazer!
Sinceramente, ela não se simpatizou com Rodrigo. Algo nele não lhe agradava. Logo ele demonstrou ser prepotente, orgulhoso. Mas, aturou.
Entretanto, cismada, comentou com seu pai a respeito de Rodrigo. Marcondes, então, sugeriu que ela “desse corda” ao rapaz, aceitando um pedido de namoro.
Na realidade, Rodrigo se apaixonou por Valéria! Perdidamente!
Nesse ínterim, Marcelo funcionou como elemento principal, no assalto que o grupo efetuou durante a ausência da família de Mariana de sua residência, agindo de acordo com o modo usual, já conhecido. Ele não participou, efetivamente. Estava junto com a namorada. Rodrigo sim!
O namoro entre Valéria e Rodrigo progredia, porém, como ela morava em uma república, havia ele descartado, no caso, a ação criminosa. Mesmo porque, apaixonado, nem pensava em semelhante hipótese.
Resolveu, desse modo, que iria levar Valéria em sua casa, num jantar de apresentação para seus pais. Resolveu, também, convidar Mariana e Marcelo.
Durante a reunião, antes de iniciar o jantar, sentados todos na sala de visitas, eis que Mariana vê um objeto na cristaleira, que a deixou intrigada. Uma estatueta idêntica à que sua mãe trouxera da Itália, na primeira vez em que ela havia viajado para a Europa. Quando sua mãe a comprou, o artista plástico autor da obra, disse-lhe que era a única, não havendo cópias da mesma. Com toda certeza, aquela era a que havia sumido, no assalto em sua casa.
Mariana, quando ficaram a sós, relatou o fato a Valéria!
Dias depois, o jornal de Franca anunciava em letras garrafais:
“DESCOBERTA QUADRILHA QUE AGIA NA REGIÃO, FORMADA POR RAPAZES DA ELITE FRANCANA”!